Trata-se de um texto raro e desconhecido, escrito em tom de crônica, eivado de certo etnocentrismo e de um total desconhecimento jornalístico sobre nossa região e sobre o Brasil. Vale pelo seu registro histórico, porém há alguns erros evidentes. Suprimi partes que não interessavam. Ao longo do texto, coloco minhas observações (grifos em negrito). Pesquisei na Internet e o periódico "La Nuova Rivista" encontrado não é o mesmo que fornece estas informações.
Texto extraído de: La Nuova Rivista. Napóles, Itália, set. 1974, ed. 235, p.13-14
“Por mais que a nova indústria tenha operado verdadeiros milagres de desenvolvimento social e econômico na América do Sul, esta terra ainda permanece como recanto da superstição, onde mesmo nas grandes capitais como Buenos Aires, Rio de Janeiro [sic] e a revolucionária Havana, o mito e a fábula ainda ganham espaços na imprensa local, atraindo multidões de leitores e rádio-ouvintes ao reino do folclórico e do maravilhoso. Nosso correspondente, Maurizio Giniani, esteve na refrescante Montevidéu no último mês de março, com o propósito de colher impressões da nova safra [sic] agropecuária deste ano, que promete bons negócios para os criadores locais. [o repórter apresenta Rio de Janeiro como capital brasileira]
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Estando a caminho do Rio de Janeiro, Giniani resolvera visitar a província [sic] brasileira do Rio Grande do Sul, onde interessou-lhe particularmente a Exposição Agropecuária de Pelotas, cidade que lembra por seu clima o gueto de San Giorgio.[ o repórter refere-se ao Rio Grande do Sul como província]
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A reportagem de nosso correspondente com criadores locais foi interrompida em seu objeto, pelo estranho boato que se fizera durante a feira. Dito isto, Giniani foi informado que os criadores de gado da região estavam em estado de verdadeiro pavor com o ataque que seus rebanhos estavam sofrendo nas últimas semanas de misteriosos animais que mutilavam sem cálculo de comiseração nenhum o gado nas campinas. Maurizio deveras muito impressionado quis saber mais a respeito da história e colocou-se a perguntar entre os participantes da feira.
Instruído pelo senhorzinho Camargo, Giniani foi convidado pelo senhor Silva a acompanhá-lo à sua hacienda [sic – no texto original este é o termo empregado em itálico] no interior daquela municipalidade, no lugarejo denominado Capão do Leão, há cerca de 30 km da zona urbana da fria Pelotas.[o uso do termo "hacienda" faz intuir que português e espanhol são a mesma língua]
Chegando à vasta planície, na área de propriedade do senhor Pavão [sic], Giniani caminhou alguns metros na ondulosa campina e deparou com um cadáver fétido e putrefato de uma rês, cujos olhos saltavam as órbitas e cuja visão era horrenda. Foi informado que a tal rês fora atacada por uma espécie de animal escuro e assustador, de porte médio, na noite de ébano comum naquelas paragens. Maurizio indagou ao senhor Pavão se este não seria o caso de um ataque de felinos selvagens, como o jaguar, típico das matas brasileiras. O senhor Pavão respondeu-lhe em arcaico português que o sangue da pobre vaca fora todo retirado e as mutilações e cortes que havia pelo corpo do cadáver eram desconhecidas para que fossem atribuídas a qualquer animal sabido por ele. [quando ele diz que o entrevistado expressou-se em arcaico português, talvez ele queira se refierir ao sotaque regionalista] Citou também vários outros casos acontecidos nos arredores nas últimas semanas e sua persistente preocupação com a ocorrência, pois narrou-lhe que além disso alguns animais adoeciam inexplicavelmente. Estamos será, acaso, diante de um vampiro dos trópicos? [Creio que o senhor Pavão é o local "Pavão", que ele não soube desvincular da pessoa que o atendeu]
Giniani e o senhor Pavão foram mais além e visitaram outro local, às margens do Rio Piratini, linha fronteiriça entre a República Brasileira e a República Uruguaia [sic], onde encontrou novos relatos sobre o fenômeno e surpreendeu-se com a crueza e a sinceridade dos camponeses em relatarem os fatos. [O Rio Piratini não é a linha fronteiriça do Brasil com o Uruguay, provavelmente ele deduziu sem verificar] Ouviu que há cerca de três meses, luzes coloridas percorrem o céu e uma delas deixara vestígios circulares no solo. Um dos camponeses presenciou tal fato e contou-lhe que, por volta do amanhecer, quando iniciava seu trabalho diário, pode perceber que três ou quatro destas “luzes” encontravam-se há poucos metros de distância. Crendo se tratar de ladrões de bois, foi ao encontro das misteriosas luzes e viu as mesmas subirem em direção à abóbada celeste, sem deixar vestígios.
Outra mulher de feições ameríndias, veio ao encontro de Giniani e ofereceu ao animado repórter de La Nuova, um aromático café brasileiro, provavelmente oriundo daquela região, plantado por aquelas mãos inocentes e fraternas. [O incauto repórter crê, simplesmente, que o café por ser um produto largamente produzido no Brasil, é cultivado em todo o seu território] A mulher descreveu caso ainda mais pitoresco: um contato ufológico de terceiro grau. Giniani gentilmente acedeu ao pedido da mulher e ouviu sua narração com interesse despretensioso. Disse-lhe a mulher que na noite de fevereiro de 1973, quando seu marido encontrava-se longe do lar, envolto em negócios particulares, resolvera transitar a noite por uma vereda que conduz à casa de sua cunhada, não muito longe dali. Como fizera inúmeras vezes o caminho, não sucedeu-lhe o medo de sair sozinha, pois a hora noturna não era avançada. Na medida em que se aproximava da casa da cunhada, viu ao horizonte, estranha luz azulada-alaranjada na direção norte. Pôs-se a correr em espanto evidente, porém acreditou que o a luz poderia vir de um automóvel e acalmou-se. Parada, viu a mesma luz aproximar-se e surgir cada vez maior e mais ameaçadora. Sem precisar medidas, todavia com os dedos apontando para uma janela que serviu de referência, a simplória senhorinha descreveu um disco achatado-oblongo ao atônito Giniani, de cores difusas, que segundo ela, aterrisou em pouca distância de sua fronte. Apavorada a mulher saia a correr e a gritar, indo de encontro a um pântano (os brasileiros designam bagnado), onde a lama ornou seu vestido rústico. Confirmava a história com três testemunhas que teriam visto o dito UFO na mesma noite e naquelas proximidades.
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A América do Sul seguramente produz rico folclore em todo o globo!
Gianpiero Dallarme