sexta-feira, 22 de julho de 2011

ACOJA - Associação Comunitária Jardim América

 A ACOJA foi fundada em 03 de Julho de 1984, tendo sido resultado de uma mobilização comunitária que existia no bairro desde pelo menos 1977. Nesta época, meio que de modo informal, um grupo de moradores já buscava a conquista de direitos básicos como luz, água e escola no interior do bairro, entre outras reivindicações. Particularmente, esta mobilização ganhou impulso com a emancipação em 1982. Com o novo município criado, as pessoas passaram a acreditar que uma organização de bairro era o modo o qual suas demandas pudessem ser atendidas. De maneira paralela, o Jardim América inchava populacionalmente, o que ocasionou o agravamento de certos problemas sociais. Muitos moradores antigos do bairro relatam que até meados da década de 1980, se o Jardim América tinha suas carências (água, luz, transporte, etc.), não se via insegurança, crianças de rua ou miséria. Nas palavras de uma moradora: "Éramos pobres, mas não miseráveis de não ter o que comer."
Não há registros dos dois primeiros anos da entidade, porém se sabe que as primeiras reuniões aconteceram na garagem da casa do Sr. Irineu Quevedo Fotos das primeiras reuniões da ACOJA . A 1a.presidente foi a Sra. Clair Domingos Ricardo. De acordo com as atas pesquisadas, o período 1984-1986 foi de dificuldades em consolidar a associação, pois houve falta de apoio, dado algumas autoridades considerarem a ACOJA como uma entidade criada para fins eleitoreiros. O fato é que somente a partir de 1986, a ACOJA passou a ter um volume de trabalho e uma rotina de atuação verdadeiramente regulares.Foto da Construção da Sede da Associação
As reivindicações levadas a cabo pela ACOJA, nesta época, eram as mais diversas. Nas reuniões as pessoas pediam desde a instalação de orelhões até projetos de moradia popular.A questão central e permanente era o problema do abastecimento de água. (Fotos de reuniões em 1987) O que de positivo se compreende deste período inicial é que a ACOJA, pouco a pouco, granjeou um peso político considerável no Capão do Leão. Houve conquistas importantes, cujas lutas se iniciaram nas reuniões da associação.Posto Policial, Vila Nova, linha de ônibus no interior do bairro, extensão da rede d'água ao Loteamento Zona Sul, entre outras coisas, foram realizações cujo princípio se deu nos "bate-bocas" que aconteciam a cada reunião. Em 1988, por exemplo, nas eleições municipais, quase todos os candidatos a prefeito se fizeram presentes numa ou outra reunião. Era comum a presença de três, quatro, cinco vereadores, além de representantes de deputados da região. O Administrador do Bairro também era outra pessoa muito presente. A ACOJA teve uma atuação destacada, a ponto do próprio presidente da UPACAB procurar a entidade.
O período de grande intensidade e ação da ACOJA se deu entre 1988 e 1992, a ponto do presidente da associação ser convidado para a Administração do Bairro. Foi a época também que, com sede própria (Rua Cidade de Canguçú, Loteamento Zona Sul), a entidade possuía uma rede de serviços importantes: consultório dentário, carteirinha de sócio com descontos no comércio local, festas do Dia das Crianças e Natal, encaminhamento de documentos, distribuição de tíquetes de leite, horta comunitária, cursos de tricô e crochê, etc. Curiosamente, em 1988, uma outra associação comuitária foi fundada: a Associação de Moradores do Jardim América (AMJA). Entretanto, sua existência foi breve, pois faltou-lhe apoio.
Não foi possível identificar a razão pela qual a associação começou a se desintegrar a partir de meados de 1992. Sua atuação vai durar até Outubro de 1993, porém com reuniões ocasionais e pouco quórum. Ocorre, então, a primeira dissolução da ACOJA.
Em Outubro de 1998, foi convocada nova eleição para diretoria, com o sentido de reorganizar a entidade, proposta por um grupo de moradores. Não surtiu efeito e a associação permaneceu muito pouco atuante. Em novembro de 2000, finalmente se compôs uma nova diretoria em caráter provisório, durando até Maio de 2001. Neste período, digno de nota é que, na ACOJA, surge a ideia da criação de um Corpo de Bombeiros Voluntários. De Maio a Outubro de 2001, nova diretoria provisória. A partir de então, a ACOJA vai apresentar algum trabalho até Julho de 2002. Ocorre, portanto, a segunda dissolução  da ACOJA.
Em 04 de Junho de 2007, em reunião realizada no CTG Herança Campeira iniciou-se novamente uma mobilização para reerguer a associação. Até 2008, ainda houve encontros sobre o projeto, desde então, não dsipomos de mais nenhuma informação.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um estudo sobre a Agricultura de Capão do Leão de 1997


