domingo, 27 de fevereiro de 2022

Enchente em Porto Alegre em 1880



CHUVAS NO RIO GRANDE DO SUL

Abundantissimas chuvas haviam cahido em Porto Alegre, occasionando não pequenos prejuizos e sérias apprehensões.

O Guahyba e outros rios que neste desaguam, encheram consideravelmente a ponto de alagar em parte as ilhas fronteiras á capital.

Sabendo a presidencia do estado lastimoso dos habitantes daquellas regiões, tratou de lhes ministrar os promptos soccorros de que necessitavam.

Um vapor foi empregado em transportar para a cidade as familias e mais pessoas que ameaçadas se achavam em suas vidas.

Os inundados foram alojados em um dos compartimentos de edificio da Sociedade Beneficente Brazileira União, e alli soccorridos de alimentação e bem accommodados.

O numero destes infelizes já era superior a trinta.

Durante a enchente, que inundou aquellas ilhas, não constava ter-se dado perda alguma de vida, nem desgraça de maior vulto.

Em consequencia das mesmas chuvas, deram-se na capital alguns desmoronamentos.

O trabalho da linha de bonds estava sendo feito com irregularidade, para alguns pontos da cidade.

A maré arrojava á praia diversos animaes mortos e entre elles algumas rezes.

A população esteve por algum tempo seriamente ameaçada de ficar sem illuminação publica.

A agua, tendo invadido o gazometro, impossibilitaria as machinas de funccionar, se as chuvas continuassem por mais alguns dias.

No dia 17 as aguas subiram a grande altura.

A praça da alfandega achara-se invadida e na rua Clara a agua chegou até quasi meia quadra, sendo o transito feito sobre ligeiras pontes collocadas pelos moradores da rua.

Em Taquary a enchente chegou até junto ao estabelecimento dos srs. Spalding & Taaff.

Os trabalho da estrada de ferro, na estação á margem do Taquary, estão debaixo d'agua; o rio subiu mettros em poucas horas e deu-se consideravel prejuizo em cimento.

Diz a Reforma que, em consequencia da grande enchente, que tem tornado quasi impossivel as communicações entre os varios pontos da campanha, poucos eleitores têm concorrido aos collegios para a eleição de dous deputados à camara temporaria.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 01 de Outubro de 1880, pág. 02, col. 03

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Associação Progresso & Indústria

 



Diz a Gazeta de Porto Alegre que, sob a denominação de Progresso e Industria, foi fundada, na Lagôa Vermelha, uma associação para introducção de pastores das melhores raças cavallar, muar e vaccum, afim de apurar as deste gado alli existentes. São fundadores della o tenente-coronel Tristão José de Almeida e o capitão Augusto Edmundo Moojen. Já tinham sido feitas as encommendas para a Europa, e por todo o proximo mez deve alli chegar a primeira remessa daquelles animaes.

Fonte: CORREIO PAULISTANO (São Paulo/SP), 25 de Julho de 1880, pág. 02, col. 04

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A Seca de 1877 no Rio Grande do Sul

 



É penosissima a situação do interior da provincia do Rio Grande do Sul. Consultada as camaras municipaes pela commissão central nomeada pelo presidente da provincia para inquerir dos effeitos da secca, são ellas unanimes em declarar que graves prejuisos tem soffrido a agricultura e a industria pastorial, e que, se não forem de prompto pelo governo tomadas medidas no sentido de serem soccorridas as familias pobres, dentro em pouco a fome com o seu cortejo de miserias e de crimes alçará o collo em todos os pontos da provincia.

A de Caçapava declara:

Que são grandes os males causados pela secca nos campos assolados pelo incendio, que reduzia a cinzas cercados, mangueiras e até algumas casas;

Que o gado e mais animaes depois de devorarem a plantação que escapava ao incendio, abria-se das fazendas em demanda de alimento, ficando reduzidos á metade pelo extravio, furto e magreza;

Que a classe pobre já esmola o sustento, e que esta miseria crescerá de ponto, na época em que acabarem-se os mantimentos da ultima colheita, que não serão substituidos pela d'este anno, que inutilisou a secca.

E conclue pedindo, por intermedio, o auxilio do governo para que sejam remettidos áquelle municipio, não dinheiro, mas generos alimenticios como farinha, milho e feijão, e bem assim sementes de outros cereaes para nova plantação.

A camara de Taquary abunda nas mesmas considerações e, municipio agricola, occupa-se particularmente dos prejuisos causados á lavoura pela secca.

Conclue, como a camara antecedente, julgando imprescindivel a acção do governo em favor da classe pobre.

A camara de S. João Baptista de Camaquam responde:

Que os males causados pela secca no municipio são incalculaveis relativamente á agricultura, e bem assim quanto á destruição de hervaes e difficuldade de largarem os paus casca para cortumes, recurso de que viviam alguns proprietarios, que possuem mattos;

Que a industria pastoril tem soffrido igualmente, e virá alli a soffrer maiores prejuisos;

Que a secca já tem alli produzido fome.

