domingo, 6 de novembro de 2016

III Encontro Moleques Doidos Capão do Leão - Edition Molas


O evento acontece dia 13 de Novembro, a partir das 19 horas, na Praça João Gomes. O evento também é uma homenagem ao jovem recentemente falecido, Bruno Souza Leal.
Página do evento no facebook:https://www.facebook.com/events/183290352098218 

Caça aos Marajás!


Marajá é um antigo título feudal hindu que correspondia a uma espécie de governante geral de uma vasta região da antiga Índia, proporcional ao título ocidental de rei. Até a independência daquele país em 1947, existia 565 territórios governados por marajás ou rajás (um título imediatamente inferior ao primeiro) na Índia. No século XVI, quando os navegadores portugueses aportaram na Índia, o refinamento e o luxo da nobreza da região embasbacaram os europeus. Por isso, marajá virou sinônimo de alguém muito rico, poderoso e que usufrui vários privilégios por sua posição. Quase sempre, o marajá também dispunha de uma vida com inúmeras esposas e de plena ociosidade - o que historicamente é discutível, mas não é este o nosso objeto.

No Brasil, o termo marajá virou uma espécie de alcunha para funcionários públicos que recebem altos salários, possuem inúmeras vantagens decorrentes da profissão e trabalham muito pouco ou mesmo sequer trabalham, remetendo aquela velha imagem do paletó colocado sobre o espaldar da cadeira mas que nunca encontra seu dono. Em 1987, quando Fernando Collor de Mello assumiu o governo do estado de Alagoas, o termo ganhou relevância nacional, pois Collor se auto-intitulou "caçador de marajás" e passou a realizar várias reformas administrativas para coibir a ação destes funcionários públicos, chegando mesmo a requerer judicialmente a devolução de valores salariais recebidos ou exonerar funcionários. O fato é que a imagem de Collor como moralizador da máquina pública o catapultou dois anos mais tarde à vitória nas eleições presidenciais.

Capa de uma edição da Revista Veja de 1987
abordando o problema dos "marajás" no serviço
público.

Vez ou outra, nos últimos anos, o termo marajá aparece na Imprensa para denunciar o problema dos funcionários públicos que recebem altos salários sem trabalhar ou ainda para aqueles cuja eficiência no turno de trabalho é bastante irregular. De fato, os vícios da máquina pública brasileira nas três esferas ainda são recorrentes e o mal dos marajás não terminou por completo, mesmo com todas as reformas que foram feitas no processo de gestão e fiscalização dos recursos humanos. Todavia, o uso da palavra não deixa de ter também o seu aspecto pejorativo e generalizante. Principalmente se falarmos em ambientes de disputa política. Uma ou outra facção tende a denominar funcionários e/ou cargos de confiança da gestão antagônica como marajás. A depreciação normalmente repercute com impacto na opinião pública e serve para desqualificar o oponente e seu governo. Mesmo que até o termo seja usado de forma desproporcional ou inverídica. Vou explicar o porquê.

No meu entendimento e na compreensão de várias pessoas de bom senso, marajá é o funcionário público que recebe e não trabalha, não exerce suas funções como deveria. Pode ir desde aquele funcionário fantasma que consta na folha de pagamento, mas ninguém nunca ouviu falar dele na respectiva repartição ou autarquia, até o funcionário ou cargo comissionado que nunca está em seu setor porque "tem coisas fora para fazer" (o que quase sempre é uma desculpa falsa). Que existe pessoas assim no serviço público, é óbvio que sim. Na última década, a própria prefeitura municipal possuía um CC que se enquadrava muito bem numa destas descrições. Só que a generalização é algo que me incomoda pela distorção que causa na apreciação que a opinião pública faz sobre a questão. Em suma, é extremamente irresponsável afirmar que "todo mundo é marajá!".

Em Capão do Leão, com a mudança política que se conclui após o resultado das últimas eleições municipais, algumas vozes mais afoitas passaram a conclamar o "fim da teta" e a "caça aos marajás". Que haverá inegavelmente uma mudança no quadro de cargos comissionados é mais do que evidente, até mesmo por uma questão de reagrupamento das forças políticas no município. Mas colocar todos que estavam como marajás ou como sugadores do erário público é desconhecer por completo a própria estrutura do serviço público. Alguns cargos comissionados são diretamente ligados à gestão de setores. Isto é, se o sujeito não responde profissionalmente, mesmo que de modo mínimo, por aquele setor, nada daquela área funciona. Simples assim. Você pode discordar da maneira como determinado cargo comissionado ou funcionário concursado exerce sua função, mas você tem que ponderar que mesmo que considere o sujeito inadequado para aquele setor, não poderá afirmar que ele ociosamente recebe um salário pela função. 

Anos atrás, creio que na gestão municipal anterior a esta que se encerra agora em 31 de Dezembro, houve um debate político acalorado sobre a chamada "farra dos estagiários". Reclamava-se que a Prefeitura tinha muitos estagiários, do processo de seleção, etc. Tudo muito justo se nos concentrarmos nestes pormenores. Só que vozes mais irresponsáveis questionavam o valor humano dos estagiários. Isto é, a validade que tinham. Daí pergunto: quem pode apontar um estagiário que não cumpria suas funções? Um ou outro talvez. Mas o fato é que a maioria trabalhava muito e dedicava-se com diligência à oportunidade.

Por isso, compreendo que o uso de generalizações e lugares-comuns atrapalha e desqualifica uma real avaliação do serviço público. Muitas vezes, usa-se das expressões pejorativas de modo totalmente irresponsável. Um pouco de equilíbrio é necessário. Até mesmo para que não se cometam injustiças. Embora, muito conscientemente concorde que sempre haverá laranjas podres no meio da sacola de frutas. E estas sim devem ser extirpadas do serviço público.
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