sábado, 23 de junho de 2018

Execução em Pelotas


"RIO GRANDE DO SUL
Rio-Grande, 28 de julho de 1847.

Execução dos tres réos sentenciados pelo jury da cidade de Pelotas, em sessão de 23 de março do corrente anno, pelo horroroso crime commettido a bordo do hiate brasileiro - Quibebe.

Na manhã de 22 do corrente mez o sino da matriz de S. Francisco de Paula, chamava a attenção do publico desta cidade a presenciar um acto exemplar da justiça.

Em um dos logares da cadeia se havia erigido o altar, aonde se achava exposta a imagem do Salvador, allumiada por quatro velas, e os réos condemnados á morte, Salvador, Bento e João, recebião as consolações religiosas na hora derradeira.

Os reverendos padres João Baptista Domingues, Pedro Puritany, Antonio Augusto da Assumpção e Souza, Manuel da Silva Lima e João Calisto, forão incansaveis em exortar os infelizes no seu derradeiro dia.

Serião 11 horas pouco mais ou menos, quando chegou a irmandade da misericordia para acompanhar os padecentes, e encontrou o Dr. Juiz municipal Amaro José d'Avila da Silveira, seguido do escrivão Francisco José Ferreira Lagôas, e officiaes de justiça e pregoeiro, e igualmente uma força  de 50 soldados do 8o. batalhão de caçadores, e 20 homens da policia, que postados esperavão para acompanhar os padecentes ao logar da sua execução.

Apenas se approximarão os irmãos da misericordia, os reverendos sacerdotes disserão aos réos que era chegada a hora em que devião marchar, afim de se cumprir a sentença que os condemnava a padecer: que se armassem de uma forte resignação para receberem o golpe fatal, e salvarem sua alma; um dos infelizes derramou copiosas lagrimas e os outros consternados, se entregarão nas mãos dos seus confessores.

Sahio o prestito funebre, e percorreo a rua chamada do Poço, seguindo a da Igreja.

A campa da agonia annunciava o transito dos desgraçados e os corações sensíveis se compungião ao vel-os caminhar ao supplicio.

De espaço em espaço o pregoeiro lia em voz alta a sentença do jury que os havia condemnado a morte.

Chegarão á igreja matriz na occasião em que se dizia a missa do dia, e ali de joelhos encommendarão sua alma a Deos.

Apenas tocou a Santos o prestito seguio ao logar chamado da Luz aonde, ao lado direito do cemiterio, se havia levantado a forca.

Mais de mil pessoas de todos os sexos e idades atulhavão a longa campina, e com um silencio funebre, e de um aspecto reverente observarão attentamente o cumprimento da lei.

O primeiro dos réos executados foi o preto João, que por incuria ou negligencia do carrasco, depois de com elle executar as operações usadas em similhantes casos, passou ao segundo, e logo que acabou deste, o primeiro fez alguns movimentos dando signaes de vida, tendo por isso de ser levado novamente a padecer, ficando pendurado até que se executasse o terceiro.

Não houve a pratica costumada em taes actos, feita pelo sacerdote disso encarregado, em consequencia do muito vento que fazia, e nada se poder ouvir.

A uma hora estava concluido.

Possa este exemplo servir de correcção aos malfeitores, e affastar da sociedade os crimes horroroso: a lei em taes actos faz estremecer os homens, porém a justiça cumpre um dever, punindo o deliquente, e a humanidade exulta, vendo punido o crime do agressor. 

(Do Rio-Grandense)."

Fonte:  O MERCANTIL (RJ), 31 de Agosto de 1847, p.01, c.03-04


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