terça-feira, 3 de abril de 2018

Imigração em São Paulo - Parte 02


"Nas fazendas, a disciplina e o regime de trabalho eram intensos. Trabalhavam os homens, as mulheres e as crianças. Acordavam às 4 horas da manhã e às 5:30 horas, iniciavam o trabalho que ia até o anoitecer. Ao longo dos 12 meses do ano, sem descanso, plantavam, carpiam e colhiam o café. As mulheres e os jovens chegavam a cuidar de aproximadamente mil pés de café, enquanto os homens adultos tratavam de 2 mil pés.

O salário era baixo, algo em torno de 60$ a 90$000 mil-réis por mil pés de café a 500$ a 600$ réis por 50 litros de café colhido. Muitos fazendeiros permitiam o cultivo de outras culturas entre os pés de café, o que garantia a alguns colonos um pouco mais de dinheiro no final da colheita. Mas em caso de falta grave, o imigrante podia ser dispensado e seus bens confiscados pelo fazendeiro para saldar eventuais dívidas. Não havia escola para as crianças e tampouco assistência médica. E não faltaram denúncias de abuso de poder, espancamento, estupros e assassinatos. A família Aguilar Ortega, natural de Granada, Espanha, chegou ao Brasil em 1925. Depois de oito meses de trabalho, fugiu de uma fazenda de café, na região de Araraquara, 'assustados pela presença de um negro que ambicionava casar-se com uma das filhas', lembra Angela Aguilar Ortega, 89 anos.

Muitos colonos abandonaram as fazendas, rompendo o contrato ou fugindo da sanha dos proprietários. Muitos voltaram para o seu país de origem. Alguns foram em busca do sonho de enriquecimento na Argentina. Outros tantos deixaram as fazendas para se instalar em núcleos urbanos próximos ou se transferiram para a cidade de São Paulo para tentar a sorte nas indústrias.

(...)

A notícia dos maus-tratos aos imigrantes correu o mundo e, no início do século XX, Itália e Espanha proibiram a vinda de imigrantes para o Brasil. Diante da nova crise de falta de mão-de-obra, o governo paulista decidiu criar o Patronato Agrícola, uma espécie de serviço de fiscalização do trabalho dos imigrantes nas fazendas de café e, ao mesmo tempo, estimular a vinda de trabalhadores japoneses para as lavouras paulistas, a partir de 1908.

A ação do Patronato Agrícola melhorou a vida dos imigrantes. Quando a família de Kaoru Yamada, 75 anos, chegou ao Brasil, em 1928, vindos da província de Kagawa, no Japão, a situação já era outra. Seus pais vieram trabalhar nas lavouras de café da Fazenda Aliança, perto de Mirandópolis. Kaoru lembra da escola, distante 4 quilômetros da colônia, onde assistia a filmes mudos, das festas de ano-novo, das gincanas, das verduras que sua mãe plantava e dos novos hábitos alimentares da família.

(...)

A história dos imigrantes, no entanto, não é feita só de tragédias. Ao contrário. As pequenas lavouras de subsistência, plantadas com autorização dos fazendeiros no meio do cafezal, permitiram que uma parcela desses trabalhadores acumulasse recursos para adquirir uma pequena propriedade. A maioria desses lotes estava localizada nos núcleos coloniais criados pelo governo do Estado ou por particulares, voltados para a produção de gêneros alimentícios que abasteciam as fazendas e pequenas cidades.

De 1877 a 1894, foram criados 25 núcleos coloniais que ocupavam as terras esgotadas dos antigos cafezais ou zonas impróprias para o cultivo do café. Esses núcleos deram origem a diversas cidades como Nova Odessa, Cananéia, Ribeirão Pires, entre outras.

A riqueza gerada pelo café também propiciou um formidável desenvolvimento de inúmeras cidades paulistas como Jundiaí, Campinas, Ribeirão Preto, Rio Claro, São Carlos e, é claro, da capital, que se tornou a cidade mais importante da República. Ali nasceram os primeiros bancos e se expandiram a indústria e o comércio. Esses núcleos urbanos se constituíram num forte fator de atração dos imigrantes que deixavam as fazendas de café em busca de melhores oportunidades nas áreas urbanas."

Fonte: UMA América por fazer. Horizonte Geográfico - A emoção de descobrir o mundo. São Paulo, ano 13, número 67, p. 65-66.

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