quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Sobrenome Schatzmann



SCHATZMANN, SCHAZMANN é tesoureiro. Serve para designar o administrador dos bens monetários de um senhor feudal, burgo, associação ou comunidade. Também serve para designar cambista ou mesmo banqueiro (no contexto medieval). É um sobrenome que aparece mais relacionado a famílias cristãs, mas pode sim ser encontrado em famílias judaicas.

As duas formas são encontradas em toda a Europa da língua alemã. 

A Casa de M'Bororé

 



Na região missioneira do Rio Grande do Sul as lendas são comuns ao Uruguai e Argentina. Vêm todas do ciclo das grandes guerras, quando os jesuítas foram obrigados a ir deixando terras e posses onde haviam imprimido o inapagável acento de sua atividade inesquecível. O método do jesuíta era uma obstinada organização do trabalho, a ordem inflexível, diária e completa, o cuidado minucioso e sereno na administração. A lenda multiplica sua riqueza e onde o padre saiu ficou um rastro de ouro atraindo os olhos ávidos. Subterrâneos, poços, casas, torres, são esconderijos que esperam uma ressurreição de suas entranhas de pedrarias, alfaias cintilantes, montões de moedas, barras de ouro, imagens de prata, armas fabulosas e ainda roteiros para novas minas, novos tesouros, novos deslumbramentos. As Sete Missões no Rio Grande do Sul são centros de interesse para os sonhos das "botijas", malas, jarrões, caixas, tudo repleto de ouro. Como, no acervo conhecido, as riquezas incalculáveis não apareceram, ninguém acredita que o jesuíta as tenha levado mas as escondera nos rincões desertos ou abruptos. Os índios fiéis foram indicados para sabedores desses segredos de Golcondas perdidas nos cerros e encostas gaúchas, no fundo frio das lagoas imotas, sob a muralha de pedras. Os índios sabem do segredo mas não trairão a confiança. Não dizem. Não confiam. Não desertam. É muitos ficaram vigilando, no meio do mistério secular, os montões que enriqueceriam países inteiros.

A Casa de M'Bororé pertence a este ciclo. É uma casa branca, erguida na mata, num termo que ninguém sabe onde fica. Certo que deve existir porque os "antigos" sempre falaram no caso. É um casarão ermo, caiado, escondido, plantado numa lombada. A casa está repleta de barras de ouro, de prata, de alfaias, imagens, em pilhas, em montes, em rumas. Nos corredores jazem lotes de surrões, carregados de moedas. É a mesma estória dos tesouros de Quimivil e Culumpajao, as Casas Brancas que esperam seu descobridor em Uruguai e Argentina.

O rondador da casa branca dia e noite anda em redor dela; é um índio velho, cacique que foi, M'Bororé, de nome, amigo dos santos padres das Sete Missões da serra, que dá vertentes para o Uruguai.

Os padres foram tocados pra longe, levando só a roupa do corpo... mas a casa branca já estava feita, sem portas nem janelas... e M'Bororé, que sabia tudo e era cacique, de noite, e precatado, com seus guerreiros, carregou de todos os lugares para aquele as arrobas amarelas e as arrobas brancas, que não valiam a caça e a fruta do mato e água fresca, e pelas quais os brancos de longe matavam os nascidos aqui, e matavam-se uns aos outros.

M'Bororé desprezava essas arrobas; mas como era amigo dos santos padres das Sete Missões, guardou tudo e espera por eles, rondando a casa branca, sem portas nem janelas.

Ronda e espera... (J. Simões Lopes Neto - Lendas do Sul, p. 75)

O padre Carlos Teschauer, S. J., saudosíssimo mestre do Folclore gaúcho, escreveu apenas que "Outro suposto depósito de ouro era A Casa Branca sem portas nem janelas de M'Bororé no Alto Uruguai. Na región misionera argentina, M'Bororé deixou de ser o vigia para transformar-se em topônimo. M'Bororé é o local escolhido pelos jesuítas, expulsos pelo Rei D. Carlos III d'Espanha, para esconderijo dos tesouros.

Es creencia muy arraigada en las gentes de Misiones que los jesuítas, al ser expulsados, amontonaron todos sus tesoros en un pueblo que precaucionalmente habían hecho construir ex profeso em medio de la selva virgen y de cuya existencia sólo ellos tenían conocimiento, pues los que actuaron en su construcción desaparecieron.

Este pueblo, llamado Emboré, tenía sus casas sin puertas ni ventanas, y la entrada a ellas se hacía por subterráneos, cuyas bocas estaban ocultadas escrupulosamente. Los que transportaron los tesoros, que según las gentes de allí sobrepasaron en valor y cantidad a todos los que refieren los cuentos de las mil y una noches, desaparecieron a su vez y con ellos los rastros que conducían al famoso Emboré, perdido desde entonces entre las sombras de la selva impenetrable y las densas nubes de la leyenda (Juan B. Ambrosetti - Supersticiones y Leyendas, p. 124, Buenos Aires; s/d).

Fonte: CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos Mitos Brasileiros. São Paulo: Global, 2012, pág. 268-269. (edição digital)

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