quarta-feira, 28 de junho de 2006

Estação da Praça João Gomes

Louvável e elogiável o que o poder público municipal fez na Estação Ferroviária da Praça João Gomes. A recuperação do prédio e a transferência para lá da Biblioteca Municipal são ações positivas. Visitei recentemente o local, fui muito bem recebido pela atendente e pude constatar que a parte interna, se não corresponde necessariamente o que era a estação, pelo menos foi muito bem reformada. O forro e o piso são novos. Parabéns aos seus realizadores e, espero, que a comunidade possa ajudar de alguma forma no desenvolvimento daquele local como espaço cultural. Boas iniciativas têm que serem reconhecidas!

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Capão do Leão em 1910 - Parte 2

Trecho complementar extraído de A Opinião Pública de 03 de fevereiro de 1910, página 1, colunas 1-2. São informações importantíssimas:
O municipio de Pelotas
Sua prosperidade e riqueza
Capítulo VIII

Dentro do perimetro do povoado do Capão do Leão, segundo estatística organizada pelo capitão Guilherme Bormann, existem 189 habitações, das quaes 93 são cazas de material cobertas de telha em sua grande maioria vivenda, elegantes, confortaveis, de solida construcção possuindo junto jardins caprichosos e pomares bem cuidados, e 96 casas de taipa, cobertas de capim e telha de zinco.
As emprezas telephonicas Sul Rio-Grandense e União têm centros ali, com 33 assignantes effectivos.
A população fixa no logar, de residencia permanente, compõe-se de 709 pessôas, contando-se nesse número 234 homens, 192 mulheres e 283 crianças de edade inferior a 15 annos.
A mortalidade media tem sido de 2 pessoas por anno.
O capitão Bormann, guiando-se por um thermometro Reaumur, de que desde annos consigna observações diarias da temperatura local, tem registrado como minima no verão 18 graus; media 22 graus e maxima 36 graus; no inverno minima 2 graus abaixo de zero, media 10 graus e máxima 36 graus.
Existe uma aula publica estadual para meninos e meninas com frequencia mensal de 52 alumnos e uma particular com 8 alumnos.
Acha-se ahi localisado o 5. posto da policia administrativa, com um commisario, um ajudante, um auxiliar e o effectivo de seis praças.
Na principal avenida do povoado foi erecta uma capella, sob a invocação de Santa Tecla, dependente da parochia da cidade, e encontra-se em outra avenida um templo maçonico.
De 6 pedreiras existentes, acham-se 4 em exploração, dando serviço a 48 canteiros, que preparam a pedra bruta, o parallelepipedo, o moirão, a soleira, a cantaria, desde o trabalho commum ao ponteado fino.
Nas casas de commercio contam-se 4 de seccos, molhados, fumos e bebidas, 4 outras que com generos da mesma natureza possúem sortimento de fazendas, ferragens, louças, chapéos e calçado, 1 depósito de madeiras, 2 de cal, 5 de lenha, carvão e ovos, 1 oleria, 1 barbearia, 1 padaria, 2 açougues, 1 tambo*, 1 tamancaria, 1 officina de mechanica, 1 hotel, 1 casa de café, 1 pharmacia e 1 gabinete dentario.
Sobre o curso superior do mesmo arroio S.Thomé, em varzedos de fácil irrigação, encontram-se as plantações de arroz dos Srs. Dr. José Brusque e Delphim da Silva, collocadas á margem direita, e a do tenente-coronel José Luiz Brisolara á esquerda.
É, pois, o Capão do Leão um dos mais decisivos factores do progresso pelotense, viveiro futuroso da produção e de riqueza.
(...)
*Tambo: muito provavelmente leitaria, segundo o Novo Dicionário Enciclopédico Brasileiro.

sexta-feira, 16 de junho de 2006

Capão do Leão em 1910 - Parte I

Trecho transcrito de A Opinião Pública, de 02 de fevereiro de 1910, página 1:


