quinta-feira, 31 de março de 2022

Conflito na Serra das Asperezas



 - Sobre o conflicto que na Serra das Asperezas, 2o. districto de Piratiny, teve logar no dia 10 do corrente, que deu em resultado de uma morte e ferimentos gravissimos de diversas pessoas, eis as informações que foram ministradas ao Diario de Pelotas.

Alipio Manuel Lucas estava tapando um campo de sua propriedade, quando chegou João Bernardo da Silva acompanhado de diversas pessoas, a intimar a Alipio que não continuasse n'aquella tapagem.

Alipio declarou-lhe que tapava o que era seu, e que ia almoçar para continuar em seu trabalho.

Apezar de ameaçado por João Bernardo, Alipio voltou e principiou a trabalhar, quando viu João Bernardo, acompanhado por oito homens, dirigir-se a elle á meia rédea.

Ao apear-se, João Bernardo atira-se a Alipio de espada em punho, e este, que tambem estava armado, repelle com a espada que tinha; seu agressor lhe atirava; João Bernardo, que com a espada nada podia fazer, lança mão da sua, e, acto continuo, foram ellas desfechadas, resultando os ferimentos de Alipio e João Bernardo.

A gente de João Bernardo, em numero duplo da de Alipio, atira-se sobre a d'este, resultando do conflicto a morte de um filho de João Bernardo, ferimentos nos atacantes e atacados, ficando Alipio com 5 ou 6 ferimentos graves por armas de fogo.

A auctoridade policial de Piratiny tomou conhecimento do facto e prosegue em activas averiguações.

É para lamentar factos d'esta ordem, e energicas providencias precisam ser dadas, afim de que se não reproduzam, muito mais quando as questões que a elles dão lugar podem ser facilmente resolvidas pelos poderes competentes."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 10 de Julho de 1882, pág. 01, col. 02-03

quarta-feira, 30 de março de 2022

Academia Leonense de Letras & Artes (ALEAL) e CTG Tropeiros do Sul promovem live solidária

 


Nesta quinta-feira, 31 de Março, a partir das 18 horas, por iniciativa da Academia Leonense de Letras & Artes e do Centro de Tradições Gaúchas Tropeiros do Sul, com apoio da Casa de Cultura Jornalista Hipólito José da Costa, estará acontecendo uma live solidária, transmitida pela página da ALEAL (https://www.facebook.com/Academia-Leonense-de-Artes-e-Letras-106878408219709/) pela rede social Facebook, com a presença de vários artistas do município. A ação é em prol dos atingidos pelo forte temporal com granizo que se verificou em algumas regiões da cidade na noite de ontem, trazendo muito estrago e prejuízos, sobretudo às famílias mais pobres.

Agradecemos antecipadamente as doações! Acompanhe e divulgue! É uma ação social importante.

Estrada Costa do Andrada, Pelotas/RS


 Estrada Costa do Andrada, no interior do município de Pelotas, Rio Grande do Sul

terça-feira, 29 de março de 2022

Luta com um "tigre"

 



LUTA COM UM TIGRE

N'uma correspondencia da Palmeira, que publicou a Imprensa de Porto Alegre deparámos com a seguinte noticia:

"Joaquim Valente, morador d'este municipio, ás 7 horas de uma noite de luar, ouvindo no pateo de sua casa estranho ruido de porcos, sahiu armado de uma espingarda e facão, emquanto um seu genro fôra a um aposento tomar armas.

De chegada no pateo viu Valente um porco que debatia-se com um enorme tigre, e negando logo sua espingarda, e vendo-se cercado pelo tigre cortou uma mão d'este. O tigre mesmo ferido, atirou por terra seu contendor, que, não perdendo o sangue frio pôde, no momento em que o tigre ia cravar-lhe os dentes, descarregar-lhe na bocca um certeiro golpe que inutilisou a articulação dos maxilares.

N'este interim chegou o genro de Valente, e depois de luctarem, o tigre fugiu para o mato, sendo encontrado morto no dia seguinte.

Valente não teve senão algumas fortes arranhaduras no braço."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 19 de Fevereiro de 1882, pág. 02, col. 03

segunda-feira, 28 de março de 2022

domingo, 27 de março de 2022

Naufrágio no Passo da Lagoa



 - Lê-se em um jornal de Santa Victoria:

"Hontem foi communicado ao Sr. Dr. juiz do commercio e ao Sr. administrador da mesa de rendas geraes que deu á costa no mar, em frente ao Passo da Lagoa, umas quatros leguas distante d'esta villa, um barco allemão que se incendiou.

Trazia carregamento para Buenos-Ayres, com armamento, alcatrão e outros objectos.

Salvou-se o capitão com mais tres pessoas, sendo uma d'ellas filho d'aquelle.

Tres marinheiros que embarcaram n'um bote, buscando a barra do Chuy, desappareceram, presumindo-se que tenham succumbido.

O barco incendiou-se completamente.

A ultima hora recebemos estas informações.

Se colhermos mais pormenores, noticiaremos."

O mesmo jornal adianta mais o seguinte, descordando, porém, do nome do navio que publicámos ao noticiarmos o mesmo sinistro.

"Acham-se n'esta villa os naufragos do navio allemão que se incendiou.

Vinha de Antuerpia com carregamento de alcatrão, breu e armamento, para Buenos-Ayres.

