"A partir de 1818, com a fundação da colônia Leopoldina no extremo sul da Bahia, uma história distinta e particular começava a ser contada neste estado: os primeiros contingentes de alemães eram estabelecidos em território brasileiro, caracterizando os esforços ainda tímidos do então governo real para atrair imigrantes europeus para o país. A literatura disponível sobre o tem dá conta de que o empreendimento de atrair imigrantes alemães (também suíços e outras etnias europeias) para o estado da Bahia, além de refletir os primeiros resultados da abertura dos portos promovida por D. João VI no início do século XIX, tornou-se viável também a partir do matrimônio do príncipe D. Pedro I com a arquiduquesa austríaca D. Leopoldina. A então futura imperatriz do Brasil emprestou seu prestígio aos principais entusiastas da ideia, alemães que já haviam estado no Brasil desde antes de sua chegada.
No entanto os assentamentos aqui referidos, na análise de autores como Roche (1969), Fouquet (1964), Schneider (1974), Seyferth (1999; 2002), não caracterizariam genuína colonização alemã, uma vez que ocorreram em sesmarias concedidas a empresários alemães, suíços e brasileiros. Não tinham o caráter de povoamento nos moldes verificados no Sul brasileiro e neles contava-se majoritariamente com mão-de-obra escrava para sua manutenção e desenvolvimento, sustentando as unidades produtivas que se organizaram neste modelo colonial. Estas iniciativas malograram em sua quase totalidade, as condições precárias em que se deram os assentamentos, condenaram os empreendimentos e, consequentemente, muitos dos imigrantes que deles fizeram parte. As iniciativas, vale recordar, malograram, não sendo possível verificar mais que traços destes empreendimentos no interior do estado da Bahia.
A primeira colônia, Leopoldina, assim denominada em homenagem à futura Imperatriz, foi estabelecida às margens do rio Peruípe, no extremo sul da Bahia; seus fundadores foram, segundo registros de Frederico Edelweiss, publicado em 1970, o cônsul de Hamburgo na Bahia, Pedro Peycke, os naturalistas Freyreiss e Morhardt, de Frankfurt-am-Main e os suíços Abraão Langhans e David Pasche. Os números divulgados por Tölsner, em 1858, informam que a atividade agrícola principal era cultura do café com uma produção estimada em 100.000 arrobas/ano, maior parte da qual exportada, lembrando que esta funcionou em um modelo de empresa, dividida em fazendas e contando com mão-de-obra escrava. Além disto, a preocupação em povoá-la com imigrantes pareceu ser algo secundário tendo em vista as precárias condições oferecidas por ocasião do assentamento dos imigrantes e de sobrevivência após a formação do núcleo. Os dados disponíveis pouco informam sobre os primeiros anos desta colônia, o que parece justificar a relativa pouca atenção de pesquisadores da imigração alemã no Brasil no que diz respeito a estas iniciativas. De todo modo, não está claro, apesar do evidente malogro, o período de existência desta colônia.
No mesmo ano de 1818, outra colônia foi implantada por Weyll e Saueracker, à margem esquerda do rio Cachoeira, entre Ilhéus e Itabuna, contando com 28 famílias (totalizando 161 indivíduos). Aparentemente sofrendo de males semelhantes àqueles verificados na colônia Leopoldina, a denominada São Jorge dos Ilhéus, teve seu destino selado por uma série de contratempos: ausência, de estrutura adequada para a instalação dos colonos, epidemias, fome e a incapacidade dos empresários e do governo provincial de auxiliar devidamente na solução dos problemas, resultaram em óbitos da maioria dos indivíduos e dispersão. A visita do príncipe Maximiliano da Áustria, em 1860, nos dá uma ideia aproximada do que se tornara esta colônia e seus colonos, cujos '[...] meninos magros, de cara pálida e descolorida, olhos azuis de miosótis, cabelo amarelo-pálido, arrepiados' e, ao tentar se comunicar com eles, Maximiliano não conseguiu evitar o 'sentimento de indignação' ao percebê-los 'totalmente brasileiros', já que não falavam a língua dos pais, motivo ao qual atribuiu a melancolia destes últimos e a 'secreta dor' que todos os imigrantes alemães pareciam carregar. E, foi mais além, ao concluir, à época, que '[...] não é de se admirar que nunca adquiram uma posição independente, em vez de dominarem, encontram-se numa espécie de coisa intermediária, entre escravos e homens livres'.
Não muito distante da colônia Leopoldina, estabeleceu-se por volta de 1822 a colônia Frankenthal, em terras de Georg Anton von Schäffer, que as adquirira com a intenção de fixar-se como colonizador. A administração ficou a cargo de um amigo, Philippe Henning, alemão de Wertheim. Apenas 20 indivíduos viviam nesta colônia em 1824. Após o afastamento de Schäffer da corte, em 1828, o oficial francônio teria ido viver seus últimos dias em Frankenthal.
Em 1859, em razão da criação da Imperial Companhia Metalúrgica do Ouro, destinada a explorar a mina de Açuruá - entre os rios Verde e São Francisco - foram trazidas 50 famílias, segundo Overbeck (1923), em um total aproximado de 150 indivíduos. Para chegar ao seu destino, segundo, Fouquet (1974), percorreram grande parte da distância (cerca de 500 km) desde São Félix, caminhando. A seca e as altercações ocorridas entre os imigrantes e a direção da companhia contribuíram para o rápido insucesso de mais esta iniciativa. Eram estes alemães provenientes de Klausthal e Zellerfeld, norte da atual Alemanha e não permaneceram por mais de dois anos na localidade onde se deu esta tentativa de assentamento; ali passou a existir, posteriormente, a vila que recebeu o nome de Gentio do Ouro, hoje município baiano."
Fonte: RABELLO, Evandro Henrique. Deutschtum na Bahia: a trajetória dos imigrantes alemães em Salvador. Salvador/BA: Dissertação de Mestrado em Antropologia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2009, pág. 47-49.