E conclue igualmente opinando que o governo deve mandar soccorrer, até as proximas colheitas, com viveres mais de cincoenta familias pobres, algumas das quaes perderam os seus chefes na guerra contra o governo do Paraguay.

A de S. Gabriel, que já havia representado ao governo da província, acerca dos males causados pela falta absoluta e prolongada de chuva n'aquelle municipio, não destoa dos conceitos das outras municipalidades.

A de Rio Pardo qualifica de calamitoso o estado do municipio, onde avulta a população pobre, que tirava a subsistencia do producto de sua pequena lavoura, completamente estragada pela secca.

O fogo tem causado prejuisos incalculaveira, queimando grandes extensões de mattos e plantações, sendo o damno causado na colonia de Santa Cruz, avaliado em mais de 100:000$. O districto da costa da serra, tambem agricola, tem tido grandes prejuisos occasionados pelo incendio.

A fome, que já começa a sentir-se, tomará dentro em dous mezes proporções aterradoras, se o governo não soccorrer com comestiveis os habitantes mais pobres do municipio.

Longe iriamos nós se tentassemos fazer a resenha de todos os males, occasionados pela secca e descriptos pelas municipalidades.

As de D. Pedrito, Piratinim e S. José do Norte invocam tambem o auxilio do governo.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 23 de Março de 1877, pág. 01, col. 02-03

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Superstição contra a seca

 



A Revista de S. Gabriel, na provincia do Rio Grande do Sul, diz que alli continua a secca e que quasi todas as noites, uma porção de pessoas de todos os sexos e de todas as condições vai ao Vacacahy lavar os pés de algumas imagens, para que chova... É um verdadeiro pagode.

Aqui não ha crença religiosa, ha crassa ignorancia. Assim o entende a imprensa da localidade e nós tambem.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 22 de Fevereiro de 1877, pág. 01, col. 05

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

João da Silva Tavares (Joca Tavares)

 



General Silva Tavares

O nosso correspondente em Porto Alegre transmittiu-nos a infausta noticia do fallecimento, naquella cidade, do general honorario do exercito João da Silva Tavares.

Esse mesmo correspondente, domingo ultimo, havia telegraphado communicando o restabelecimento do venerando ancião, sendo essa noticia a precursora da morte, pois hontem era recebido telegramma dando o fatal acontecimento.

O illustre morto era uma gloria do Estado do Rio Grande do Sul, que se orgulhava de ter um filho do valor do general Joca Tavares, como era conhecido.

Muito moço ainda, o general Joca Tavares, que tinha em sua veias o sangue do verdadeiro guerreiro, tomou parte na guerra dos Farrapos, em 1835, como official de cavallaria da guarda nacional, revelando-se um valente e destemido combatente e de superior estrategia, tendo com o seu valor dado extraordinario impulso á revolução.

Por occasião da guerra contra o tyranno Lopez, dictador do Paraguay, Silva Tavares foi um dos primeiros a apresentar-se e a marchar para o campo da peleja.

Durante a guerra, Silva Tavares teve feitos grandiosos de coragem, valentia e audacia, pelejando ao lado de officiaes do exercito como Osorio, Menna Barreto e outros, que elogiaram a sua destreza no ataque e em outros requisitos de incansavel guerreiro.

Silva Tavares tomou parte em toda a campanha, sendo parte saliente nos combates mais importantes.

Tomou parte no combate de Tuyuty, com Porto Alegre, tendo após encarniçada lucta sahido victorioso de tão importante feito.

O general Joca Tavares era liberal estremado, tendo pelos seus efeitos, recebido diversas condecorações militares do governo imperial e o titulo de general honorario do exercito.

Contribuiu poderosamente para a abolição da escravatura e o advento da Republica. 

O general Joca Tavares, terminada a guerra, regressou para a sua estancia, sem abandonar as suas idéas politicas.

Em 1892, por occasião de se formar o partido federalista, foi o general Joca Tavares nomeado um dos seus chefes, tomando parte em toda a campanha federalista, dirigindo os combates de carro, por não poder montar, devido á sua avançada idade.

Com a pacificação, o general Joca Tavares votou-se á propaganda federalista, empregando toda a sua influencia e actividade para o engrandecimento e desenvolvimento dessa idéa.

A morte veiu surprehendel-o no seu posto, perdendo o Estado do Rio Grande do Sul um filho valoroso.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 10 de Janeiro de 1906, pág. 02, col. 06

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Prostituição infantil na Belle Époque carioca

 



MISSAS NEGRAS

NA RUA MARANGUAPE

EXPLORAÇÃO DE CRIANÇAS

Ha seguramente um mez falla-se nas rodas mais doidivanas da Colombo nas missas negras da rua Maranguape. A missa negra é, como toda a gente sabe, a domesticação do sabbat. Aquillo que as feiticeiras de Macbeth e a tropa das delirantes e hystericas da Idade Média julgavam fazer em pleno campo nas horas perdidas da noite, foi transformado em deboche caseiro. Aqui, mesmo sob a capa litteraria de religião de Satan, um grupo de depravados sustentou por alguns mezes um templo de perversões, onde se orava ao Vício Triumphal.