Chama-se Opten, o navio referido.

O incendio começou em os lotes de phosphoros de cera e rapidamente se propagou.

Os tres marinheiros de que fallámos estão no Rio Grande, sendo salvos por um vapor de carreira de Montevidéu."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 01 de Janeiro de 1882, pág. 01, col. 08

sábado, 26 de março de 2022

Massacre nas Minas de Canaperú



 - Uma folha de Bagé dá minuciosos pormenores do cobarde e horroroso assassinato de 14 subditos brazileiros, assassinados no Estado Oriental por ordem de uma auctoridade militar d'aquella republica.

Diz a alludida folha:

"O coronel encarregado do recrutamento no departamento de Taquarembó, acompanhado de força armada, pois andavam n'este serviço, dirigiu-se ás Minas de Canaperú, recrutou para o serviço 14 individuos, entre estes cinco brazileiros, provavelmente alli empregados.

Sem attender a menor reclamação, poz-se em marcha o heróe, satisfeito com a colheita, indo fazer acampamento ainda cedo, como é costume, em uma casa vizinha, onde, para maior segurança, mandou encerrar em um galpão os recrutados.

Sendo avisado ou suspeitando de que os presos projectavam evadir-se, mandou carregar armas, e fez chamada nominal de cinco, os quaes, ao sahirem, receberam uma descarga, cahindo quatro atravessados pelas balas, e um, que ficou incolume, foi incontinente morto a garrote (pequeno páo) sendo o primeiro a espancal-o um joven official d'essa força de... bandidos!

Não satisfeitos com tanta cobardia e para cumulo de malvadez, entenderam que deviam exterminar os poucos infelizes que restavam, mandando o commandante, já enfurecido, invadir pela força o galpão, e matar a garrotaços os nove existentes!!!

Um menino, que tambem havia sido recrutado no trajecto das Minas á pousada, que se achava em companhia das desventuradas victimas, á voz da mata, movido pelo natural instincto de conservação, escondeu-se por entre os arreios e foi mudo espectador d'essa repugnante hecatombe, e tal foi a impressão moral que lhe produziu tão medonho quadro, tanto horror encarava elle, que o pobre menino, quando foram dar com elle, estava louco!..."

Ainda sobre este assumpto adianta o mesmo jornal:

"Informam-nos ainda o seguinte relativamente aos assassinatos de brazileiros no Estado-Oriental, de que já demos noticia.

O numeo de recrutas attingia a 60, sendo os 14 assassinados todos brazileiros!

Dizem-se tambem que o heroe commandante da força, que ordenou esses barbaros assassinatos, foi um coronel Santos, irmão do actual ministro da guerra d'aquella republica.

E até onde póde chegar a audacia e malvadez de uma auctoridade ignorante e inconsciente do lugar que occupa!"

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 05 de Junho de 1881, pág. 02, col. 03-04

sexta-feira, 25 de março de 2022

Método curioso para curar picadas de cobra

 



Lemos n'um periodico estrangeiro:

"O Sr. Houles referiu ha pouco na Sociedade de Hygiene de Pariz que, quando os negros das Antilhas são mordidos pela cobra cascavel e a coral, que parece a mais terrivel de todas, bebem mais que depressa, e immediatamente se é possivel, um litro de whiskey, e caham promptamente n'um elevado gráu de embriaguez, mas quando ella acaba, o veneno está já eliminado, e a saude volta.

Este facto foi narrado ao auctor por um seu amigo que o verificou por muitas vezes.

Os negros têm tal confiança n'este remedio, que não dão a menor importancia á picada que nós temos como rapidamente mortal.

Qual é a acção do alcool n'estes casos? O auctor não trata de explical-a. Faz me uma outra pergunta, se no caso de picadas anatomicas o alcool não obraria de uma maneira analoga? A este respeito diz que, ha cerca de dezoito mezes um interno dos hospitaes, fazendo a autopsia de um diphterico, picou-se: é facil comprehender quaes foram os sustos que se apoderaram d'elle, que se considerava como um condemnado. Elle tambem, não se sabe por que razão, bebeu alcool em alta dóse e não sentiu algum dos accidentes que acompanham as picadas mesmo as mais benignas.

D'esta approximação não se poderia dar uma verdadeira explicação? O auctor não o sabe, mas julga-se com dever de chamar a attenção dos collegas sobre tal assumpto.

Este facto não é senão uma confirmação de mais do methodo antagonista inculcado pela toxicologia italiana na cura das feridas envenenadas.

Aviso ás pessoas que são mordidas pelas cobras."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 20 de Abril de 1881, pág. 02, col. 01-02

quarta-feira, 23 de março de 2022

Exportação de charque em Pelotas no biênio 1879-1880

 



Pelo porto de Pelotas, provincia do Rio Grande do Sul durante o anno de 1879-1880 a exportação de - charque - foi de 23.981.859 kilogrammas, embarcados em 130 navios. Esta exportação foi dividida do modo seguinte: 

Pernambuco..... 11.875.385

Bahia..... 10.298.525

Rio de Janeiro..... 1.389.470

Pará..... 418.470

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 19 de Janeiro de 1881, pág. 01, col. 03

terça-feira, 22 de março de 2022

Motim popular contra o presidente da província do Rio Grande do Sul

 



O Echo do Sul em seu numero de 17, publicou um boletim e o seguinte telegramma, passado na noite de 15:

"Hontem á noite motim popular.

