domingo, 15 de outubro de 2017

Festas e tradições alemãs no Rio Grande do Sul


"A presença germânica no Rio Grande do Sul deixou traços indeléveis também nas Festas e Tradições.

Se fossemos analisar a simbiose entre as culturas portuguesa e alemã, notaríamos que a presença do elemento germânico é considerável. De uma parte, nas danças gaúchas há elemento alemão; de outra parte, no alemão falado na colônia há um grande número de palavras portuguesas germanizadas e o típico churrasco e o gostoso chimarrão estão presentes em qualquer casa alemã.

Mas quanto às tradições - o tempora! o mores! - as coisas mudaram e muitos dos encantos de nossos avoengos desapareceram definitivamente. Só as retinas mais velhas guardam as belezas do Kerb de 3 dias; do Königschiessen (Tiro ao Rei); do Kränzchen (Reunião Dançante).

Reflexos da 2a. Guerra Mundial e a vida moderna cada vez mais trepidante com a industrialização alteraram profundamente esses costumes.

Os Kerbs constituíam o maior acontecimento festivo da localidade e do ano. O fato de ser a época em que as moças ganhavam vestidos novos prova isso, pois um ou dois vestidos novos eram elementos absolutamente indispensáveis. Parentes, amigos e conhecidos, residentes em vilas ou cidades vizinhas, ou mesmo no fundo de uma picada, vinham passar dois ou três dias de festas, com destaque especial para as danças. Arroz, massa, chucrute, carne de porco, carne de rês, galinhas recheadas, saladas diversas e... cerveja faziam o prazer de milhares de pessoas.

O Tiro ao Rei era um domingo cheio de emoções. Toda a vila se reunia na Sociedade de Atiradores. Grupos de conversa, política municipal, jogos de cartas, bolão, negócios e uma reunião dançante enchiam o tempo, enquanto os atiradores demonstravam suas qualidades.

O Baile do Rei era a segunda parte desse bonito costume. O tiro é hoje pouco praticado e recebeu muitos ingredientes da vida moderna. 

O canto por sua vez, destaca-se entre as tradições alemãs e foi o início de muitas sociedades recreativas, fundadas por grupos de cantores. Ainda hoje existem tais sociedades como o Orfeu de São Leopoldo, a Aliança de Novo Hamburgo, o 5 de Maio de Taquara e outras mais.

Também a prática de ginástica (Frisch, Fromm, Froelich, Frei) fez aparecer muitas 'Sociedade Ginástica' (Turnverein) havendo ainda hoje grande número delas em todo o Estado: São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estrela, Santa Cruz do Sul, Ijuí, Porto Alegre.

Os Kränzchen são grupos de 6 a 10 senhoras ou senhoritas que se reúnem semanalmente, em rodízio, sem formalidade, para o cultivo da amizade. Fazem trabalhos manuais e não falta o café com cucas e doces.

O Bolão é conhecido em qualquer cidade de origem alemã. No interior, do fundo das picadas, os colonos vêm a cavalo uma noite por semana para a noitada do bolão. Nas cidades há muitas sociedades onde jogam dois grupos ao mesmo tempo. Os torneios são disputados com muito entusiasmo e regados a cerveja, terminando, em geral, com cantos onde se destaca 'Em Prosit der Gemütlichkeit'.

Mas uma das tradições mais caras está ligada à vida religiosa. Trata-se da Árvore de Natal e do Ninho da Páscoa.

Tão arraigada está a tradição da Árvore da Natal que ainda hoje, 150 anos depois de ter sido introduzida entre nós, é hábito, por pura tradição, colocar algodão nos seus ramos para similar a neve da terra de origem dos imigrantes, embora entre nós seja verão, com calor sufocante, onde a neve, portanto, não tem nenhum sentido."

Fonte: EDEL LTDA. Festas e Tradições. In: ____________. Sesquicentenário da Imigração Alemã/Hundertfünfzig-Jahre Deutscher Einwanderung. Porto Alegre/RS: Sociedade Editora de Publicações Especializadas Edel Ltda., 1974, p. 231-232.



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