Agora, porém, não se trata de nada disso. Não ha nem religião nem litteratura. Existe na rua Maranguape uma casa, um prostibulo de missas negras, aberto das dez da noite em diante, em que se dão scenas delirantes e na qual existem crianças. É uma casa nova, de apparencia innocente. Entra-se, sobe-se uma escada. Ha uma franceza que vos diz: - Attention, monsieur, vous savez, c'est très grave...

A entrada custa 20$. Esses 20$ permittem aos mortaes a iniciação dos mysterios...

Dá-se na primeira sala, onde ha toda a sorte de excitantes, desde a visão fescenina até o opio. Ahi é permittido, mudar a roupa por uma camisola branca, que elles chamam tunica - tal qual como nos hospitaes de molestias infecciosas. E então perguntam ao freguez o que quer ver. Cada sala custa mais cinco mil réis.

É impossivel descrever num jornal os horrores que cada uma das salas acoita, as perversões, os desequilibrios e antes de tudo o torpe lenocinio das crianças.

Não se trata sómente da exhibição repugnante de mulheres nem de um sacerdote, enorme negro da ultima sala, trata-se de pequenos e meninas, a sorrir inconscientemente naquella caverna de horror, scenario de toda a sorte de monstruosidades, tão absurdas e tão colossaes que nem o Kama-Sutra, na sua enorme lista, as enumerou! A frente da casa é occupada por um ingenuo restaurant.

Apontar á policia este horror é uma necessidade. A policia deve saber mas anda a fechar os olhos. Trata-se, sobretudo, da mais torpo, da mais vil das explorações - a exploração das crianças. Os emprezarios do templo devem quanto antes mudal-o ou fechal-o impedindo o interrogatorio das creaturinhas, porque o povo, avido de escandalos, teria nos interrogatorios muito que saber e muito que admirar do grande numero de pessoas conhecidas compromettidas nessa historia de missas negras.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 25 de Novembro de 1905, pág. 01, col. 05


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Poltergeist no Rio de Janeiro em 1905

 



CASAS APEDREJADAS

Criançada? - Vidros partidos. - Investigações da policia.

Os velhos processos dos duendes que, annos atrás, faziam as delicias das almas supersticiosas e dos noticiaristas sem assumpto, demoralisaram-se completamente com alguns casos em que se percebeu a malicia de visinho ou algum plano de estrategia amorosa.

Ninguem acreditaria, portanto, nos tempos praticos que correm, na intervenção dalmas penadas no apedrejamento constante e brutal que, já alguns dias, têm soffrido as casas n. 87, 89 e 91 da rua da Luz.

Pedras pequenas e grandes, fragmentos de telhas, projectis de toda a especie vão bater nas vidraças das janellas e das claraboias, estilhaçando-se com enorme ruido.

Isso se tem dado em pleno dia, á luz causticante do sol, ou ás horas mortas da noite.

As pobres familias que ahi moram, estão em um susto permanente, atemorisadas com um possivel desastre, que bem póde um calháo, penetrando por um janella deixada por acaso aberta, attingir qualquer pessoa, criança ou adulto.

Para maior segurança retiraram-se de casa as crianças.

O delegado local, a quem foi participado o caso, participou da convicção dos moradores, de que a gente muito deste mundo devia attribuir-se a graçola, se é que assim se póde chamar ao abuso barbaro.

O Dr. Pinheiro Costa, da 11a. circumscripção, a que o local pertence, em um detido exame, verificou que o ponto de partida das pedras parecia ser a casa n. 74 da rua Malvino Reis, residencia de uma senhora viuva.

Dous meninos, um, filho da dona da casa, e outro, criado, foram por isso sujeitos a interrogatorios e afastados da casa.

Mas o apedrejamento continuou apezar disso, e então desconfiou a auctoridade de um crioulo, tambem empregado da casa.

Nada está, entretanto, verificado ainda, a não ser a completa destruição de vidros de todas as janellas dos fundos daquellas casas e das claraboias.

A policia continúa em pesquizas.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 01 de Setembro de 1905, pág. 03, col. 06

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A varíola em Rio Grande

 



VARÍOLA NO RIO GRANDE

Os jornaes do Rio Grande do Sul trazem a agradavel noticia do notavel declinio da epidemia de varíola na cidade do Rio Grande.

O movimento de vaccinação, activamente impulsionado pelo Dr. Toledo Dodsworth, em missão do Instituto Vaccinico do Rio e pelas auctoridades locaes, com o valioso auxilio do governo do Estado, continúa sempre crescente e por todo o Estado com a melhor acceitação publica.