O povo, em numero de dez mil pessoas, na praça de Palacio, pediu a destituição do presidente da província, Dr. Henrique d'Avila.

A policia fez fogo sobre o povo.

A tropa de linha com armas descançadas.

O presidente não estava em palacio.

O povo oppõe-se á remoção do 12o. batalhão de infantaria para o Rio Pardo.

Houve muitos ferimentos de bala.

Se o presidente não é demittido, receiam-se grandes e lamentaveis acontecimentos.

Os animos estão exaltadissimos."

(...)

- De Porto Alegre escreveram o seguinte a proposito do motim popular alli havido:

"Perto de mil pessoas approximaram-se do edificio da Reforma e ahi ergueram uma vaia immensa, indescriptivel, com acompanhamento de foguetes e fogos da China.

Fechadas as portas, principiaram a cahir pedras sobre as vidraças, até que veiu a policia e que foi repellida por duas vezes com pedras e fundos de garrafa.

Demorou-se o povo perto de uma hora em frente ao estabelecimento d'aquella folha, até que, vindo outra vez a policia, foi novamente repellida até á rua da Ladeira e ahi uns gritavam: a palacio! e outros - ao Gusmão!

Mais de duzentas pessoas seguiram então em direcção a casa do Sr. Amaya Gusmão e quebraram-lhe as vidraças pretendendo arrombar-lhe as portas.

Avalie-se por iso a indignação de que estava o povo possuido.

Se não fossem os esforços empregados por algumas pessoas, a multidão, no estado de exacerbação em que se achava, teria arrombado as portas o então Deus sabe o que teria acontecido.

O 12o. batalhão, composto em sua totalidade de officiaes conservadores, recebeu hontem ordem para retirar-se para Rio Pardo no praso de 24 horas, e isto como castigo a ter-se pronunciado, particularmente, a favor do povo, recusando espingardeal-o."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 23 de Junho de 1880, pág. 02, col. 01

sábado, 19 de março de 2022

Fuzilamento na Serra do Aceguá

 



- Refere uma folha de Pelotas:

"Por ordem do respectivo commissario oriental, foi fuzilado na serra do Asseguá, o carreteiro Geraldo dos Santos, brazileiro, segundo suppomos, por haver ha tempos assassinado um preto.

Nos informam que esse infeliz fora preso e entregue pelas auctoridades brazileiras para soffrer aquelle horrivel supplicio.

Chamamos para este grave acontecimento a especial attenção do Exm. Sr. presidente da provincia."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 15 de Março de 1880, pág. 01, col. 03

sexta-feira, 18 de março de 2022

Turma feminina de Tiro do Colégio Municipal Pelotense em 1920


 Turma feminina de Tiro do antigo Gymnasio Pelotense (atual Colégio Municipal Pelotense) no ano de 1920
O Instrutor ao centro é o Tenente Mário Velloso

quinta-feira, 17 de março de 2022

Porto Alegre em 1857



 - O quadro estatistico da cidade de Porto Alegre é o seguinte:

DIVISÃO

Districtos..... 2

Quarteirões..... 55

Praças..... 6

Ruas..... 36

Beccos..... 13

EDIFICIOS

Templos..... 7

Casas de sobrado..... 438

Casas terreas..... 2,065

Meias-agoas..... 448

Fogos..... 2,914

POPULAÇÃO

Nacional

Livres..... 10,865

Escrava..... 5,146

Sexo masculino..... 7,493

Sexo feminino..... 8,515

Estrangeira

Sexo masculino..... 945

Sexo feminino..... 273

Fonte: A PATRIA (Rio de Janeiro/RJ), 11 de Fevereiro de 1857, pág. 01, col. 04

quarta-feira, 16 de março de 2022

Indígenas no caminho entre o Rio Grande do Sul e São Paulo em 1841

 



ABORIGINES

Fragmento de viagem

Quem vem das campinas do Rio Grande do Sul, para a província de S.Paulo, tem de atravessar largos sertões, caudalosos rios, e magnificos campos. Fizemos esta viagem em 1841, e desse tempo são estaas notas, que agora sugeitamos ao prélo, e offerecemos ao publico.

Partindo da Cruz Alta, passámos no Passo-Fundo, Matto Castelhano, Campo do Meio, Vaccaria, e chegámos ao Rio Pelotas, que serve de divisa entre o Rio-Grande e Santa Catharina; atravessando o rio chegámos aos Campos Novos, de onde fizemos uma pequena digressão aos Campos de Palmas, e voltando de lá retomamos nosso caminho passando pela então pequena povoação de Curitibanos, tomamos a direcção do Sertão chamado de S. Paulo, onde se acha o pequeno rio Canôas, que é a divisa de Santa Catharina, e S. Paulo, entrando no territorio desta ultima provincia, chegámos ao importante registro, e pequena povoação do Rio-Negro, e depois nos internâmos pela provincia, fazendo ainda diversas digresões pelas mattas e rios da comarca de Coritiba, hoje provincia do Paraná.

