segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A Lebre Branca e o Galo Preto

"Havia um homem muito selvagem que tinha uma devoção de rezar todos os dias um Pai Nosso a S. Francisco. Quando esse homem estava para morrer apareceu-lhe um anjo e disse-lhe: 'Se deres três esmolas avultadas, ainda te salvarás'. Passado algum tempo entrou um velhinho na quinta e os cães não lhe fizeram mal. O guarda quando viu o velhinho dirigiu-se até ele e disse-lhe:

- Como é que entrou aqui sem os cães lhe fazerem nada?

O velho respondeu:

- Eles são mansinhos, fiz-lhe umas festas e eles não me fizeram mal.

O velhinho foi visitar o homem que estava para morrer e pediu-lhe uma esmola, o homem vira-se para o criado e diz-lhe:

- Dá-lhe cinquenta alqueires de milho.

- Mas ele não trás saco - diz o criado para o patrão.

- Dá-lhe um saco dos melhores para levar o milho.

- Também não te como transportá-lo - diz o criado.

- Então põe o milho na carroça e vai levá-lo a casa.

O criado assim fez tudo e lá mais o velhinho. Quando já iam a caminho ouviram o sino da igreja tocar. O homem que tinha dado as esmolas ao velhinho já tinha falecido. Nisto passou-lhes por perto uma lebre branca a fugir de um galo preto. O velhinho vira-se para o criado e diz-lhe:

'O teu patrão já morreu, e a lebre branca, que passou, significa que ele se salvou, o galo preto era o inimigo que vinha a correr atrás dele, mas não o apanhou. Aquele que fizer o bem já neste mundo se salvará e tu meu amigo podes levar o milho que eu não preciso' - e dito isto desaparece.

O velhinho, a quem o homem deu a esmola e com quem o criado falou era o Santo a quem o homem rezava todos os dias um Pai Nosso.

Recolha efectuada em Caféde - Concelho de Castelo Branco."

Fonte: MOURA, José Carlos Duarte. Contos, mitos e lendas da Beira. Coimbra/Portugal: A Ar Arte/Associação Cultural Outrem, 1996, p. 10.
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