O Dr. Flôres Soares, secretario da directoria de hygiene estadoal, que trabalhou com o Dr. Dodsworth na pratica e cultura da vaccina animal, continuou com grande exito esse serviço na cidade do Rio Grande, indo agora pratical-o em Porto Alegre, onde milhares e milhares de pessoas tem sido immunisadas, em curto prazo.

A Federação publica a seguinte noticia sobre o declinio da variola na cidade do Rio Grande:

"Continúa a decrescer rapidamente a epidemia da variola no Rio Grande.

Comparado o numero de notificações de doentes nos sete primeiros dias dos mezes de junho, julho e agosto, notam-se no primeiro mez 65, no segundo 51 e no actual 17."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 24 de Agosto de 1905, pág. 03, col. 04

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Nossa participação na live "Os Aspectos Históricos no Romance Granito" da escritora Janice Barth


 Fomos convidados pela professora, linguista e escritora gaúcha Janice Barth a debater juntamente com o geógrafo Jairo Costa e o historiador Jaime Barbosa Junior sobre os aspectos históricos abordados (e que servem também como pano de fundo) de sua importante obra "Granito". O evento aconteceu na noite da segunda-feira passada, numa live transmitida pelo YouTube. Muito bom o papo! Inscreva-se no canal da escritora Janice Barth.

Ciganos no Campo de São Cristóvão

 



Bando de ciganos

No campo de S. Christovão appareceu hontem á tarde um bando de ciganos que alli ficou abarracado.

O bando é de 21 pessoas das quaes oito são creanças. Não deixou de despertar a attenção dos populares que logo se aggruparam para melhor os observar.

Dentre esses, infelizmente, alguns se portaram de modo pouco digno, chegando mesmo a apedrejarem os immigrantes.

Compõe-se o bando de tres familias, das quaes são chefes Simão Canchichi, Juan Mascovithe e Smitch Pando, sendo este ultimo quem dirige todos os outros.

São naturaes da Servia e hontem desembarcaram do vapor italiano Ré Umberto.

Smitch Pando, o chefe do bando, falla castelhano e nesse idioma explicou que vinham em procura de trabalho, pretendendo seguir para o Estado de Minas Geraes.

Na viagem que fizeram a pé da cidade ao campo de S. Christovão, ficou perdida pelas ruas uma menina.

O delegado para lá mandou algumas praças para guardar os ciganos das aggressões populares.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), pág. 04, col. 03

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

O contrabando no Rio Grande do Sul no início do século XX



(...)

Mais ainda, senhores: os brasileiros occupam o segundo logar entre os proprietarios estabelecidos justamente nos departamentos da linha da fronteira e suas proximidades, quer do lado de terra, quer dos rios Uruguay e Jaguarão, assim discriminados:

Departamento de Rocha..... 313 proprietarios

Departamento de Paysandú..... 623 proprietarios

Departamento de Salto..... 791 proprietarios

Departamento de Artigas..... 484 proprietarios

Departamento de Rivera..... 1.271 proprietarios

Departamento de Cerro Largo..... 764 proprietarios

Departamento de Taquarembó..... 916 proprietarios

Departamento de Treynta y Trez..... 303 proprietarios

_______________________________________________

Total..... 5.465 proprietarios

Convem notar que estes departamentos são justamente aquelles cujas areas juntas representam 108.212 kilometros de superficie total do territorio da Republica Oriental, calculada em 186.925 kilometros quadrados, desprezadas as fracções; isto quer dizer que 5.465 brasileiros são proprietarios na porção mais considerada da campanha oriental, emquanto que nestes mesmos departamentos existem sómente 5.413 proprietarios de vinte nacionalidades diversas.

Nestas condições é facil ter-se uma idéa exacta da importancia da colonia brasileira no Estado Oriental, e por conseguinte o cuidado que requer a confecção de qualquer ajuste commercial, ou de medidas que regulem o transito e a fiscalisação das mercadorias internadas por via de Montevidéo ou importadas na campanha Oriental por via do Rio Grande do Sul.

Tratando-se de contrabando, senhores, não se distingue facilmente nacionalidades na fronteira, a protecção é mutua.

Quando estive ultimamente em Montevideo, referiu-me uma auctoridade oriental, com relação á protecção que gozam os contrabandistas na fronteira, o seguinte caso alli verificado:

Um fiscal aduaneiro da fronteira aprehendeu uma grande partida de fumo em rolo, passado por contrabando vindo do Rio Grande e como tal foi remettido para Montevidéo. Immediatamente a aprehenção foi protestada e documentada a petição de forma a provar-se que o fumo era de producção oriental, embora todos os caracteristicos levassem o fisco a considerar o producto brasileiro contrabandeado.

Eis, porém, que o fiscal aduaneiro de Montevidéo, bem inspirado, mostrou que o fumo tanto era de origem brasileira, que além do mais o páo em que estava o fumo enrolado era de qualidade especial que não existe nas mattas do Rio da Prata, e sim de Minas Geraes, e ainda mais comparando com muitos outros rolos de fumo da mesma qualidade importados do Brasil, pelo porto de Montevidéo, todos tinham as mesmas marcas - "Pomba", "Rio-Novo", "Goyano", etc., etc.