Em todo este trajecto encontrámos sempre noticias aterradoras da proximidade, e invasão dos bugres bravios, restos dessas antigas tribus de aborigenes, e que habitão as mattas e sertões desses lugares. E com effeito, aqui encontra-se os restos de uma habitação que os bugres incendiarão, depois de saquearem, e darem a morte a todos os moradores; ali encontrão-se os vestigios de alguns assassinatos, feitos nos viajante que incautos pernoitavão nos lugares de correrias dos bugres; acolá encontravão-se innumeras cruzes, que provavão que n'aquelle logar tinah havido uma matança de passageiros; mais além, ainda se achavão ossadas humanas, e ossadas de cavallos, resultado de um assalto de bugres que não tinhão poupado uns e outros: enfim, por toda a parte os signaes de devastação, marcavão o aparecimento das hordas selvagens. Desejosos de saber qual a tribu a que pertencião estas hordas, e porque motivo levados só pelo espirito do saque, e do roubo, comettião tantas atrocidades, tratámos de estudar o caracter de alguns bugres semi-domesticos, que apparecião em differentes pontos, e com quem tivemos occasião de praticar; indagámos suas nações, usos, e costumes, e o mesmo fizemos com alguns que cahião prisioneiros, quando os habitantes davão algum ataque aos seus alojamentos; e aventurando-nos a visitar os alojamentos de algumas tribus ou hordas já entradas na domesticidade, ahi os acabámos de estudar, tanto quanto nos permittia o tempo de nossa demora, e as relações que podiamos entabolar com esses homens da natureza. Do resultado destas nossas indagações, vamos dar aos nossos leitores uma breve noticia.

As hordas que infestão esses lugares, não são todas originarias de uma só tribu, ou nação; e ainda que seus dialectos se assemelhão, ha comtudo bastante differença entre elles.

Alguns destes aborigenes, restos de uma ou outra tribu, constituem um povo separado, conservado em sua pureza o idioma, usos e costumes de seus antepassados, e vivendo ainda em guerra com outras tribus suas inimigas; porém outros teem-se misturado, e em um só alojamento se encontrão as reliquias de differentes tribus, cujos usos, costumes, linguagem, hoje amalgamados e confundidos, tem tomado um caracter novo e especial, onde em balde se procuraria a primitiva origem.

Algumas horas sómente se compoem de selvagens no estado primitivo; mas outras teem de envolta alguns inidios que já forão domesticados, e viverão com gente civilisada, e que voltárão para as mattas, e estes bandos que possuem esses refractarios da civilisação, são justamente os que mais se empregão no salteamento das estradas, e habitações.

Os indios que apparecem desde a Cruz Alta, até á Vaccaria, são pela maior parte Carijós, ou Guaranys, ainda que juntos com elles existão alguns Tupinaes [sic], e Tupinambás, restos dessas tribus que habitarão a provincia de S. Paulo, e o Sul do Rio de Janeiro. Estes restos hoje estão tão misturados, que é difficil obter um ou outro indicio, pelo qual se julgue destas origens; comtudo com bons interpretes, que são sempre indios já civilisados, ou para melhor dizer domesticados, consegue-se alguma cousa, acompanhando as maravilhosas tradicções dos aborigenes anciãos, das quaes é preciso separara o verdadeiro do falso. Esta horda tem alguns alojamentos insignificantes na serra de Itapeva, na que desce para Santo Antonio da Patrulha, e outros pontos das mattas; mas o seu principal aldeamento, é no interior do Matto-Castelhano, para a banda do Rio Pelotas, e talvez não mui longe dos confins dos Campos de Palmas. Este aldeamento é vasto, tem muitas cabanas, algumas de uma só familias, e outras maiores que servem de habitação a umas poucas de familias: é todo cercado de uma dupla palissada, que ainda é defendida por largos ainda que imperfeitos fossos, que tambem são guardados por muitos fojos em todas as direcções, os quaes deixão apenas livre para a entrada um estreito e sinuoso caminho, só conhecido dos bugres.

Nesta horda existem alguns bugres domesticos, que dirigem os ataques das casas e caravanas; e suppomos que a escolha, e formação do aldeamento neste lugar, é devido a alguns Guaranys já domesticados pelos Jesuitas das Missões, os quaes pela expulsão d'aquelles Padres, se juntárão aos restos da sua tribu ainda selvagem, e tratárão de organisar-se em tribu, de novamente. Temos esta supposição, em razão de que o alojamento é quadrado, e de uma organisação interna semilhante á que os Jesuitas derão aos differentes povos das Missões, havendo mesmo entre os indios, algumas tradições dos Jesuitas. As armas destes bugres, são a fléxa, e a maça de páo; comtudo, os indios domesticados que andavão com elles, algumas vezes tem usado de armas de fogo; a maior parte das pontas das fléxas desta horda, são feitas de ferro, para o que se servem de pontas de faccas, ou de qualquer ferro que apanhão; as faccas tambem lhe servem para varios usos. Quando atacão é sempre de surpreza, e fazendo grande alarido durante o combate, se este tem lugar; matão todas as pessoas e animaes que encontrão, e saqueão o que lhe convém, não deixando o dinheiro em ouro se o encontrão. No geral andão nús, e alguns trazem tangas de pennas, ou de panno. O aldeamento é ali permanente, mas os indios destacão partidos que dirigem suas correrias para differentes pontos. Esta horda causou immenso estragos, e tem-se portado com tal ousadia, que em 1840, quando o General Labatut, fez a sua retirada de cima da serra, na passagem do Matto-Castelhano, forão por elles atacada algumas bagagens e pessoas que ficarão a retaguarda do exercito.

