sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Uruguaios na cidade de Pelotas



 É o quarto grupo mais representativo de imigrantes na história de Pelotas, atrás de portugueses, alemães e italianos. A proximidade com o país vizinho e a importância do núcleo charqueador pelotense no século XIX sempre foi um atrativo para esses migrantes.

            As três principais cidades da metade sul do Rio Grande do Sul (Rio Grande, Pelotas, Bagé) na época receberam enormes contingentes de uruguaios sobretudo após o final da Revolução Farroupilha. Isso se deve ao fato de o país vizinho ter enfrentado uma turbulenta guerra civil entre 1838 e 1851. Boa parte dessas pessoas encontrava muitas oportunidades de trabalho em solo gaúcho, dado terem experiência em sua terra natal com vários ofícios ligados à pecuária e à indústria saladeiril. Mesmo durante o século XIX, esse movimento não cessou, pois Pelotas era visto como uma espécie de Meca econômica para os uruguaios. Isso persiste durante a primeira metade do século XX e toma novo fôlego a partir de 1973, quando o Uruguay entra num período ditatorial. Mesmo até a década de 1990, Pelotas sempre atraiu essa nacionalidade, igualmente estimulada pela presença das universidades e institutos de educação técnica e superior.

           


A grande maioria dos uruguaios radicados em Pelotas durante a sua história são oriundos dos departamentos de Cerro Largo (aliás, onde existem vínculos históricos com famílias brasileiras devido à pecuária), Treynta y Três, Rocha, Rivera e Taquarembó. Há migrantes uruguaios de outras regiões daquele país, também.

            Vale lembrar também que os ditos uruguaios que se estabeleceram no Rio Grande do Sul não constituem um grupo homogêneo, pois existem os uruguaios criollos e os uruguaios que são migrantes de outras nacionalidades que viveram pouco tempo no país vizinho e por alguma razão perceberam melhores oportunidades de ascensão social no Brasil. Fazemos esta observação, porque um dos grupos que mais se fez presente no país vizinho e passou ao Brasil para empregar-se principalmente na atividade pecuária foram os bascos (tanto franceses quanto espanhóis). A presença desse elemento humano no meio rural gaúcho se faz perceber pela grande quantidade de sobrenomes bascos no Rio Grande do Sul e a introdução do uso da boina na indumentária gaúcha.

            Do ponto de vista cultural, a presença uruguaia confunde-se com os próprios elementos de identidade da cidade. A culinária da carne é muito similar à do país vizinho, bem como várias palavras e expressões compartilhadas com o espanhol falado por aquelas bandas, assim também a notável influência musical platina sempre presente nos ritmos tradicionalistas.

            Atualmente em Pelotas o único consulado estrangeiro existente é o da República do Uruguay, situado à Avenida Ferreira Vianna, evidenciando assim a forte presença dessa comunidade por aqui.

 

Fontes:

BECKER, Klaus. A imigração no Sul do Estado do Rio Grande do Sul. In: BECKER, Klaus (org.). Imigração. Canoas/RS: Editora Regional, 1958.

FAGÚNDEZ, Ariel Salvador Roja. Ni de Acá, Ni de Allá: memória e identidade de filhos de imigrantes uruguaios residentes em Pelotas. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História, ANPUH, São Paulo, jul. 2011.

GILL, Lorena Almeida. A luta de Olga por seus direitos: imigração, saúde e trabalho de mulheres em Pelotas, RS (década de 1940). São Paulo, Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, vol. 38, 2019. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/2210/221065057003/html/. Acesso em: 14 de julho de 2021.

SILVA, Marianela Tafernaberry da. Bascos no Uruguay: considerações sobre imigração e identidade. Monografia, Lic. Plena em História, Instituto de Ciências Humanas/UFPel, 1995.

VARGAS, Jonas Moreira. “Entre Jaguarão e Tacuarembó”: os charqueadores de Pelotas (RS) e os seus interesses políticos e econômicos na região da campanha rio-grandense e no norte do Uruguai (c. 1840 – c. 1870). In: Estudios Historicos, CDHRPyB, Ano V, Montevidéu, n. 11, dez. 2013.

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