Quando tudo parecia estar concluido e a apprehensão do contrabando julgada boa, eis que apparece um pedido de reconsideração do despacho, em que se procurava demonstrar com documentos officiaes que os páos tinham sido importados do Estado de Minas Geraes, no Brasil, para se enrolar fumo no Estado Oriental!...

Realmente, senhores, este caso mostra que tanto o Brasil como o Estado Oriental são enrolados pelos contrabandistas da fronteira.

A isto dá-se o nome de contrabando legal!!!

Foi por estas e outras informações, senhores, que em data de 2 de maio do anno passado disse ao ministerio das relações exteriores em officio:

"Fumos: Quasi dous terços deste artigo entram por contrabando no Estado Oriental pela fronteira do Brasil.

Para impedia o contrabando tomou-se a providencia de estabelecer-se uma taxa protecionista para fumos do Rio Grande do Sul, com excepção do fumo em corda, que paga muito pouco.

Isto, porém, não impediu que o contrabando continuasse cada vez maior e fossem repellidos do mercado os fumos da Bahia e em proveito unico do fumo do Rio Grande do Sul e dos contrabandistas.

Entendo que a uniformidade das taxas deve ser exigida para abrir-se de novo o mercado oriental para o fumo de todas as procedencias brasileiras."

Senhores, para dizer o que é o contrabando na fronteira do Rio Grande do Sul basta reproduzir nesta occasião o que está registado no relatorio de 1902 do proprio ministerio da Fazenda do Brasil.

Diz o inspector da alfandega do Rio Grande do Sul:

"A receita de importação soffreu sensivel decrescimento no anno que findou, pois, comparada com a do anterior, produziu menos 4.612:105$369.

Esse decrescimento provém de tres causas conhecidas e a que mais attenção carece dos poderes publicos é o contrabando, que ultimamente tem-se desenvolvido na fronteira, prejudicando o commercio licito e concorrendo para o enfraquecimento da arrecadação."

O inspector da alfandega de Uruguayana diz, por sua vez:

"Esta alfandega, pela sua posição na extensa e populosa zona de fronteira, devia apresentar rendimento muitissimo superior ao que tem; mas á medida que são creados elementos de repressão ou prevenção do contrabando, COMPANHIAS DE CONTRABANDISTAS SE ORGANISAM OSTENSIVAMENTE, animadas da mais admiravel audacia, ao ponto de introduzirem nesta cidade importantes contrabandos, escoltados por numerosa força armada que não trepida offerecer lucta quando é descoberta."

Finalmente o inspector da alfandega de Sant'Anna do Livramento informa:

"O contrabando, este terrivel destruidor das rendas da União, continúa a imperar na fronteira, encontrando pouco embaraço em sua marcha.

Vos digo isso com toda a lealdade e franqueza, pois julgo do meu dever não emittir á vossa apreciação.

O governo do Estado oriental é demasiado proteccionista do seu commercio em todos os pontos de vista."

Eis aqui, senhores, em synthese, a exposicção do contrabando na fronteira do Rio Grande do Sul, feita pelos proprios delegados do ministerio da fazenda.

Agora, senhores, estudando como se fazem as operações commerciaes da campanha do Rio Grande do Sul e da banda Oriental, chega-se facilmente a conhecer e este mappa indica que a fronteira não depende commercialmente das praças do littoral, nem a barra do Rio Grande é única arteria importante.

(...)

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 26 de Janeiro de 1903, pág. 02, col. 03-04

 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

domingo, 13 de fevereiro de 2022

João Clapp

 



Um telegramma de Petropolis deu-nos hontem a dolorosa noticia da morte de João Clapp. Era um nome muito conhecido, não só nesta capital, como em todo o paiz, e embora fosse sabido que pertinaz enfermidade o impossibilitava em absoluto da vida activa, não deixou de causar magua sincera o telegramma luctuoso da visinha cidade.

O finado foi um commerciante honrado, de credito solido em nossa praça.

Mas não é esse o traço principal da vida de João Clapp. Foi muito mais elevado o feitio de seu caracter que o evidenciou, foi muito mais nobre a phase da sua carreira publica que chegou ao conhecimento de todos.

João Clapp foi um abolicionista correcto, um batalhador intrepido, em beneficio dos miseros captivos.

Foi elle o fundador do Club dos Libertos. A Confederação Abolicionista, esta cidadella formidavel em que se abrigavam os defensores da santa causa, tinha-o sempre no posto mais difficil de combate.

Em qualquer parte em que era necessaria a sua auctoridade para a liberdade de um escravo, elle não se fazia demorar, e rapido se consummava a obra da restituição de um homem ao sei da Liberdade.