O Municipio de Pelotas
Sua prosperidade e sua riqueza
Capítulo VII
Na zona occupada pelas campinas acham-se situados os dois mais importantes povoados, que, além, da cidade, conta o municipio: o do Areal e o do Capão do Leão. E o Areal, sede do 2. distrito, estende-se ao longo da estrada Domingos de Almeida, e a pequena distancia damargem esquerda do Arroio Pelotas, que por occasião das grandes enchentes, abandonando o leito, costuma alagar o povoado.
(...)
O Capão do Leão desenvolve-se entre os serros do Padre Doutor e das Pedreiras, até a estrada da Palma, e prolonga-se entre as divisas dos campos de José Maria da Cunha e Luiz Nunes Baptista e o arroio São Thomé, até á ponte da Estrada de Ferro sobre esse arroio, próximo á estação Theodósio.
Na vasta área de que se apoderou pullulam as vivendas de recreio dos moradores da cidade.
Para a sua prosperidade, sempre crescente, muito contribùe a facilidade de transportes offerecida pela Estrada de Ferro com duas estações, que servem ao movimento no verão já avultado, de veranistas, e ao commercio de importação de generos de consumo e de materiaes, que o logar não produz, e á expedição de pedra para calçamento de ruas e obras de edificação das cidades de Pelotas e Rio Grande e remessa de lenha, aves, fructas e productos da lavoura para a cidade do Rio Grande.
Segundo dados colligidos pelo capitão Guilherme Bormann, são pela estação do Capão do Leão mensalmente expadidos para as duas cidades, de que ella é fornecedora, pouco mais ou menos... 800.000 kilos de pedra partida e de cantaria, 60.000 de tijolos, 200.000 de lenha, 10.000 de carvão e 5.000 telhas de barro.
Pela mesma estação o commercio local expede para o Rio Grande em média mensal 450.000 Kilos de milho, feijão, batatas, alfafa, fumo, ovos, aves, manteiga, carne de porco, cevada, farinha de milho e outros productos da colonia de Santo Amaro, que para aquella localidade se dirigem.
Com o movimento medio de 1.525.000 kilos por mez occupa aquella estação na linha do Rio Grande a Bagé o 4. logar.
Duranta a safra avalia-se em 820.000 kilos o peso de laranjas expedidas para o Rio Grande, sendo 440.000 kilos de laranja commum e 380.000 kilos da de umbigo.
Extensa facha de magro campo, em que se alimentava outr'ora escassa população bovina, cobre-se hoje de numerosas chacaras, em que o trabalho do homem, fecundando a terra, obtém recursos á subsistência de numerosas famílias. A pomicultura ahi elegeu campo de acção feliz. Chacaras cuidadas e productivas promettem recompensar o suor nellas derramado, apesar de ser neste clima difficil manter a escala productiva do solo, sem recompensal-o com os beneficios da irrigação, que é o fertilizador por excellencia em regiões que possúem com a nossa estação secca implacavel.
A irrigação creou nos areiaes da Africa Septentrional oasis fecundos, fez de toda a Lombardia uma como que proverbial cornucopia de abundancia.
Com irrigação e adubos não ha terra esteril; nenhuma se mostra ingrata aos cuidados de que é objecto.
A cultura dos campos, em feliz inicio com a cultura do arroz, como uma necessidade da nossa evolução economica, impõe-se, e ha de estender-se, quando dispúzer de irrigação e adubos. Mesmo á mercê do céo, que na estação calmosa nega por vezes os beneficios da chuva á terra que, se fende, essa área, sujeita hoje á exploração diversa de sua applicacção passada, deixa aos seus actuaes possuidores mais beneficios do que ao antigo proprietário unico produzia, quando entregue á simples criação, e são innumeraveis as vantagens decorrentes desse facto para o Estado, o Municipio e o commercio, que tambem vieram aproveitar da criação de um novo centro de consumo e trabalho intenso.
A produção de morangos que sóbra da procura para o consummo immediato alimenta remunerador commercio com fabricas do Rio Grande, que os expedem para o Norte, sob a forma de geléas e compotas apreciadas e com procura.
Alguns moradores do logar, mesmo em pequena escala, ensaiam o preparo dessas e de outras fructas que abundam, e que, seccas em estufas ou ao sol, ou postas em calda, vão abrindo mercado e se impondo ao consumo nacional.
O pecego, a pêra, o marmello, a maçã, o figo, a ameixa, o kaki e até a cereja de acclimatação recente, que têm annos de abundancia extrema, em vez de ficar perdido o excesso, começa a ter escouradouro util, com applicaões variadas.
Se a pomicultura está destinada a desenvolver no Estado commercio de alguma monta, já está se constituindo no Capão do Leão um centro de produção abundante e esmerada [grifo meu], que só do sucesso espera mais alta animação para mais aperfeiçoar o cultivo e tornar-se sufficiente a todas as exigencias do consumo, pondo o limite da capacidade productiva ao nivel das necessidades da procura.
Com regular sahida de seus productos, existem duas fabricas de vinho, compotas e frutas seccas, tendo uma dellas concorrido já a diversas exposições, em que conquistou premios honrosos e animadores. O maior desenvolvimento dessas industrias, a cujo abastecimento procuram fornecer materia prima cada vez mais aperfeiçoada, depende da remoção de embaraços que a difficultam e oneram nas suas dependencias auxiliares, que as vêm tornar menos remuneradoras ao productor.
As videiras, que são ainda em geral da variedade Izabella, a que se vão juntando nos vinhedos outras americanas, como Cunningham, Herbemont Concorel, Jacques, Othelo, Goethe, emquanto ensaiam a cultura de variedades européas recommendaveis, são cultivadas em larga escala e crescente escala, convenientemente adubadas e tratadas com preceito.
Viticultores estudiosos e já experimentados, dotados de criterio e observação, animados tambem de espirito progressista, procuram com empenho melhorar cada vez mais o cultivo, aperfeiçoar a producção, experimentando novas castas, não esquecendo, como tratamento preventivo das molestias cryptogamicas, fazerem applicação nas épocas determinadas de pulverisações de sulfato de cobre, sempre uteis no nosso clima de primavera inconstante, em que as chuvas demoradas succedem sempre os ventos proprios da estação, que pejam a atmosphera de humidade prejudicial á brotação sadia e á florescencia fecunda da videira, que prefere um ar secco, batido de sol, tepido, reconfortante.
De Washington a vinha Izabella, encontrada na Carolina do Sul, é introduzida em Brooklin por Izabella Gibbs, tendo adquirido logo muito voga em New York, com aperfeiçoamento que era em relação a outras conhecidas então, e foi introduzida antes de 1870 na Ilha dos Marinheiros, onde propagou se e constitui centro de irradiação para todo o Brazil Meridional. Ella constitúe hoje a base da vinicultura rio-grandense: quasi que exclusivamente della é o vinho que se fabrica.
No Capão do Leão, além do obtido para consumo privado, por ser produzido em escala diminuta, provindo de pequenos vinhedos, duas plantações maiores se entregam á exploração industrial e conseguiram na ultima safra produzir trinta pipas.
A cultura da videira, apezar de só poder ali dispôr de terrenos de muito limitada área e de fertilidade escassa, com o recurso de correctivos e adubos, tende a se estender, avançando para as terras que vão sendo arroteadas e postas aos poucos em utilisação horticola, como as diminutas dimensões dos lotes o permittem, e por isso dados a cultura intensiva que procura tirar pela força do trabalho methodico e intelligente, de restricto espaço a maior somma de productos possivel.
O fato curioso deste trecho que encontrei é o fato de, comprovando que Capão do Leão era um importante centro da fruticultura na zona sul, entre as várias culturas agrícolas aqui cultivadas, não encontrar-se a fruta que é considerada símbolo do município: a melancia.

