quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A Gruta Misteriosa do Cerro dos Cabritos


Entre o Cerro das Almas e o Passo do Descanso, até aproximadamente onde se encontra a Fazenda da Amizade do Sr. Edar Ribeiro, existe inúmeros cerros (morros) que podem ser observados na direção norte, na condição de quem está indo de carro pela estrada até o Passo das Pedras. Pois bem, por ali existe o chamado Cerro dos Cabritos. Nunca entendi bem qual fosse o tal cerro, pois as indicações mais seguras apontam que o mesmo seja aquele próximo à Fazenda da Amizade. Todavia, alguns nomeiam Cerro dos Cabritos outras elevações e daí fica difícil precisar qual cerro as pessoas falam e que é o objeto desta história. O que sei é o seguinte: depois do Cerro das Almas, tem duas outras elevações, a terceira em seguida é o cerro em que se desenrolam os acontecimentos que vou tratar. Saliento que a tal história tem mais caráter folclórico, mas merece o registro por seu aspecto curioso e até envolvente.

Pois bem, no tal cerro há uma gruta cercada de enigmas da qual se comentam muitas histórias. Alguns falam que naquela gruta se reuniam escravos na época imperial. Outros, inevitavelmente, vinculam a formação cavernosa à existência de ouro e outras possibilidades de riquezas. O que se fala da gruta, entretanto, de tão curioso, não são as histórias sobre o que ela foi ou o que ela guarda, mas o que acontece ali. Diz-se que nenhum tipo de lume ou fonte de luz é capaz de permanecer aceso ali depois de determinado ponto em que se penetra na gruta. Pode ser lanterna, holofote, lampião, vela, leds luminosos, qualquer coisa. Campistas, pescadores, graniteiros, gente que mora perto, militares em exercício de campo – vários já tentaram e sempre constataram o mesmo. Após determinado ponto da gruta qualquer tipo de fonte luminosa misteriosamente apaga. Já se tentou ir até o fundo da gruta, mas nunca ninguém conseguiu chegar até lá, justamente por causa deste empecilho inexplicável. Um grupo de campistas conta que, num sábado em que pretendiam pernoitar no cerro, passaram defronte a gruta perto do anoitecer e viram sair de lá uma espécie de bruma baixa rente ao solo e um som assemelhado a um murmúrio que os amedrontou muito. Não tiveram coragem de entrar na gruta, mas ficaram com a imagem gravada na mente, pois notaram que não havia qualquer tipo de neblina em qualquer outro local do morro, seja no cume, na região da encosta ou no sopé. Outra história, narrada por dois peões que foram em certa ocasião buscar uma novilha que se extraviara por aquelas bandas, dá conta que tendo que passarem defronte à gruta, para poderem se embrenhar numa galeria de mata nativa onde se encontrava o animal, ouviram sons misteriosos vindos de dentro da gruta, como se fossem “gritos de uma bicho que está sofrendo esganimento”. Crendo se tratar de uma brincadeira ou até mesmo a presença de algum tipo de animal no interior da gruta, apearam do cavalo e foram verificar o que poderia ser. O som cessou por alguns instantes, tendo retornado logo em seguida. Adentraram a caverna e perceberam movimentos de algo. Um deles com muito alarde começou a descer a gruta (segundo contam a mesma é plana nos seus primeiros metros, mas em seguida passa a sofrer uma inclinação para baixo, como se fosse um “buraco”) procurando fazer-se notado. Novamente, os sons e a percepção de algo que se mexia. Acenderam os isqueiros em vão, apagaram-se e não acendiam.  Neste momento, começaram a ficar profundamente assustados com o breu existente na caverna, pois também observaram que a entrada da gruta começava a ficar opaca a seus olhos, como se “uma cerração aparecesse”. Saíram, então. O enigmático do fato é que eram quatro horas da tarde de um dia de verão!

Porém, o fato mais estranho e assustador e que é o principal desta história teria ocorrido envolvendo um oficial do Exército uns anos atrás. A região, como é de conhecimento dos leonenses, é utilizada tanto pelo Exército quanto pela Marinha para exercícios militares. Vez ou outra há pelotões de soldados acampados próximo ao morro. Pois bem, em certa ocasião, um oficial do Exército soube da história e resolveu conhecer a tal gruta. Foi ao local acompanhado de alguns soldados para realizar uma prospecção. Verdadeiramente, não acreditou muito nos relatos a respeito da gruta.

Entretanto, ao chegar lá, ele e seus soldados constataram o que diziam as conversas que ouviu. Nenhum tipo de fonte luminosa ficava aceso no interior da caverna, depois de um determinado ponto. Inclusive, utilizou o que havia de melhor em tecnologia disponível no momento e o resultado foi o mesmo. Intrigado, retornou ao QG, mas não fez o registro do caso, pois naquela ocasião sua companhia tinha ido à região para outros propósitos. Durante certo tempo, esqueceu o fato. 

Foi então que acidentalmente numa conversa trivial comentou o ocorrido na gruta com um colega seu e outro oficial – este da Marinha e que servia em Rio Grande. O sujeito da Marinha interessou-se deveras pela história e disse-lhe que poderia ser de valia para uma nova visita à gruta um equipamento que ele mesmo poderia conseguir em seu regimento. Tratava-se de uma lanterna “supertecnológica”, utilizada em explorações oceânicas, capaz de suportar pressões altíssimas. De pronto, aceitou o empréstimo do amigo e o convidou também a fazer uma nova inspeção a tal gruta misteriosa no Capão do Leão.

Na data marcada, havendo um exercício de campo já programado, foram os oficiais na tal gruta, acompanhados de alguns soldados. Ficaram todos pasmados! Não foi que a tal lanterna apagou-se inexplicavelmente! Nem o cara da Marinha conseguia explicar. Aquilo era algo perto do impossível para ele.  Intrigados, orientaram então um soldado a fazer fotos mais ao interior da gruta possível, no sentido de compreender o estranho fenômeno, utilizando-se um equipamento de fotografia em infravermelho. A exploração acabou e todos retornaram ao quotidiano do quartel. O oficial ansioso aguardou apenas a revelação das fotos do infravermelho.

Certo dia, em seu escritório chegou-lhe um envelope com as aguardadas fotos. O oficial abriu e surpreendeu-se gravemente. Conta-se que revelou a poucos o que viu nas fotos, pois estava muito perturbado. Quando a história de suas fotos tomou corpo e começaram a comentar no quartel, ele já não estava mais naquela unidade, pois tinha sido transferido para o Rio de Janeiro. Até hoje tudo isso permanece um mistério, bem como colocam a história e sua veracidade no conjunto de lenda.

A propósito, muito à boca pequena, comenta-se que o conteúdo das fotos mostrava as paredes da gruta com um aspecto assustador. Como se dali houvesse uma substância viscosa, escura. Ao mesmo tempo, a estranha textura das paredes da gruta mostrava “rostos humanos com expressões de desespero e agonia”.

Agradeço ao amigo Adriano Hönnicke pela lembrança.

Nota: o aludido "Cerro dos Cabritos" pode ser na verdade o "Cerro da Paulina" - um outro local bem próximo. (atualização de 07 de Maio de 2017)
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