É com este glorioso titulo de abolicionista que João Clapp descerá ao tumulo hoje, ás 9 horas, cercado da saudade e do respeito de seus concidadãos.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 12 de Dezembro de 1902, pág. 01, col. 07

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Jornais diários do Brasil em 1902

 



Le Brésil de Pariz publicou na sua edição de 25 de maio ultimo a seguinte estatistica da imprensa no Brasil:

"São 103 jornais quotidianos do Brasil, que se dividem assim: S. Paulo 33, Rio Grande do Sul 13, Districto Federal 11, Rio de Janeiro 8, Pernambuco 6, Bahia 5, Amazonas 5, Pará 4, Maranhão 4, Minas Geraes 4, Rio Grande do Norte 3, Alagôas 3, Sergipe, Paraná e Santa Catharina 2, Espírito Santo 1 e Parahyba 1.

Os unicos Estados que não têm jornal diario são dos de Piauhy, Matto Grosso e Goyaz."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 17 de Junho de 1902, pág. 01, col. 07

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Os fanáticos de João Conselheiro - um episódio da Guerra do Pinheirinho

 



O irmão do Conselheiro

Sobre os successos occorridos ultimamente nos municipios de Lageado e Estrella, no Rio Grande do Sul, temos mais as seguintes notas colhidas na ultima mala chegada daquelle Estado.

O Alto Taquary adianta o seguinte:

Entre as forças estadoaes e os fanaticos de João Conselheiro travou-se medonho conflicto, a tiro e a ferro, sahindo da barraca mais de 30 bandidos, armados de facão de larga lamina, espadas, outras armas e páos. De uma casa proxima surgiram tambem numerosos bandidos.

O subdelegado Napoleão, depois de descarregar o revólver, teve de fugir diante do numero, sahindo illeso. Cahiu Guerino Lucca com tres ferimentos por arma branca, arrastando-se em fuga, sem poder ir longe. Elle viu estar matando o irmão; viu a degolla e encommendava-se a Deus, esperando o mesmo destino.

Entretanto, luctava como um verdadeiro leão. O caixeiro viajante Eduardo Sattler, foi o ultimo a cahir na arena do combate. Levava elle uma Winchester, um revolver e um facão.

Empregou com exito o primeiro tiro, matando um dos bandidos. O segundo tiro falhou. A arma havia sido engasgada. Nessa occasião recebeu elle extenso ferimento na cabeça. Atirou a arma fóra, espumando de raiva, desembainhou o facão, que segurou com a mão direita e com a esquerda o revólver. Feriu muitos, mas cahiu vencido pelo numero. Quando este heróe cahiu, Pedro Montini, ferreiro no Encantado, também já ferido gravemente, e João Ferri, negociante, com extenso talho da cabeça ao rosto, trataram de fugir, bem como outros já sem munição. Guerino arrastou-se em direcção ao matto. Um dos bandidos correu sobre elle para degollal-o. Pedro Montini acudiu a tempo, matando com certeiro tiro na cabeça o bandido, que cahiu ao lado da victima. Outro bandido quiz ainda degollal-o, mas o Monge gritou: - deixa este para depois.

Guerino tratou de reunir todas as forças que tinha e conseguiu ir ao matto, onde cahiu desfallecido. Estava abrigado pela selva. João Ferri, Pedro Montini e outros passaram então o rio para a margem direita, onde estavam doze homens de reserva, assistindo ao tiroteio, ouvindo os gritos da lucta, sem poderem auxiliar os companheiros por falta de canôa. Independentemente havia ficado a reserva sem meios de realisar a passagem do rio. Chegados ao Encantado os feridos e derrotados, enorme panico produziram na pacifica e laboriosa população.

Sattler e Lucca ficaram roubados em relogios, correntes e em todo dinheiro. Quando matavam estes dois, gritavam os bandidos: - venham mais! venham mais! que hão de vêr!

Os bandidos só empregam arma branca e com estas se batem como féras. O Monge sempre lhes diz:

- Aquelle que morrer, dentro de oito dias ressuscitará...

Os conselheiristas são ignorantes e não conhecem tactica militar alguma.

- Na cruz da cova em que se acha enterrado Sattler, ha o seguinte escripto: Eduardo Sattler, morreu por defender os amigos, 3 de maio de 1902.

Poucos dias depois destes factos, 60 homens da brigada militar atravessaram o passo do Encantado em direcção aos Pinheirinhos, no municipio de Estrella.

Mais de vinte homens seguiam pelo lado do Encantado, tomando posição em frente aos Pinheirinhos, na margem direita do rio Taquary. Ahi chegados deram seis descargas contra as mattas dos Pinheirinhos, onde se achavam já outros 60 homens que haviam seguido primeiramente, isto é, 1/4 de legua distante do logar onde se achavam Enéas, padre Monge e sua gente. Via-se sahir fumaça das mattas. Eram os mongistas que faziam fogo para aquentar agua e apromptar comida.