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Histórias Curiosas II

Outro fato curioso também aconteceu no Palácio Piratini, em Porto Alegre, com um personagem conhecido da política leonense. Indo tratar de assuntos de importância para o município, um dignatário notável da prefeitura foi de carro até lá, para ter uma audiência com o governador. Saiu cedo e chegou cedo, no horário marcado. Apresentou-se e foi conduzido até uma sala para esperar. Tomou um, dois cafezinhos... e esperou. Esperou, esperou e esperou, levando um belo "chá de sofá". Indignado, observava que várias pessoas iam e viam da sala do governador. Ele, ao contrário, não conseguia ser recebido. Em certo momento, ele explodiu. Notou que um "rapazote" que recém chegara ao palácio, simplesmente entrou bruscamente corredores adentro e chegou até o governador. O nobre leonense não deixou por menos e quis chamá-lo, o que não surtiu efeito. Com muita raiva, reclamou com a secretária o fato de várias pessoas durante aquela manhã, terem-lhe "atravessado a frente", sobretudo, aquele "rapazote" que chegara aos trancos. A secretária tentando acalmá-lo, explicou que o governador estava num dia difícil, com muitos compromissos e problemas, mas com certeza iria recebê-lo. O nobre leonense meio que entendeu as justificativas, mas insistiu:
- E aquele moço que entrou correndo, sem passar por ninguém e foi direto à sala do governador. O que é isso?! Falta de respeito!
- Não, meu senhor. Ele deve ter algo de urgente para tratar com o governador e, além do que, ele veio de Brasília. - explicou a secretária.
- Pô, mas peraí! Eu vim de Monza lá do Capão do Leão, demorei três horas e ele só por que veio de Brasília é recebido primeiro?!
*A história é verdadeira, referendada por uma pessoa que estava com esta figura no dia, hora e local citados. Quem não compreendeu, saiba que a Brasília que ele entendeu foi o carro de mesmo nome.

