segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bairro Jardim América - Parte X


Próximo e logo após a emancipação o crescimento populacional no bairro atingiu seu paroxismo. Ainda na época pré-emancipação, durante o governo Irajá Rodrigues em Pelotas (1979-1982), houvera investimentos na infra-estrutura do Jardim América, o que favoreceu que mais migrantes viessem. Além disso, comparativamente o bairro permanecera com terrenos mais baratos do que outras áreas pelotenses que também eram focos de atração – Guabiroba, Sítio Floresta, Simões Lopes, etc. Todavia, na pós-emancipação outro fator preponderou para o povoamento acelerado do Jardim América: a ocupação desordenada das áreas verdes.
A questão das áreas verdes sempre foi polêmica. Espaços públicos que deveriam ter sido praças, quadras esportivas e largos, permaneceram abandonados no decorrer do tempo. Alguns foram aproveitados como campos de futebol, para construção de escolas ou prédios públicos. Entretanto, certa parcela continuou desocupada. Num processo que envolveu também motivações políticas e problemas sociais, a ocupação destas áreas era feita muito rapidamente, com casa de madeira surgindo da noite para o dia. Até bem pouco tempo atrás a ocupação das áreas verdes ainda era um fato presente.
Por outro lado, surgiram novos loteamentos nos arredores do bairro, evidenciando ora a necessidade de ampliação dos limites urbanos, ora a questão da pobreza que se agravava. Empreendimentos novos foram os loteamentos Zona Sul, Olaria e Campestre. O primeiro será tratado num artigo específico. Já o Loteamento Olaria surgira em 1992 num terreno próximo a rótula em que se encontram as avenidas Três de Maio e Eliseu Maciel, sendo planejado pela Empresa de Engenharia Zambrano. O Loteamento Campestre data também da década de 90 e deve-se a iniciativa do Sr. Oriente Brasil Caldeira.
A Vila Nova (que também recebe o nome pejorativo de Pombal) foi resultado da urgência de políticas públicas para a questão da moradia popular no bairro. Além da já citada ocupação das áreas verdes, outro problema foi a posse de áreas de risco junto ao Sangão. No ano de 1991, foram entregues 35 chalés de madeira construídos pela Firma Madeireira Santo Antônio, de Viamão, numa área do bairro até então paradoxalmente despovoada. Com coordenação do governo municipal e financiamento da Cohab e da Caixa Econômica Federal, o objetivo era atender uma demanda antiga que consistia na alocação da população mais pobre em moradias mais dignas e decentes. Apesar disso, o crescimento populacional foi acompanhado do aumento da pobreza-miséria no bairro. Com a Grande Enchente de 1991 em Pedro Osório, mais migrantes vieram. Não por acaso, segundo o PNUD (órgão das Nações Unidas), o município de Capão do Leão está entre os dez do Rio Grande do Sul que tiveram o maior crescimento populacional em termos percentuais no período 1991-2000.

Bairro Jardim América - Parte IX


A localidade mais povoada do Capão do Leão teve diversas ondas migratórias durante as décadas, porém podemos afirmar que o período de grande transformação populacional se deu entre 1970 e 1990. O bairro – que hoje conta com uma população de aproximadamente 15 mil habitantes – deixou de ser um mero subúrbio rural para tornar-se um “bairro cidade”, na acepção do santa-mariense Manoel Mendieta Araújo.
Como já tratado em artigo anterior, o povoamento do Jardim América foi lento aos seus primeiros quinze anos. Grande parte dos moradores era proveniente de Pelotas, muitos agricultores de colônias de imigração alemã: Monte Bonito, Cerrito Alegre, Santo Amor, etc. Outros, entretanto, se estabeleceram no bairro em função de circunstâncias profissionais, como antigos funcionários do IPEAS, DAER e DNER. A partir da década de 1970, a imigração intensificou-se e a presença de pessoas que saíram do campo em função do êxodo rural fora uma constante. Neste aspecto, o número de migrantes oriundos de outros municípios da Zona Sul foi muito significativo. Sobretudo, gente vinda de Canguçu.
A 1ª. grande onda migratória se deu por volta de 1971, 1972, em razão das obras de construção da BR-116, no trecho Pelotas – Jaguarão. Empresas se instalaram na região para a construção da rodovia e muitos empregados acabaram se fixando nos arredores. O caso mais exemplar do fenômeno foi a Firma Extersul. Na época, esta companhia fixou-se no terreno que viria a ser anos mais tarde o Loteamento Zona Sul. A maioria absoluta de seus empregados (187 no total) era proveniente de Bagé e Caçapava do Sul. No entanto, as obras findaram e a firma quebrou financeiramente, deixando seus funcionários à míngua. Resultado: sem emprego e dinheiro, a maioria (164) foi absorvida pela Acevagran Construções para as obras da Eclusa do Canal São Gonçalo. Com o tempo, boa parte não retornou às suas cidades-natais e estabeleceu-se no Jardim América. A década de 70 continuou sendo bastante movimentada na questão da migração. Outro período intenso fora o triênio 1975-1976-1977 – fato motivado pela construção dos frigoríficos Extremo-Sul e Rio-Pel.
Um dado que contribuiu para que as pessoas viessem para trabalhar e acabassem escolhendo o bairro para morar foi do mesmo modo o preço barato dos terrenos. Uma história curiosa que se conta é que houve um morador que adquiriu o próprio lote dando em troca somente um toca-fitas e um fogão usado. Bem verdade, quando a Construtora São Marcos comprou os terrenos que ainda pertenciam à Construtora América (a que loteou o bairro), a mesma entendeu que determinadas áreas dificilmente seriam comercializadas, devido aos eucaliptos, ao mato e aos alagadiços. Então propôs o seguinte sistema: quem desmatasse dois lotes, ficava com um. Diante de tal “barbada”, vieram grupos de homens dos mais diversos lugares que, em mutirões, limpavam até quatro, seis, oito lotes de uma só empreitada. Desta forma, famílias inteiras garantiam seu “pedaço de chão”.
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