segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Cavalo Crioulo

 



O veterinário e criador Gilberto Loureiro de Souza, que convive com esta raça desde que se entende por gente - a criação de cavalos crioulos é tradição de sua família -, não tem dúvidas em afirmar que foi essa seleção natural que primeiro deu estrutura ao cavalo crioulo, até hoje criado com simplicidade nas fazendas, conservando as características de resistência ao trabalho, rusticidade e longevidade. Superintendente de registro da ABCCC - portanto um grande especialista da raça -, Gilberto conta que ganhou uma prova montando um animal de 18 anos de idade. A prova foi dividida em duas etapas: na primeira, foram percorridos 65 km; na segunda, mais 45 km. Esta segunda etapa foi percorrida em uma hora e quarenta minutos, com o animal carregando, entre cavaleiro e arreios, um total de 113 quilos. As provas atuais confirmam esta característica: entre os ganhadores do Freio de Ouro, estão cavalos com mais de dez anos de idade.

Desenvolvimento maior a partir da década de 70

Paulo Gomes Móglia - criador e ex-presidente da ABCCC -, em editorial para a revista Raça Crioula, relata que a associação da raça foi criada em 1932, na cidade de Bagé, com o nome de Associação Riograndense de Criadores de Cavalo Crioulo a qual, a partir de 1984, passou a ser conhecida como Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos. No mesmo texto, ele registra que o desenvolvimento da raça passou a ser maior a partir de 1970. "Em 1978, na cidade de Jaguarão, tiveram origem as provas funcionais. Em 1981, foi oficializada a prova Freio de Ouro e, em 1986, as provas de Paleteada e de Tiro ao Laço. "No ano passado, os rodeios entraram oficialmente para o calendário do cavalo crioulo.

Para Gilberto, essas provas funcionais estão valorizando o que há de melhor na raça. Ele explica que antes, nas exposições, o cavalo era avaliado apenas pela morfologia, ou seja, por seu aspecto exterior. A partir das provas para classificação funcional, o cavalo passou a ter seu desempenho avaliado quanto à submissão, capacidade de aprendizado, equilíbrio, velocidade, potência, coragem, aptidão para a lida com o gado e resistência, além da morfologia.

Cavalos são tratados apenas a pasto e água

Outra prova que serve para frisar as características da raça, é a Marcha Internacional de Resistência, realizada num percurso de 750 km, feita em 15 dias, com cavalos tratados apenas a pasto e água.

O criador Ronald Bertagnolle - um dos proprietários da Cabanha Butiá, muito premiada em Esteio também pelas criações de jersey e ovinos suffolk - pensa da mesma forma. Ele diz que seus cavalos podem perder em beleza, mas disputam as provas de eficiência com os melhores da raça. Sua coleção de vitórias não é pequena: freios de bronze, freios de prata e dois freios de ouro - com destaque para o de 1994, que teve uma inovação: o ginete que montou BT Butiá foi Marcelo Bertagnolle, filho de Ronald, mudando a tradição porque, normalmente são os peões - ou ginetes - que disputam as provas, não os proprietários. Marcelo é o exemplo de um conceito diferente, em que o proprietário participa da prova. Foi por isso que, montando Jaguar e Leopardo, já faturou o primeiro lugar em cinco rodeios, que lhe renderam cinco carros. Ronald destaca dois nomes que muito o ajudaram a orientar a criação: Gilberto Loureiro de Souza e Flávio Bastos Telechea (já falecido). Bastos Telechea - BT - é prefixo de destaque na raça. Basta ver a resenha dos ganhadores do Freio de Ouro. Das 16 provas realizadas, a metade foi vencida por cavalos BT.

A criação de cavalos tem sempre figuras lendárias. Podem ser homens, podem ser cavalos, podem ser os dois. O sufixo BT, da Cabanha Paineiras, dos sucessores de Flávio Bastos Telechea, teve também o grande cavalo da raça, que foi La Invernada Hornero, ou simplesmente Hornero, nome que os criadores pronunciam com um misto de devoção e admiração. Este animal morreu no ano passado, com 25 anos de idade.

Registro para pequenos criadores

Na montaria, o anuário da ABCCC, aponta como mestre dos mestres Wilson Charlat dos Santos, de 63 anos de idade. Ano passado, ele recebeu o prêmio Ginete do Ano, que destaca o brilho de alguns ginetes. É dele o 1o. Centro de Treinamento da Raça Crioula, localizado em Bagé, que abriga garanhões e éguas de criatórios famosos. Wilson foi o primeiro ganhador do Freio de Ouro, montando o cavalo Itaí Tumpambaé, em 1982. Ao todo, ganhou cinco Freios de Ouro. Ganhou mais dois de prata e três de bronze.

O atual presidente da ABCCC, José de Queiróz Marim Teixeira, cria cavalos crioulos há 16 anos. No anuário de ABCCC, ele destaca a importância da participação de todos, inclusive das famílias, na realização das provas. Afirma também que a abertura de registro para proprietários de pequenos rebanhos é um movimento que revitaliza e expande a raça, explicando que são "profissionais liberais e as pessoas das grandes cidades que estão se voltando para a natureza, para o campo e o cavalo representa muito bem essa volta. A estabilidade da moeda, os hotéis-fazendas, centros de treinamentos e clubes equestres facilitaram as coisas para aquele novo criador, que sempre desejou ter um cavalo crioulo mas que, muitas vezes, não tinha local para criá-lo. Hoje, além de poder ter seu cavalo, ele participa de competições, monta com a sua família e até torce por cavalos de sua propriedade, que estão sendo preparados para competir nas mais diversas modalidades de provas existentes".

Exemplo desse novo integrantes da ABCCC é o criador João Antônio Dumocel, de Santa Bárbara do Sul. Ele comprou um único cavalo - BT Inteiro do Junco - em 1992, ainda xucro. No ano passado, montado pelo ginete Laurindo Afonso, o animal de pelagem gateada sagrou-se campeão do Freio de Ouro - o terceiro de Laurino. Resultado: o cavalo foi vendido por R$ 110 mil.

A informação é de Ronald Bertagnolle: Butiá Haragano, em competição com cavalos de outras raças, sagrou-se campeão em competição da Associação Brasileira de Cavalos de Rédeas, como Potro do Futuro, surpreendendo os criadores paulistas. Nessa prova, predominam cavalos quarto-de-milha.

Fonte: MANCHETE RURAL (Rio de Janeiro/RJ), Ano XI, número 135, setembro de 1998, pág. 46-50

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