Histórias Curiosas I

Época do governo Collares no Estado, saiu de Capão do Leão comitiva de secretários, vereadores e assessores para audiência com o governador no Palácio Piratini, em Porto Alegre. Iam tratar de diversos assuntos: repasse de verbas, melhorias em obras, água, etc. Cedo da manhã estavam todos lá, vestidos a caráter, terno e gravata. Como essas audiências não costumam acontecer no horário previsto, todos já sabiam que teriam que esperar Sua Excelência chegar e depois recebê-los. Pois bem, para não ficar muito tempo sem fazer nada e cansar de esperar, normalmente o cerimonial do Palácio Piratini procura recepcionar bem os visitantes. No caso deste dia, um funcionário convidou a comitiva a passar a uma sala interna, onde pudessem sentar e aguardar. Neste momento, as "moças do cafezinho" perguntam se ninguém quer alguma coisa: um chá, um café, água mineral, etc. Bem, o pessoal da comitiva não se fez de rogado diante da gentileza e a maioria solicitou alguma coisa para beber. Servindo um a um, uma das moças pergunta, a quem quer café, se prefere o café amargo, com açúcar ou adoçante. Nisto chega a um conhecido vereador leonense:
- O senhor gostaria de café ou chá?
- Café, por favor! - responde o edil.
- Com açúcar, adoçante ou sem nada?
- Adoçante, por favor.
- O senhor é diabético?
Após meio minuto de silêncio, acreditando que a moça o confundira com outra pessoa, o nobre vereador responde:
- Não, sou vereador do Capão do Leão!

terça-feira, 6 de junho de 2006

Requerimento a Dom João VI

O fato mais notável deste documento é sua data e sua menção a Capão do Leão. De todas as fontes que pesquisei, é o registro mais antigo sobre Capão do Leão, no caso, o nome. Sua importância reside em apontar indícios que a Localidade já "era" no século XIX e não teria surgido durante este período, mas no século anterior (século XVIII). Como as informações são escassas, o que coloquei anteriormente é uma suposição.
Abaixo a transcrição do documento que data de 12 de outubro de 1809 e que, trata do pedido da criação de uma freguesia à margem ocidental do Sangradouro da Mirim (canal São Gonçalo). No caso, sem mistérios, é o pedido que marcará o surgimento da Freguesia de São Francisco de Paula (atual município de Pelotas).

" (...) os moradores da freguesia de São Pedro do Rio Grande do Sul que vivem do lado setentrional do sangradouro da lagoa Mirim, representam à V.A.R. que experimentam um grave incômodo pela dificuldade da passagem do dito sangradouro, e condução dos efeitos que produz aquelas extensas campanhas por muitos pantanos que há de um e de outro lado do caudaloso sangradouro e ainda para receberem os sacramentos na sua matriz por se estender a freguesia por mais de cincoenta léguas tudo povoado de inumerável povo, e muitas fazendas de toda a espécie de gado e lavouras, que progressivamente vão multiplicando (...) havendo V.A.R. por bem mandar erigir uma freguesia na costa de lagoa denominada dos Patos, no lugar chamado Capão do Leão da fazenda de Pelotas (...)."

