Em Bagé
Vellorio funesto
Relata o Dever:
Á rua Marcilio Dias, sob n. 40, existe o cortiço, muito conhecido pela denominação de Curralão, onde a atmosphera nem sempre é calma.
No dia 30 do mez findo, sabbado ultimo, fallecera ali depois de longa enfermidade, a mulher de nome Maria José Garcia.
Á noite, prestando os ultimos cuidados aos despojos da morta, achava-se uma grande comitiva composta de mulheres de vida facil, praças dos diversos corpos do exercito, aqui estacionados , e alguns civis.
O vellorio corria bem, ou melhor, transformara-se em festa, pois os assistentes com o decorrer da noite, entre libações, estabeleceram o jogo das prendas em que todos logo tomaram parte, animadamente.
Os premios eram pagos a bolos.
Ás 2 horas da madrugada, o corneteiro do 4o. batalhão de infantaria Apparicio Hermes dos Santos, recusou pagar prenda, por um desaso que tivera no jogo.
O diretor do divertimento era o musico do 4o. regimento de artilharia Victorino Leão, que em virtude da recusa do companheiro de armas, travou com este acalorada discussão, de que resultou ambos lançarem mãos das armas que carregavam.
O corneteiro Hermes empunhando um sabre investiu contra o seu contendor, declarando que lhe ia fazer o que já fizerá a tres outros, matal-o.
O musico Victorino que se achava armado de revolver defendeu-se, desfechando no aggressor dois tiros que o prostaram morto, quasi instantaneamente.
E... ali ficou fazendo pendant a um cadaver, outro cadaver.
Commettido o crime, o assassino fugou, sendo porém mais tarde preso nos arredores desta cidade, em virtude das providencias tomadas pelas respectivas auctoridades e acha-se recolhido ao xadrez do quartel do 4o. regimento.
O corpo assassinado foi pela manhã recolhido á enfermaria militar.
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 08 de Janeiro de 1906, pág. 01, col. 07