Diz-se que neste aldeamento, ha tambem, organisadas pelos Guaranys que pertencerão aos Jesuitas, algumas toscas officinas de carpinteiro, e ferreiro, e uma forja; o que não asseveramos que seja exacto, mas que comtudo é acreditavel, visto o seu trabalho das fléxas, e alguns machados de ferro, que se lhe tem encontrado, quando no geral os indios usão deste instrumento feito de pedra.

Segundo alguns bugres prisioneiros, estes selvagens tem prisioneiras no seu alojamento, algumas mulheres tomadas ás caravanas que tem roubado e destruido.

Fonte: O COSMOPOLITA: JORNAL LITTERARIO, INSTRUCTIVO E NOTICIOSO (Rio de Janeiro/RJ), 25 de Novembro de 1854, pág. 03, col. 03, pág. 04, col. 01


terça-feira, 15 de março de 2022

Fenômeno insólito em São Borja

 



Phenomeno. - O Alegretense publicou o seguinte fragmento de uma carta de São Borja (no Rio Grande do Sul), cujo objecto, como prevê o proprio autor da carta, dá lugar a muitos commentarios. Os leitores em seu criterio, que avaliem a veracidade do facto:

"No domingo da Trindade (31 de maio) era noute, quando em casa do indio Pantaleão, homem casado e morador no passo de São Borja, se achavam diversas pessoas resando a ultima novena do Divino Espirito Santo; entre ellas estava uma mulher de nome Joaquina com um filhinho nos braços, e moradora no mesmo passo. Uma voz a chama do lado do quintal, cuja voz foi por alguns dos circumstantes ouvida, Joaquina sahe deixando o filho entregue a outra pessoa e logo voltou dizendo, que ninguem via. Neste momento cahio extorcendo-se em convulsões tão fortes que foram necessarios dous homens levaram para uma cama, e alli de alguma forma a conterem.

As mulheres que se achavam presentes e mais pessoas a acudiram immediatamente e mais pessoas a acudiram immediatamente com cheiros, fricções, agua de cologne e outros remedios caseiros, porém as convulsões continuavam, e se não podia mandar chamar o medico, unico que então aqui existia. Dr. Araponga, não só pela distancia e falta de meios promptos, como mesmo porque se receiava que o Araponga, no caso de vir, pedisse um negro com um cachimbo, e a mulher não podia satisfazel-o, por ser pobre. Um indio velho, cujo nome, se me não engano, é Lourenço, disse nessa occasião, que sabia o que a mulher tinha, e, aproximando-se do leito da enferma, perguntou-lhe: - Você é homem ou mulher?

A mulher parou de extorsões e uma voz lugubre, e que muito se assemelhava a do ventriloco, respondeu-lhe em castelhano - Sou homem.

Duvidei do que vi, e ouvi, approximei-me a enferma, e com uma vela observava-lhe os labios, a ver se ella os movia, e nos queria pregar alguma peça; então eu mesmo perguntei - quer laço? respondeu-me a mesma voz - e que me ha de você castigar? Confesso-lhe meu amigo que heriçaram-se-me os cabellos e tive medo quando vi a mulher, para bem dizer morta e que unicamente palpitava o coração e não obstante não me podendo convencer do que presenciava, continuei em meu interrogatorio - e quem é você? Respondeu-me - sou o correntino João Poncio, que um companheiro meu matou-me no caminho do Povo, com uma punhaada debaixo das costellas para me roubar quatro patacões que eu tinha ganho em um divertimento.

A essa resposta uma mulher de nome Emilia põe a frente da enferma uma imagem do Senhor Crucificado, e eu perguntei-lhe o que queria? respondeu-se - isto - perguntei o que se era a Cruz? - respondeu-se-me - sim, uma cruz no lugar onde me mataram para todos se lembrarem de mim, e mesmo minhas irmãs, que nunca resaram por minha alma um padre-nosso. - Então, disse Emilia, eu reso todas as noites pelas almas do purgatorio. - Respondeu a voz - porem não resa por mim - Eu então disse - va-se embora que lhe mando fincar a cruz no lugar onde o assassinaram. - Logo depois desta promessa, a mulher, assentou-se, demonstrou estar em seu perfeito juizo, e em completo estado de saude, ficando, porem, sorprendida por se achar na cama desgrenhada, solto o vestido e cercada por tanta gente. Perguntou-se-lhe, se se lembrava do que tinha dito, respondeu que nada disse, pois que estava dormindo.

Não sendo supersticioso como vme. deve conhecer, e não acreditando em cousas sobrenaturaes, tratei de indagar quanto pude a ver se tinha cahido em alguma pela isto é se havia alli algum ventriloco, se se havia dado o facto da morte de João Poncio, quem elle era, a data do acontecimento e outras circumstancias que me parecem necessarias para acreditar no que vi. Soube que não existia ventriloco algum, e que era exacta a morte de João Poncio em 1846 ou 1847, e que o cadaver esteve por mais de vinte e quatro horas no lugar em que se commetteu o assassinio sendo sepultado a expensas de um morador, por caridade, e evadindo-se o assassino para Corriente. Não hesitei, pois, em satisfazer a minha promessa; mandei fazer a Cruz e a benzer, e no dia 18 do corrente a mandei fincar no lugar destinado.