Os vinte soldados da brigada fizeram mais algumas descargas. Repentinamente um homem, um mongista, rapaz forte, honesto valente e audacioso, surge do matto. Vinha reconhecer o inimigo. Queria ver quantos homens eram os da brigada, O tenente Teixeira, commandante da força, appareceu nessa occasião com 30 homens dos 60 que haviam partido para Pinheirinhos. O audacioso jagunço deu um signal, assolando bem alto e os mongistas fugiram, levando comsigo barracas e algumas panellas, deixando outras cousas. O tenente Teixeira, minutos depois chegava ao logar onde se havia dado o encontro de Sattler e os irmãos Lucca, contra a gente de Enéas. Incendiaram logo a casa deste ultimo. Foram encontrados nesta occasião tres mongistas mortos. As forças da brigada e dos patriotas são em numero de 250 homens e guarnecem: Campinho, Passo Jacaré, Barra do Guaporé, uma colonia de propriedade de Enéas, em Pinheirinhos e muitos outros logares transitaveis. Os mongistas são sempre acompanhados por mulheres e crianças.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 30 de Maio de 1902, pág. 02, col. 04-05

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Coronel Justo Dias de Siqueira

 


Na solicitação de um amigo, que mora justamente na Rua Coronel Justo Dias de Siqueira, em Capão do Leão, o qual não tínhamos nenhuma informação sobre este personagem histórico, resolvi buscar algum conhecimento sobre o mesmo, afim de dirimir essa dúvida. Segue o que encontramos:

Justo Dias de Siqueira era residente no Passo das Pedras, membro da Guarda Nacional da  Freguesia da Capela da Buena e pela ocasião da Proclamação da República em 1889 encontrava-se como funcionário da Estação Ferroviária do Passo das Pedras. Ainda era capitão. Neste mesmo ano, foi presidente do comissão executiva republicana da Freguesia da Buena.

Logo em seguida foi promovido a major e recebeu o comando do 25o. Corpo Provisório de Cavalaria da Buena, tendo atuado na região como chefe das forças legalistas (republicanas castilhistas).

Foi o 1o. sub-intendente do distrito de Capão do Leão, criado pelo intendente de Pelotas, Henrique Chaves, em 1893. Nesta ocasião, foi alçado ao posto de tenente-coronel.

Com o final da Revolução Federalista, foi promovido a coronel honorário com comenda de distinção, tendo se ocupado mais tarde com a supervisão do alistamento militar nas regiões do Capão do Leão, Capela da Buena e Santo Amor. Possuía um sítio em Capão do Leão, onde se aposentou.

Não dispomos dados de seu passamento.

A malta de bandidos de Lages

 



No Passo das Caneiras

Uma malta de bandidos que percorre as immediações da cidade de Lages, no Rio Grande do Sul, assassinou em dias do mez passado o Sr. Ernesto Canozzi, empregado viajante da firma commercial Santos & Almeida, de Porto Alegre. O Sr. Ernesto que ha seguramente cinco mezes se achava ausente d'aquella capital fôra a Lages em objecto de serviço da casa. Depois de fechar certos negocios e receber de seus freguezes determinadas quantias, teve aviso de que a policia perseguia um numeroso grupo de malfeitores que enfestava o municipio de Lages. Receoso de um ataque evitou a viagem, resolvendo somente a fazel-a em abril, tendo passado o seguinte telegramma aos seus patrões: Sigo direcção Caxias. Acompanhado de um leão sahiu de Lages e ao chegar no Passo das Caneiras foi aggredido, assassinado, saqueado e atirado o seu corpo e o do seu peão, cujo nome é ignorado, a um banhado. Dias depois foram os corpos encontrados pelo Sr. Carlos Hildebrando que caritativo ordenou enterramento. A policia procura capturar os criminosos.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 21 de Maio de 1902, pág. 02, col. 03

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

O Selvagem do Camboí



 Internando-se em mattas virgens, desappareceu ha tres annos, mais ou menos, de sua residencia, no municipio de S. João do Montenegro, no Rio Grande do Sul, um rapaz, indiatico, de 14 annos de idade.

No dia 15 de fevereiro, passando um individuo pelo logar denominado Cambohy, no município de S. Sepé o encontrou quasi em completo estado de nudez, dentro das mattas.

Tentou prendel-o, dando-lhe um golpe de espada na cabeça, proximo á orelha esquerda.

O aggredido, para defender-se, avançou para o seu aggressor, conseguindo desarmal-o.

De posse da espada feriu-o nas costellas, fugindo em seguida.

A policia, ao ter conhecimento do facto, ordenou rigorosa busca no matto, nada, porém, encontrando a não ser grande quantidade de pellegos de ovelhas e varios outros couros.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 21 de Março de 1902, pág. 02, col. 06

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Barão de Pinto Lima

 



Hontem pela madrugada entregou a alma a Deus o conselheiro Francisco Xavier de Pinto Lima, barão de Pinto Lima, membro notavel da politica liberal no tempo do imperio e que por vezes mereceu a honra de occupar elevados cargos de eleição popular.