In: Documento do Arquivo Nacional datado de 12 de outubro de 1809 (Cópia do original), reproduzido por: MOREIRA, Angelo Pires. Pelotas na Tarca do Tempo (primeiros tempos e freguesia). Pelotas: s/ed., 1989, volume II, pp. 46-47; citado e reproduzido: ARRIADA, Eduardo. Pelotas: Gênese e Desenvolvimento Urbano. Pelotas: Armazém Literário, 1994, p. 87
Convém esclarecer que:
* Na época, o príncipe-regente de Portugal, Dom João VI, estava no Brasil desde 1808 e, aqui permaneceu até 1820, por isso V.A.R., quer dizer "Vossa Alteza Real".
* O fato de solicitar a instalação da freguesia no Capão do Leão, muito provavelmente explica-se pela existência da capela de Sant'Ana nas terras do Padre Doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita. Freguesia é uma comunidade atendida por um padre permanentemente e que possui um templo religioso na própria área.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Monumentos da I e II Guerras Mundiais

Entrevistando recentemente o Sr. Jalcy Azambuja, morador antigo de Capão do Leão, ele informou de um fato curioso que foi a comemoração da rendição da Alemanha na II Guerra Mundial em 1945, que conforme diz: "foi uma enorme festa". Ele narrou alguns detalhes desta comemoração em Capão do Leão, contou que houve um grande número de pessoas na vila àquela época - cerca de quatro mil -, mais um grande churrasco, etc. História semelhante já tinha ouvido entrevistando outra moradora antiga, a Sra. Irene Teixeira. Procurei informar-me mais a respeito e consultei o Diário Popular daquela época. Esclarecendo que o fato da rendição da Alemanha na II Guerra deu-se em maio de 1945, neste período concentrei minha verificação. E, surpreendentemente, encontrei informações que não só comprovavam o acontecido, como também acrescentavam coisas que nem sabia ou podia imaginar. Veja só: Capão do Leão possuía (ou ainda possui?) monumentos entalhados em granito alusivos as vitórias aliadas nas I e II guerras mundiais. Inclusive na edição do jornal que consultei (13-05-1945), há uma foto que mostra o monumento referente à I Guerra. Pelas informações que a reportagem exibe, sou levado a crer que um dos monumentos - o alusivo à II Guerra Mundial - seja o marco da atual Praça João Gomes. Não posso, todavia, comprovar essa suposição. Mas que as informações levam a crer, sim.
Abaixo a reportagem do Diário Popular, de 13 de maio de 1945:
Imortalizados no Granito os feitos heróicos
dos Soldados da Liberdade
Talvez não seja do conhecimento de grande parte da população de Pelotas que, na Pedreira Municipal situada na Vila de Capão do Leão existe um rústico, mas imponente monumento que ali foi colocado no ano de 1919, assinalando a vitória aliada sôbre a Alemanha na guerra passada. Num lugar alto, de onde se descortina uma belíssima paisagem, que mais se parece com uma pintura alegórica, sôbre uma pedra bruta e milenária, ergue-se um marco de granito de três metros de altura ostentando a seguinte inscrição: "Glória aos Aliados - Honra ao Brasil". Já naquele ano, a nossa gente não sabia esquecer e não podia deixar de assinalar um acontecimento universal de tanta significação para a história da humanidade e que parecia determinar o ponto inicial de uma era de paz e felicidade entre os homens. Talvez morador daquele minúsculo torrão do Brasil, sr. João Vieira Mendes que foi o patrono dessa brilahnte idéia, não calculasse que, dentro de tão poucos anos novamente a humanidade seria envolvida numa calamidade de tão grandes proporções; que novas lágrimas iriam ser derramadas e que novos sofrimentos fôssem pertubar a paz e a tranqüilidade de milhões de lares espalhados pelo mundo.
Foi, inegavelmente, uma forma singular mais expressiva que o povo do Capão do Leão encontrou para registrar a vitória aliada de 1918. UM NOVO MARCO SERÁ COLOCADO, HOJE, NA PRAÇA DO CAPÃO DO LEÃO.
Afim de assistir os trabalhos preparatórios da grande festa que será realizada, hoje, na vila de Capão do Leão em regosijo á rendição incondicional da Alemanha, comparecemos ontem áquela localidade. Pelo que nos foi possível constatar no lapso de tempo que ali permanecemos, essa realização que terá início dentro de poucas horas, será a maior até hoje levada a efeito no interior do município de Pelotas.
