segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Gatos Pelados vs. Galinhas Gordas


 PE-GON, o clássico estudantil da cidade

As disputas futebolísticas entre os Colégios Pelotense e Gonzaga, que ficaram conhecidas na cidade como Pe-Gon's, marcaram a vida esportiva de Pelotas, principalmente entre as décadas de 1930 e 1960. Eles estão fartamente documentadas nas atas de reuniões dos Grêmios, na imprensa diária local, nos periódicos estudantis e nas entrevistas, realizadas para este estudo, com pessoas que vivenciaram esse tempo.

Como se pode observar pela note, em um jornal local, bem antes da década de 1930 já existiam competições entre as duas escolas: " Foot-Ball: teve lugar, ontem, no 'ground' do Sport Club Pelotas, o 'match' entre os 'teams' infantis dos Gymnasios Pelotense e Gonzaga. O jogo teve grande entusiasmo de ambas as partes. [...] o resultado foi 0 x 0 (zero a zero)" (CORREIO MERCANTIL, 02.12.1911). Assinala-se que esse jogo, provavelmente, tenha sido um dos primeiros Pe-Gon's.

Nessa época, diante da inexistência dos grêmios estudantis, os jogos de futebol entre as duas escolas, nos anos vinte, eram organizadas pelo Sport Club Gonzaga e o Sport Club Pelotense, também do mesmo período. Eram entidades estudantis que possuíam diretoria própria, eleita todos os anos, e que não eram necessariamente constituídas somente por alunos.

Até a década de 1960, as maiores disputas esportivas entre o Pelotense e o Gonzaga ocorriam nos campos de futebol, embora houvesse, também, competições em outras modalidades de esportes como basquete, voleibol, atletismo e xadrez. Mas era nos jogos de futebol que se podia nitidamente constatar a rivalidade entre os dois estabelecimentos escolares. Rivalidade esta que não era demonstrada somente por alunos, mas por toda a comunidade escolar que eles representavam, e que acabava por dividir a própria comunidade pelotense. A defesa das cores dos dois colégios não se limitava, portanto, somente aos membros de cada. Havia uma efetiva participação da população da cidade nos jogos, junto às torcidas e nos posteriores debates que dividiam opiniões sobre os dois times. A cada jogo que ocorria, esse era um assunto que ganhava destaque nos cafés, nos bares, nas emissoras de rádio e nos jornais locais.

Daí decorre, portanto, o significado da análise de tais disputas frente aos objetivos desse trabalho, uma vez que buscar-se-á o significado dessas práticas esportivas considerando-as como práticas culturais de um contexto escolar e urbano. Contexto esse permeado pela influência maçônica na cidade e pelos desdobramentos da crescente organização e influência político-ideológica da Igreja Católica em nível nacional e local. E que tinha, também, como pano de fundo, marcadamente a partir da década de 1930, o conflito entre os defensores do ensino público e do ensino privado, em sua maioria, católico.

Os jogos eram previamente combinados entre os representantes das duas equipes. Além do local, horário, juiz, regras específicas para o jogo, os alunos determinavam, também, a destinação dos valores recolhidos na bilheteria, os times convidados para jogar a partida preliminar, a localização das torcidas, o troféu e as medalhas a serem distribuídas aos vencedores. Era comum que nos Pe-Gon's se realizasse o "melhor de três", ou seja, ocorriam três partidas de futebol, geralmente no final do ano, e as medalhas, os troféus e os prêmios eram entregues somente no último jogo ao time campeão. No período entre os jogos havia muitas notícias e debates, veiculados pela imprensa diária e estudantil, sobre o condicionamento físico e preparo técnico dos atletas e, logicamente, sobre a organização das torcidas.

Fonte: AMARAL, Giana Lange do. Gatos Pelados x Galinhas Gordas: desdobramentos da educação laica e da educação católica na cidade de Pelotas (décadas de 1930 a 1960). Porto Alegre: Tese de Doutoramento do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003, pág. 225-226.

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