Nunca se impoz o finado por principios de intolerancia politica como os que levam o espírito de partidarismo até a exclusão irrevogavel do adversario.

Conciliador por natureza, conseguiu elle atravessar sempre as crises, estimado e respeitado por todos, porque acima da politica viam os admiradores do barão de Pinto Lima o amigo dedicado e o cavalheiro, por tantos titulos recommendavel.

Os ultimos annos de sua vida, passou-os elle fóra das agitações partidarias.

O barão de Pinto Lima nasceu a 20 de fevereiro de 1832.

Aos 22 anos formou-se em direito pela Faculdade de Olinda.

Varias vezes foi eleito deputado provincial, chegando a occupar o cargo de presidente da assembléa.

Era presidente da camara municipal de Maragogipe quando foi eleito pela primeira vez deputado provincial.

Em 1856 foi eleito deputado geral e de 1858 a 1864 occupou o cargo de juiz de orphãos na Bahia.

Por essa época foi nomeado tambem ministro da marinha.

Em 1866 foi nomeado juiz de direito na comarca de Itapemirim, no Espírito Santo.

Em 1868 foi eleito deputado geral pela segunda vez.

Em 1870 foi nomeado presidente do Estado do Rio Grande do Sul; em 1872, de S. Paulo, e do Rio de Janeiro em 1871.

Foi director do banco do Brasil durante muitos annos; em 1888, a princeza regente fel-o barão, sendo que por essa epocha elle representava o Estado de Santa Catharina na Camara.

Era condecorado com a ordem da Rosa, Villa Viçosa e Leão Neerlandez.

Seu enterramento sahirá hoje ás 10 horas da rua do Cattete n. 120 para o cemiterio de S. João Baptista.

Á sua Exma, familia apresentamos as mais sinceras condolencias.

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 10 de Agosto de 1901, pág. 02, col. 04

sábado, 5 de fevereiro de 2022

A Fera de Rivera

 



Com o titulo A Féra e o sub-titulo Mais Crimes, encontramos o seguinte no Echo do Sul, de 12 do corrente:

Em seu numero de 1o. do corrente, o nosso collega O Canabarro, de Rivera, noticiou, nos seguintes termos, mais um crime commettido pela gente do celebrisado João Francisco:

"Não ha ainda quinze dias, noticiámos que Juvencio Torres, com trinta homens que lhe dera João Francisco, ameaçava vir a este departamento buscar federalistas emigrados, para o que tinha uma lista onde figuravam os nomes de trinta e tantos ou quarenta co-religionarios nossos.

Pois bem, já começou a operação: Candido Ferreira, um dos da lista, morador neste departamento e peão de Roque Moura, sahiu de sua casa em procura de um cavallo e approximou-se da linha, onde foi agarrado por um grupo de homens, conduzido para o Brasil e alli barbaramente degollado!

Os bandidos cortaram uma orelha do infeliz moço e puzeram-lhe fogo no corpo.

O crime foi commettido na divisa do campo do Sr. Elizerio Campos, entre Galpões e Capão do Inglez.

O inspector de quarteirão fez auto de corpo de delicto e mandou sepultar o cadaver que os bandidos haviam deixado insepulto."

Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 21 de Janeiro de 1900, pág. 02, col. 02

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Fenômeno curioso no Campo da Aclamação

 



PHENOMENO CURIOSO

Hontem por volta das 10 e tres quartos da noite algumas pessoas que achavam-se no campo da Acclamação, presenciaram um curioso phenomeno meteorologico.

Nas immediações do edificio do senado, á pequena altura appareceu repentinamente um corpo luminoso, da configuração de uma grande estrella.

A luz era excessivamente brilhante e o phenomeno offerecia espectaculo imponente.

Descrevendo uma grande curva tomou a direcção da rua do Senhor dos Passos, mas conservando-se sempre em pequena elevação. Ao chegar talvez á altura da rua dos Andradas o espectaculo foi ainda mais surprehendente. Como se fôra uma grande bomba, o foco de luz arrebentou e desfez-se em myriadas de pequenas estrellas, derramando um clarão brilhante e illuminando o espaço.

É possivel que do observatorio do Castello tenham observado o phenomeno e nos ministrem descripção minuciosa do mesmo.

Fonte: O CRUZEIRO (Rio de Janeiro/RJ), 08 de Fevereiro de 1878, pág. 01, col. 03

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

O macaco no cafezal

 



Lê-se na Revista de Horticultura:

A Gazeta Rio Clarense diz existir na fazenda do Dr. Domingos Jaguaribe um colono por nome Franco, possuidor de um macaco por elle amestrado e empregado na colheita do café, e lembra a conveniencia de empregar-se nesse serviço os innumeros quadrumanos que vagam nas nossas florestas... A idéa nem é má nem é nova porquanto já antigamente foram elles empregados em serviços identicos pelos egypcios.

Fonte: O CRUZEIRO (Rio de Janeiro/RJ), 01 de Janeiro de 1878, pág. 02, col. 02

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