Estou certo que a minha historia deve dar lugar a commentarios, e muitos duvidarão della, porem a isto responderei que se não houvessem incredulos a religião do mundo seria uma e unica. Sou seu amigo.&."

Fonte: O CONSTITUCIONAL (Rio de Janeiro/RJ), 11 de Outubro de 1863, pág. 04, col. 02-03

segunda-feira, 14 de março de 2022

Justiça popular em São Nicolau

 



Tragedia de sangue

O Municipio, de S. Borja, no Rio Grande do Sul, refere o seguinte:

"Em S. Nicoláo chegaram á casa do capitão Andrade dous individuos e pediram pousada.

Já ao anoitecer, depois de terem sido alimentados, como tivessem declarado que partiriam muito cedo, o capitão mandou uma menina levar-lhes os preparos para tomarem mate antes de sahir, no dia seguinte.

A menina levava no collo uma creança de pouco mais de anno.

Ao entregar-lhes aquelles objectos, os assassinos desferiram golpes sobre as duas innocentes victimas, fugindo a maior gravemente ferida e levando já ao colo um cadaver com o ventre aberto e os intestinos de fóra, rastejando pelo chão.

Immediatamente os dous criminosos penetraram no centro da casa e atacaram o pobre velho, maior de 70 annos, que cahio sob os seus golpes.

A sua esposa, que fugia espavorida, ao ouvir-lhe os gritos desesperados, conseguio vencer os impulsos do instincto de conservação, e dominada pelos impulsos do coração, voltou para defendél-o e morreu ao seu lado.

Depois desta scena de sangue os bandidos passaram ao ambicionado saque, colhendo todos os objectos de valor.

O crime foi premeditado e ajustado entre quatro, na serraria de Trois e Irmão, d'onde tinham sido despedidos os dous que o executaram, e onde eram ainda empregados os outros dous. Tres chamam-se Senon, Turibio e Benjamin.

Perseguidos, os dous executores passaram para o municipio de S. Borja, e na occasião em que transpunham o Uruguay, a força destacada em Garruchos fez fogo sobre elles, matando um, que ficou sepultado sob as aguas, e conseguindo apprehender o outro. Este foi em seguida entregue ao subdelegado de S. Nicoláo, que já havia capturado os outros dous cumplices. Depois de feito o inquerito policial, foram os criminosos enviados para S. Luiz."

Diz o mesmo jornal que os presos foram em caminho tirados do poder da escolta e mortos por um grupo de mais de 300 pessoas.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 10 de Junho de 1888, pág. 02, col. 01-02

domingo, 13 de março de 2022

Imigrantes dinamarqueses em Sorocaba

 



Immigrantes dinamarquezes

Lemos no Diario de Sorocaba:

"O sr. tenente Bento José Ribeiro, fazendeiro deste municipio, acaba de fazer acquisição de um grupo desses immigrantes, aliás uns dos que mais activam as esperanças dos introductores de immigrantes dinamarquezes, que se acham empregados em sua fazenda da Boa Vista.

São todos moços e bem dispostos ao trabalho; nada entendem da lavoura do paiz, valendo-lhes a boa vontade, dedicação e diligencia que empregam. Em breve tornar-se-hão bons trabalhadores.

O sr. tenente Ribeiro tem sido um lavrador modelo neste municipio; é o unico que tem sabido desenvolver a lavoura em grande escala com braços livres; começou a cultival-a ha annos com camaradas brazileiros, que, rebeldes como naturalmente são, tem com muito trabalho e actividade podido encaminhal-os ao serviço. Ha tempos o sr. tenente Ribeiro tentou empregar na sua lavoura, como empregou, cearenses, dos quaes nada conseguio, continuando com os mesmos camaradas do municipio. Agora é o primeiro a introduzir no municipio colonos extrangeiros.

O sr. tenente Ribeiro tem sido sempre incançavel na pratica da lavoura de que se occupa, cultivando em sua fazenda o café, a canna de assucar, o fumo, o algodão e alguns cereaes, além do assucar, aguardente e queijo que fabrica para o consummo e exportação.

A sua fazenda é situada em lugar alto, aprazivel e saudavel, tendo boa e abundante agua, bons e espaçosos prédios, engenho com cylindros de ferro tocados a vapor, para beneficiar a canna e o café, tendo para todo o serviço mais de 200 pessoas em muito boa ordem."

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 01 de Março de 1887, pág. 03, col. 01

sábado, 12 de março de 2022

O famigerado Dorothéo Aguirre

 



Foi capturado em Alegrete, Rio Grande do Sul, o famigerado bandido Dorothéo Aguirre, sub-chefe de uma quadrilha de salteadores que assolava aquelle municipio. Interrogado pela autoridade policial respondeu:

"Que nunca se persuadio de ser capturado, pois duvidava que o conhecessem, disfarçado como estava;

Que não tem a vida para negocio, pois tanto lhe faz morrer hoje como amanhã;

Que podem ficar certos de que com elle não judiam, pois tem certeza não demorará receber uma corda ou faca com que termine a existencia:

Que o criminam de muitas mortes quando (palavras textuaes) só em oito teve participação directa, e que, quanto ás outras em que tomou parte, a outrem cabe a responsabilidade."

Todas estas revelações foram feitas com o maior sangue-frio, sem denotar a mais leve commoção.

