quarta-feira, 4 de julho de 2018

O Namoro de Bufarinheiro


"Uma vez que, na Idade Moderna, erótico designava 'o que tivesse relação com o amor', como essa definição se materializaria em práticas? Há registros de estratégias de sedução que soariam pouco familiares e mesmo pueris aos olhos de hoje. É o caso do 'namoro de bufarinheiro', descrito por Júlio Dantas, corrente em Portugal e no Brasil, ao menos nas cidades. Consistia em passarem os homens a distribuir piscadelas de olhos e a fazerem gestos sutis com as mãos e bocas para as mulheres que se postavam à janela, em dias de procissão, como se fossem eles bufarinheiros a anunciar seus produtos. É também o caso do 'namoro de escarrinho', costume luso-brasileiro dos séculos XVII e XVIII, no qual o enamorado punha-se embaixo da janela da moça e dizia nada, limitando-se a fungar à maneira de gente resfriada. Caso a declaração fosse correspondida, seguia-se uma cadeia de tosses, assoar de narizes e cuspidelas. Escapa-nos, sobremaneira, o apelo sedutor que os tais 'escarrinhos' poderiam ser naquele tempo, mas sabe-se que até hoje, no interior do país, o namoro à janela das moças não desapareceu de todo."

Fonte: DEL PRIORE, Mary. História íntima. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011, pág. 45-46.
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