segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Os chineses do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

 


O século XVIII parece ter sido o marco temporal do contato entre o Brasil e os chineses. Foram escravos, segundo alguns autores, os que aqui primeiro desembarcaram. Contudo, o projeto do cultivo do chá verde no início do século XIX na Fazenda Imperial de Santa Cruz e naquela que mais tarde seria batizada como Jardim Botânico Real foi, de fato, o primeiro esforço sistemático e alicerçado pelo Estado no sentido de se importar asiáticos. Neste esforço, D. João VI autorizou a vinda de 2.000 chineses. Vieram, entretanto, cerca de 300. Seria a primeira imigração livre para nosso país. 

Contudo, estes trabalhadores não se adaptaram à mudança de clima e às condições de vida e trabalho (maus tratos, privações, etc.) e vários conseguiram retornar à terra natal. É digno de nota, para compreender o cenário dramático destes imigrantes, a denúncia de um deputado inglês, em 1834 (portanto, mais de vinte anos desde o episódio da importação de trabalhadores), de que após o fracasso das plantações de chá “alguns desses chineses teriam sido abandonados nas florestas do Rio de Janeiro para serem perseguidos por esporte por caçadores”. Embora não conste registro probatório desta denúncia, sabe-se, todavia, que, em razão da fuga da fazenda imperial, dois chineses do Jardim Botânico foram caçados, com o auxílio de cavalos e cães, pelo filho de D. João VI. 

Fonte: ARAUJO, Marcelo. Chineses no Rio de Janeiro: O século XX e a migração em massa. In: Encontros, Depto. de História do Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, ano 13, n. 25, 2º. Sem. 2015, pág. 69-70.

Maragatos no Capão do Leão


"A caçada

Vamos pôr sob as vistas dos nossos leitores, por transcripção feita do Diario Popular, um dos expedientes indignos de que os colligados lançam mão em Pelotas para formar os seus valorosos e enormes batalhões patrioticos:

'No Capão do Leão, onde se acha acampado o patriota João Manoel, com quarenta e tantos trabalhadores arrancados ao lar da familia e ao trabalho habitual, é impossivel transitar-se!

Não passa ali ninguem que o patriota não prenda e amarre para defender a patria e o sr. Barreto Leite!

Ainda hontem passavam diversos proprios pelo Capão do Leão quando foram bruscamente presos pelo patriota e collocados na fileira dos defensores da camarilha monarchica!

Não escaparam á patriotada os proprios empregados da hydraulica, que foram tambem arrancados á força do trabalho para engrossarem as rarefeitas fileiras dos defensores de la patria!

E todas estas violencias não terão fim?

Esse homem que deixou o trabalho e a familia, para pôr-se de emboscada na estrada pública, com o fim unico de atacar os transeuntes, que constituiu-se o maior flagello dos moradores d'aquelles lugares, perseguindo-os e amarrando-os, não terá um dia a justa punição dos crimes que ha praticado?

Deve esse estado de cousas continuar impunentemente sem que a dignidade nacional se levante n'um assomo de justa indignação e trata de punir severamente os vandalos que assim perturbam a ordem publica e a tranquilidade das familias?

Podem, a liberdade individual, a honra das familias, a propriedade do cidadão continuar á mercê do banditismo armado que se levanta nas ruas e estradas publicas?

Tudo isto não terá fim?"

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 12 de Fevereiro de 1892, pág. 02, col. 02
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...