Na companhia de funcionários da Pedreira Municipal, atualmente arrendada pelo sr. Eduardo Traverssi Filho, estivemos no local em que está colocado o monumento comemorativo á vitória de 1918, onde tiramos uma das fotografias que ilustram a presente reportagem. Na mesma ocasião foi nos possível assistir parte do trabalho de elaboração de um outro marco de granito que hoje será inaugurado num logradouro público situado no centro da Vila.
Soubemos, por intermédio das pessoas que nos acompanharam, que momentos depois da divulgação da sensacional notícia da rendição incondicional da Alemanha, foi dado início á construção dêsse monumento que ali ficará erguido, assinalando a vitória das Nações Unidas e a glorificação dos nossos patrícios que derramaram seu sangue nos campos da Europa, em defesa do nome sagrado do Brasil.
Moro há dezessete anos no Capão do Leão e jamais tinha ouvido falar a respeito destes dois monumentos. O primeiro, que o jornalista da época afirma ter cerca de três metros, é espantoso!
Gostaria de ter mais informações, caso alguém saiba. Quanto as comemorações da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial, ocorreram mais fatos relevantes na época: além do churrasco que falei no início, missa campal, discursos, banda da Brigada Militar, presença do prefeito de Pelotas, desfiles escolares, etc. Inclusive choveu aquele dia, fato que, segundo o jornalista da época, não desmereceu a festa.
Abaixo transcrevo a reportagem complementar do Diário Popular, de 15 de maio de 1945:
Coroada de êxito
a Festa da Vitória
no Capão do Leão
Conforme amplamente noticiamos em nossa última edição, teve lugar domingo último, na vila de Capão do Leão, em nosso município, uma imponente festividade cívica em regozijo á rendição incondicional da Alemanha.
Como se previra, uma grande multidão afluiu áquela localidade, participando, juntamente com os moradores dali, do desdobramento do vasto programa elaborado pela comissão organizadora.
Às 9 horas, depois de magnífica e aplaudida oração pronunciada pelo dr. Antero Moreira Leivas, foi, na presença das autoridades civis, militares e eclesiásticas locais, procedido o hasteamento do Pavilhão Nacional, cerimônia essa que teve lugar, no largo principal daquela vila, onde estava erigido, o palanque oficial. Nessa mesma ocasião, usou da palavra o capitão Júlio A. dos Santos Cruz, do 4o. B.C. da Brigada Militar, cujo discurso, alusivo também á vitória das Nações Unidas recebeu entusiástica salva de palmas.
Às 10 horas, de acôrdo com o que estava programado, foi rezada missa campal, cujo ato teve como local o monumento que ali se ergue em homenagem á paz de 1918.
Apesar da Chuva, não foi empanado
o brilho das festividades
Aproximadamente ás 11,30 horas, momentos antes de ser servido o churrasco uma forte chuva veiu prejudicar o desdobramento do programa, cujo ponto culminante era justamente o churrasco. Entretanto, apesar dêsse imprevisto, a festa promovida pelos moradores do Capão do Leão, não foi prejudicada em seu brilhantismo, pois tudo o que estava assentado previamente decorreu como se fosse num lindo dia de sol.
Desfile de Grupos Escolares
Uma das mais importantes partes da festa realizada no Capão do Leão, em regozijo á rendição incondicional da Alemanha, foi o desfile escolar realizado pela principal rua e que teve a participação de elevado número de crianças. Esse desfile foi cadenciado pela banda musical do 4o. Batalhão de Caçadores da Brigada Militar, a qual contribuiu para o sucesso de que se revestiu aquela festividade.
Conforme antecipamos, foi também inaugurado, pelo dr. Sílvio da Cunha Echenique, prefito municipal, o novo monumento comemorativo á paz de 1945, que acaba de ser construído na Pedreira Municipal daquela localidade.
Quaisquer pessoas que tiveram informações ou fotos a respeito destas comemorações, por obséquio, entrem em contacto.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Carreiras em Capão do Leão