Dorothéo Aguirre é pardo reforçado, de estatura regular, olhar penetrante e muito vivaz em sua linguagem.

Representa ter 30 annos de idade e diz-se que é excellente atirador e que maneja regularmente a espada.

É verdadeiro malvado, um cannibal.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 25 de Dezembro de 1886, pág. 01, col. 04


sexta-feira, 11 de março de 2022

O anão de Campinas



 O anão em Campinas

Refere o Diario de Campinas, de hontem:

"No Bosque dos Jequitibás effectuaram-se na tarde do ultimo domingo e na de ante-hontem as diversões annunciadas, cujo producto deve reverter em beneficio da Sociedade M.P. Correia de Mello.

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Segundo se deprehendia dos annuncios publicados, os animaes que possue o Sr. Bueno de Miranda, proprietario do Bosque, e também o anão de nome João José de Oliveira poderiam ser vistos pelo publico, mediante o preço do ingresso. Entretanto era exigido o pagamento de 1$000 por pessoa que quizesse ver os animaes e o referido anão.

Occasionou esta falta de clareza nas publicações feitas grande balburdia e protestos, invadindo o povo á força o recinto vedado. O anão e outras pessoas que com elle se achavam puzeram-se a salvo por uma porta que dava para o campo, fugindo em um carro para a cidade.

Muitas pessoas que mais se indignaram pelo que em boa razão julgavam falta de cumprimento do programma ao regressarem de noite á cidade, dirigiram-se ao hotel onde estava hospedado o anão, pois não se resignavam facilmente a deixar de vel-o. Por causa disto e para que o anão João José de Oliveira, não soffresse alguma violencia foi elle recolhido ao quartel da companhia de permanentes, onde se conservou parte da noite."

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 11 de Setembro de 1884, pág. 02, col. 02

quarta-feira, 9 de março de 2022

A quadrilha de Generoso & Corvo Branco

 



Uma correspondencia de S. Luiz de Gonzaga para O Conservador, do Rio Grande do Sul, diz que ultimamente tem andado por aquellas immediações uma quadrilha de bandidos composta de doze ou quatorze individuos praticando as maiores tropelias. É ella capitaneada pelos faccinoras Generoso e Corvo Branco, ambos conhecidos como assassinos, ladrões e desordeiros, tendo já o primeiro cumprido a pena de muitos annos de prisão na capital da provincia.

Estes bandidos teem commettido toda sorte de tropelias, impondo ao estabelecimentos commerciaes o fornecimento gratuito de bebidas, carneando gado nos campos alheios, raptando moças, chegando até a cortar a facão o cabello das pobres mulheres, a vista de seus maridos que não podem reagir por inferioridade de forças, alem de assassinatos e muitos roubos.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 30 de Setembro de 1883, pág. 01, col. 05

terça-feira, 8 de março de 2022

Índios bravios atacam em Santa Cruz do Rio Pardo

 



Escrevem-nos de Santa Cruz do Rio Pardo em 11 do corrente:

"Reproduzem-se os assaltos dos indios bravios do sertão contra os moradores no districto da freguezia de S. José do Rio Novo.

Na semana finda, em uma roçada que, em sua fazenda, denominada Taquaral, mandava fazer José Garcia Duarte e Oliveira, dois camaradas deste, um velho e um menino de 12 a 14 annos de idade, foram pelos indios assassinados á flexadas e bordoadas e seus cadaveres atrozmente esphacelados.

Do velho foram amputadas as partes genitaes, e a cabeça, que, separada do corpo, fôra encontrada á grande distancia deste e tantos outros actos de verdadeiro canibalismo foram commettidos, que seria longo enumeral-os.

O menino teve igual sorte á de seu pae, e seu misero corpo, depois de, como delle, bastante offendido e fracturado, foi espetado em uma grossa vara de dez a doze palmos de altura, e esta fincada no sólo, deixando os terriveis indios as suas presas neste lamentavel e misero estado.

Recebi estas informações do proprio José Garcia e de um official de justiça que, achando-se em dilligencia, vio horrorisado os restos esphacelados desses infelizes.

Consta que a autoridade policial procedeu á corpo de delicto, e trata das providencias necessarias.

Porém, de que serve a justiça dar estes passos, quando é certo que, a não ser pelo meio do cathechismo, nada se conseguirá no sentido de melhorar a sorte dos infelizes habitantes deste sertão?

Nem com taes exemplos, infelizmente, tantas vezes reproduzidos, poude vingar o projecto em 1880 ou 1881 sobre a cathechese dos indios neste termo. Oxalá que este facto vá servir de incentivo ao nosso governo, ou aos nossos representantes na provincia, para que seja adoptada alguma medida cujos effeitos sejam na realidade salutares!"

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 21 de Agosto de 1883, pág. 02, col. 02

domingo, 6 de março de 2022

Tremor de terra em Santo Cristo



  - De Santo Angelo (S. Pedro do Rio Grande do Sul) escreveram á Descentralisação, em 24 de Abril:

"No dia 17 de Março, deu-se um facto no lugar de Santo Christo, 1o. districto deste termo, que merece ser publicado em seu conceituado jornal. É o seguinte:

Ás 8 1/2 horas da noite ouviu-se um grande estrondo que parecia vir de debaixo da terra, e incontinenti sentiu-se um forte tremor de terra, que durou como um quarto de hora, concluindo tudo por um forte clarão, que produziu a queda de seis pessoas, em casa do sr. capitão Ignacio José Monteiro, fez cahir os pratos que estavam sobre uma mesa; o gado que estava no curral e não estava deitado, tremia como se fosse atacado de alguma molestia.

