quinta-feira, 21 de maio de 2020

Um drama regionalista gaúcho no século XIX


"Os gauchos

A sociedade particular Filhos de Thalia exhibiu ante-hontem, pela primeira vez, a comedia-drama de costumes rio-grandenses, em 3 actos e denominada Os gauchos, ultima producção do sr. Damasceno Vieira.

Até o 2o. acto, a peça é toleravel; no 3o., cáe redondamente, ficando reduzida a pouco mais do que um montão de expressões agauchadas, cantares a desafio e toques de viola.

O capataz da estancia em que se desenvolve a acção, a principio bello typo de gaucho franco e cheio de aspirações, com o qual o espectador sympathisa desde logo, desapparece bruscamente do entrecho da peça, feiamente bigodeado por um engenheiro nortista, muito immoral, que intercepta lhe os amores simples e sadios, com a prima, a quem seduz e deshonra.

É preciso convir que aquelles gauchos (de cujo numero faz parte o Agache, um idiota das ruas de Porto Alegre...) são muito atoleimados; ao contrario não lhes passariam desapercebidas as estradeirices de um don Juan que, pretextando medir a fazenda, aboleta-se n'ella com o fim preconcebido de conquistar, com a maior indignidade, a noiva do capataz, o que consegue, embuçalando a hospitaleira gente.

A filha do estancieiro, no 3o. acto, é uma mulher psychicamente indefinivel: sabedora de que o seu seductor é um libertino, que tem compromisso de casamento com outra, repelle-o energica e nobremente, para, momentos depois, acceital-o por marido...

Emfim, ainda não se póde fazer, uma apreciação definitiva d'Os gauchos; a peça foi representada pela 1a. vez, e ainda não está impressa.

Terminada a exhibição, o sr. Damasceno Vieira foi chamado á scena e applaudido, recebendo palmas e dois ramalhetes de flores, offertados, um pelos Filhos de Thalia, e outro por um seu irmão."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 17 de Agosto de 1891, pág. 01, col. 06

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