Existem algumas canchas de carreiras nas vilas e no interior do município. Um desporto marcadamente gaúcho, sempre fora uma distração para a população ligada ao campo. Os moradores mais antigos falam com carinho das carreiras que viam quando eram crianças. Pode-se dizer que a corrida de cavalos em cancha de carreira é uma tradição no Capão do Leão. E mesmo em toda a zona sul e Campanha rio-grandenses. Tanto que os jornais do início do século XX faziam questão de noticiar os eventos, inclusive nomeando cavalos e proprietários. O trecho a seguir é procedente do jornal Diário Popular, edições de 26 e 28 de janeiro de 1919.
Carreiras
Pela parada de 1:000$000 e no tiro de duas quadras, correrão, hoje, na cancha em terreno do Sr. Pedro Gardey, no Capão do Leão, os animaes "Fisca", do nosso amigo Sr. capitão Antonio Cunha, e "Zaino", do também nosso amigo Sr. tenente-coronel Theophilo Torres.
Carreiras
Realisou-se, ante hontem, na cancha em terreno do Sr. Pedro Gardey, no Capão do Leão, a corrida entre os animaes dos srs. tenente-coronel Theophilo Torres e capitão Antonio Cunha, vencendo o do primeiro.
Como se percebe, quanto a este tipo de evento, a cobertura da imprensa na época era bastante eficaz.


Princesa Isabel em Capão do Leão

A tradição oral sempre mencionou, sobretudo os mais antigos no município da visita da Princeza Isabel a Capão do Leão, inclusive informando que ela teria estado também no Passo das Pedras. Todavia, nunca vi nenhum livro ou publicação que falasse a respeito do fato. Pesquisando nos jornais antigos da Bibliotheca Pública Pelotense, entretanto, achei o ocorrido e publico no blog para uma maior certificação. Está registrado no jornal A Discussão, de 10 de fevereiro de 1885. O trecho está abaixo:
Princeza Imperial
S.A. a Princeza Izabel foi hoje ao Capão do Leão sendo obsequiada com um lauto almoço no Hotel Benjamin.
- Amanhan S.A. vai passar o dia na estancia do nosso illustre amigo Sr. commendador Mancio Ribeiro, no Passo das Pedras.
Faltou-me, porém, identificar este Hotel Benjamin. E, pensando bem, já em 1885 havia um hotel em Capão do Leão? Não que não seja verdade, mas é uma informação notável.

Emancipação



Trecho extraído da Revista Zona Sul, número 1, maio de 1989:

"Uma luta de mais de 20 anos teve seu desfecho feliz em maio de 1982. O então distrito do Capão do Leão, conseguia sua emancipação política de Pelotas. Hoje, passados sete anos da criação oficial da nova cidade, há uma certeza: a emancipação valeu a pena.
A discussão em torno da emancipação do Capão do Leão iniciou na década de 60. A primeira tentativa ocorreu em 1963, que não logrou êxito devido a ações desenvolvidas pelo então prefeito de Pelotas, Edmar Fetter.
O ex-prefeito Elberto Madruga, um dos líderes daquele movimento, lembrou: Depois do resultado favorável, ou o não á inclusão do terceiro distrito no novo município, a Assembléia deu condições para ser criada a cidade. Neste momento, o então prefeito entrou com mandado de segurança e a viabilidade do Capão do Leão vir a se tornar município caiu por terra.
Em 82, houve nova mobilização, desta vez vitoriosa. Além de Elberto Madruga, outros líderes buscarqm a vitória do Sim. Entre eles, Enedino Silva, que por muitas vezes foi subprefeito e chegou a ser eleito vereador em 82.
Outro líder e que não chegou a ver o Capão do Leão município, foi Edi Oliveira. No dia 29 de março, quando a apuração do plebisicito era feita, ele faleceu.
RESULTADOS: Com uma diferença de 492 votos, o Sim venceu o plebiscito realizado no dia 28 de março de 1982, no quarto distrito de Pelotas, o Capão do Leão. O resultado da votação, divulgado no ginásio João Carlos Gastal, na manhã do dia 29 de março, uma hora após o início do escrutínio das 26 urnas, foi recebido num clima de festa e alegria pelos leonenses. Foram apurados 3042 votos, sendo 1751 para o Sim - 1259 para o Não - 10 votos em branco e 22 votos nulos".