Quando as pessoas levantaram-se, sentiram dôres, porque estava com os musculos contrahidos.

Os cães gritavam. Um rego d'agua que ha na habitação do mesmo sr. capitão, lançou fóra toda a agua.

Este tremor foi presentido em uma distancia, de seis leguas.

No outro dia foram examinar os lugares adjacentes, e nada encontraram que fizesse crêr, que tivesse havido o narrado.

Conto o facto tal qual ouvi, e garanto a veracidade do que deixo dito, porque a pessoa que me contou foi testemunha e é de todo o credito."

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 06 de Junho de 1883, pág. 02, col. 01

sábado, 5 de março de 2022

Um grandioso funeral em Pelotas

 



ENTERRO DE UMA RAINHA NO RIO GRANDE DO SUL

Em Pelotas morreu a rainha dos bohemios alli acompanhados.

Este facto não causou abalo ao cambio; mas, em compensação attrahiu para cima de oitocentas pessoas, pouco mais ou menos, avidas, de saber como se chamava a rainha, de que tinha fallecido, qual o medico que a tratou, como iria vestida, que tal seria o enterro, etc.

No meio de um sem numero de lamentações e lagrimas que cruciavam o coração, elevou-se uma capella ardente, em que foi collocado o real corpo, vestido da seguinte fórma:

Uma tunica de seda côr de rosa, primorosamente bordada de filagranna de prata, uns calções do mesmo tecido e côr, golpeado de fôfos de filó branco, botas de marroquim encarnado e turbante, de gaze: tudo muito bem combinado.

Era espectaculo digno de respeito o que apresentava o acampamento; mulheres, homens e crianças com a cabeça descoberta entoavam preces em voz lacrimosa, implorando o descanso eterno de sua rainha e pranteando magoados o passamento de sua chefe, porque ha a notar uma circumstancia a fallecida, era a progenitora da tribu, de sorte que, esta não chorava só a morte de sua rainha, mas tambem a de uma mãe, avó, sogra, etc., etc.

As crianças, coitadinhas, esgazeavam os olhos, espantados, ante aquelle espectaculo nova para ellas.

O marido e filhos da finada conservavam-se de joelhos com os olhos fitos no céo horas inteiras, transparecendo-lhes nas faces os signaes da mais acerba dôr.

No domingo, de manhã, pelas 8 horas, grande era o concurso de povo, a pé, em carros, a cavallo, commentado o acontecimento das fórmas mais extravagantes possiveis e aguardando impaciente o desfilar do prestito.

De instante a instante fazia-se ouvir o som lugubre dos funeraes que tocava a banda de musica União, que, já na vespera, tinha concorrido para a solemnidade do acto.

Ás 10 horas chegaram dous sacerdotes, revestidos de seus habitos e dispensaram ao corpo da finada os ultimos sacramentos.

Por esta occasião, imponente era o silencio da multidão, cortado, unicamente, pelas chalaças de algum idiota que se julgava nas corridas de touros, ou de alguma alma depravada e impia que, fazendo apparato de seus máos sentimentos, atirava á face da morte, alguma estridula gargalhada de escarneo.

Depois da encommendação sahiu o caixão, cujas argolas seguravam os principaes da tribu, seguindo-se grande acompanhamento de carros e povo a pé.

Ao chegar á ponte de Santa Barbara depositaram o caixão no carro funebre de 1a. classe, sendo estes seguido da referida banda de musica e curiosos.

O cadaver foi dado á sepultura em terreno comprado pelos beduinos, que tiveram o trabalho de mural-o e preparal-o mui decentemente.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 25 de Março de 1883, pág. 02, col. 01-02

quinta-feira, 3 de março de 2022

Escravizados no Rio Grande do Sul em 1881

 



O Diario de Pelotas dá a seguinte estatistica do estado servil na provincia do Rio Grande do Sul:

Até 30 de Junho do anno passado existiam na provincia 70,430 escravos, sendo 37,369 homens e 33,061 mulheres, distribuidos por 39 municipios.

O municipio que até aquella data contava menor numero de escravos, era o de Santa Cruz, que possuia 65. O que contava maior numero era o de Porto Alegre que tinha 8,001.

Em 30 de Setembro de 1873, quando se fechou a matricula, existiam 91,208, donde se infere que devido ás manumissões e á morte, diminuiu a população escrava na provincia 20,778 individuos no curto periodo de oito annos, o que corresponde a uma quarta parte, approximadamente.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 27 de Abril de 1882, pág. 02, col. 03

quarta-feira, 2 de março de 2022

Ataque à Vila de São Luiz

 



No dia 27 do mez passado, foi assaltada a villa de S. Luiz, municipio de S. Borja, na provincia do Rio Grande do Sul por um grupo de 50 homens, que depois de sustentar um tiroteio com a policia assassinarão barbaramente ao alferes honorario Luiz Cavalheiro do Amaral, que se achava preso e que ia responder á jury pelo crime imputado da morte de um fazendeiro do lugar, de nome Souto.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 15 de Fevereiro de 1882, pág. 01, col. 03

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