sábado, 23 de novembro de 2019

A escravidão indígena e a escravidão africana no Brasil


"No século XVI, a colonização da América portuguesa foi totalmente dependente da escravidão indígena. Apenas no século XVII a escravidão africana se impôs como a principal forma de exploração do trabalho. Como explicar essa mudança?

Três importantes historiadores procuraram responder a essa pergunta e chegaram a diferentes conclusões. Vale a pena conhecê-las, pois é assim que se desenvolve o processo de produção do conhecimento.

Fernando Novais considera que o tráfico atlântico se tornou um eixo da acumulação mercantilista europeia. Assim, os interesses metropolitanos no tráfico teriam sido fundamentais para a substituição da mão de obra indígena pela africana, enquanto a escravização de indígenas seria uma atividade pouco controlada pela coroa portuguesa.

Visão diferente é apresentada por Luiz Felipe de Alencastro. Para ele, a incapacidade de se estabelecer regularmente o comércio de escravos indígenas no Brasil foi ocasionada, entre outros motivos, pela escassez de capital, pelas dificuldades no transporte terrestre e pela falta de interesse de grupos mercantis e da coroa portuguesa. A íntima ligação que se estabeleceu entre Brasil e Angola no século XVII, via tráfico atlântico, tornou a utilização da mão de obra escrava africana muito mais vantajosa e adequada aos interesses de vários grupos que participaram da expansão do Império português no Atlântico. Além dos senhores de engenho brasileiros, dos traficantes e dos colonos em Angola, destacam-se os jesuítas, cujos interesses econômicos e políticos no Brasil e na África os impeliram a justificar a escravização de africanos para assegurar a liberdade dos indígenas.

Stuart Schwartz propôs uma visão mais diversificada para o processo. Para ele, uma combinação de declínio demográfico indígena, mudança nos níveis de oferta e preços dos escravos indígenas e africanos, a percepção, por parte dos senhores, de uma maior produtividade e habilidade dos africanos para realizar tarefas específicas, além da eficiência cada vez maior do tráfico atlântico, explicariam a substituição.

Entretanto, é sempre bom lembrar que a mão de obra indígena não deixou de estar presente em várias regiões do Brasil ao longo do período da escravidão africana."

Fonte: ABREU, Martha; DANTAS, Carolina Vianna; MATTOS, Hebe (orgs.). O negro no Brasil: trajetórias e lutas em dez aulas de História. Rio de Janeiro/RJ: Objetiva, 2012, pág. 17-19.


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