Pré-História em Capão do Leão


Uma descoberta arqueológica de grande importância nos limites do município comprova a existência de tribos indígenas com uma requintada técnica de fabricação de artefatos em pedra, que existiram a pelo menos quatro mil anos nesta região do Estado. O achado vem a enriquecer e a apresentar outras proposições à discussão sobre a ocupação humana no Rio Grande do Sul.
A descoberta, acontecida inteiramente por acaso num areal próximo ao campus da UFPel, há cerca de dezessete anos atrás, se constitui de uma coleção de oito peças esculpidas em rocha vulcânica: dois zoólitos (esculturas em formato de animal), duas boleadeiras, uma mó (instrumento usado para moer), dois bastonetes e uma peça de uso desconhecido. Embora há tanto tempo tenha se dado esta descoberta, ela sóchegou ao conhecimento dos especialistas em 2000, quando a pessoa que tinha estas peças sob seu poder tomou conhecimento da existência do LEPAN (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia) da FURG, resolvendo doá-las para esta instituição. No LEPAN as peças foram estudadas e analisadas e se propôs uma primeira datação para as mesmas: algo em torno de quatro a seis mil anos. Entretanto, de todas as peças, as que chamaram mais a atenção foram os dois zoólitos, um em formato de pomba, embora um pouco fragmentado; o outro, em formato de tubarão, praticamente inteiriço. Ambos impressionam pelos seus formatos, cuidadosamente esculpidos, apresentando uma depressão ovalada na região ventral, lembrando uma espécie de plataforma. Os estudos do LEPAN apontam também que as peças, provavelmente, possam ter sido confeccionadas por tribos indígenas das tradições Umbu ou Vieira.
Posteriormente, a coleção destas peças foi repassada ao LEPAARQ (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia) da UFPel, que estava sendo criado na ocasião (2001) e cuja área de abrangência inclui o município de Capão do Leão.
O "tubarão", em particular, desperta muito a atenção, tanto de quem é especialista no assunto quanto para um leigo. A peça com um comprimento de 17,5 cm e largura de 12,6 cm, apresenta um detalhamento minucioso apresentando os olhos, a boca, as fendas branquiais, as nadadeiras e a cauda, além de, surpreendentemente, o órgão reprodutor. Identificou-se a escultura como sendo um tubarão da espécie Isurus oxyrinchus, popularmente conhecido como anequim, comum na costa brasileira. As formas são suaves e proporcionais, tratando-se do maior zoólito já encontrado no Brasil. Fato que mereceu ampla divulgação na imprensa do Estado e do País, sendo documentado em revistas como Veja, em jornais como Correio do Povo e Zero Hora e no canal de tv a cabo Globo News. Atualmente, a peça está sob cuidados do LEPAARQ e tem sido requisitada para exposições sobre arqueologia e cultura indígena, juntamente com as outras. Tanto que em 2003, esteve numa exposição sobre objetos arqueológicos na Bienal de Artes Visuais do Mercosul em Porto Alegre, sendo inclusive o destaque desta exposição. A peça provocou não só a admiração dos arqueólogos, como também de artisitas plásticos, que se surpreendem e ressaltam a beleza e perfeição da escultura, considerando, sobretudo, a idade milenar do zoólito.
Para quem quiser conhecer as peças, saber mais sobre elas e o trabalho arqueológico que tem se dado na região, pode visitar o LEPAARQ no Instituto de Ciências Humanas da UFPel, na rua Alberto Rosa 154, bairro Porto, em Pelotas. O laboratório funciona a tarde e a noite em período normal de aulas.
Agradecimentos: equipe do LEPAARQ-UFPel, historiador Jorge Oliveira Vianna, professor André Loureiro, e do diretor do ICH Prof. Dr. Fábio Vergara Cerqueira.

Itaita


Segundo consta no livro de Sylvio Dall'Agnol, Capão do Leão: Povo Identidade, os indígenas que habitavam Capão do Leão antes da chegada dos portugueses, chamavam o lugar de Itá-Itá. Literalmente quer dizer "pedra-pedra", ou para melhor esclarecer: "muitas pedras". Dall'Agnol lista uma série de tribos indígenas que viviam no Capão do Leão: guenoas, chanás, charruas, arachanes, tapes, etc. Embora, acredite que não eram tantas assim.
O nome Itá-Itá está presente na geografia do município com um arroio no Passo das Pedras que é assim batizado. O significado do nome é patente: lugar de muitas pedras. Devemos lembrar que Capão do Leão possui a segunda maior reserva natural de granito do mundo e a atividade de extração mineral foi continuamente o eixo da economia leonense.
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