segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O crime do filho da francesa


Obs.: Climaco ou Quilimaco é uma localidade rural e histórica existente no interior do município de Capão do Leão.

"O Diario de Pelotas publica o seguinte facto:

<< Informarão-nos de um facto que bastante nos impressionou, por ser perpetrado por uma criança e contra sua propria mãi, a quem esse rapaz, além da vida, deve o estar hoje em liberdade.

<< O filho da franceza, proprietaria da hospedaria no Climaco, depois de roubar-lhe quanto dinheiro existia em casa, fugio, presume-se que para Bagé, em companhia de uns tropeiros que seguião para essa localidade. Desta maneira é que esse monstro pagou com a maior ingratidão, os esforços empregados por sua pobre mãi para salva-lo, quando ha um anno elle era acusado de ter morto um preto; é com novas dôres e novas lagrimas, que elle a indemnisa das que já por sua causa soffreu.

A infeliz Sra. mandou um proprio em seu seguimento, porém homem sem inteligencia, parou em casa de Amorim, uma das pousadas da diligencia de Bagé, e ahi contou o facto e ao que ia. Algumas pessoas derão-lhe de conselho que voltasse, porque indo o rapaz com tanto dinheiro os tropeiros não o deixarião agarrar, como até a vida delle proprio corria grande risco; que estava claro, que se elles o levavão comsigo, era para em logar conveniente se apossarem desse dinheiro tão mal adquirido, e que então talvez esse filho desnaturado encontrasse a justa recompensa de seus crimes, nas mãos de seus companheiros.

O proprio atemorisado, voltou e de tudo informou a infeliz senhora, que a tão triste notícia, mostrou ainda quanto amor se encerra no coração de uma mãi; esqueceu os embaraços em que ficava pela somma que elle lhe roubára, esqueceu sua ingratidão, esqueceu tudo, para só lembrar que era o filho de suas entranhas, e banhada em pranto, não cessa de exclamar: vão matar meu filho! quem m'o salvará!..., e a misera se entrega a uma dôr profunda, sem cuidar de seus interesses.

<< Esta noticia que nos foi dada por uma familia que regressou do interior, parando em casa de Amorim, data apenas de 5 a 6 dias, e suppomos que a mãi do rapaz, nenhum passo deu junto á autoridade policial."

Fonte: JORNAL DO COMMERCIO (RJ), 23 de Maio de 1861, p. 02, c.04-05
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