Trecho extraído de: ZAFFARONI, Eduardo & FERNANDES, Maria L.D. Agroecossistemas do Município de Capão do Leão, RS IN: REVISTA BRASILEIRA DE AGROCIÊNCIA, v.3, no.2, 75-88, Maio-Agosto/1997.

NOTA: TODOS OS GRIFOS SÃO NOSSOS, DEVIDO A SEU INTERESSE.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Identificação das Classes de Unidades Produtivas Dominantes/ Categoria Social e seus respectivos Agroecossistemas.

De acordo com o cruzamento dos indicadores selecionados para análise das unidades produtivas dominantes, foram identificados sete tipos de unidades produtivas na forma de categorias sociais: assalariado agrícola, assalariado rural, produtor familiar de subsistência, produtor familiar (não proprietários), produtor familiar (proprietários), produtor familiar capitalizado, produtor rural capitalizado, os quais terão seus agroecossistemas descritos a seguir.
Foram encontradas mais duas categorias sociais, uma cujo valor de outras rendas não agrícolas (aposentadorias, comércio, etc...) correspondia a mais de 80% da renda familiar e outra cujo valor da renda da terra cedida em arrendamento correspondia também a este percentual. Portanto, estas categorias não foram consideradas de interesse para o estudo.

Tipo 1 e 2: Assalariado Agrícola e Rural

Estas duas categorias serão tratadas conjuntamente, por não apresentarem diferenças muito
significativas quanto a maioria dos componentes do agroecossistema. A origem das mesmas é muito diversificada, podendo tratar-se de migrantes que retornam à zona rural depois de aposentados, jovens casais oriundos de minifundios com áreas insuficientes para fracionamento (famílias numerosas) ou casais com idade média de 48 anos em áreas fracionadas por herança. O grupo dos assalariados agrícolas caracteriza-se pela venda da força de trabalho para atividades relacionadas à agropecuária. Trata-se de assalariamento agrícola exercido nos estabelecimentos vizinhos nos períodos de safra. Esta venda constitui-se numa atividade primordial para os mesmos, participando em até 80% na composição da renda.
Os recursos monetários desses grupos são escassos. A renda média familiar mensal é inferior a um salário mínimo, no entanto são consideradas as produções auto-consumidas.
Este é um tipo de categoria, onde as principais culturas, milho e feijão, são cultivadas para consumo humano e, no caso do milho, para o consumo dos animais domésticos.
Quanto à condição legal geralmente são proprietários, embora existam alguns que se encontrem em áreas cedidas por parentes para usofruto. As propriedades caracterizam-se por uma fraca disponibilidade de terra. As áreas apresentam grande variação: a média é de 3,5 ha. Os equipamentos disponíveis são limitados; são encontrados arados de aiveca utilizados com tração animal, em geral emprestada, saraquá (instrumento para plantio manual de algumas culturas), enxadas e em alguns casos charrete.
As instalações (galpões, pocilga), são de madeira e, em geral, encontram-se em estado de conservação precário. A casa de moradia tanto pode ser de madeira como de alvenaria, mas sempre são simples e pequenas para o número de moradores. O destino dos dejetos da cozinha correm a céu aberto. Em geral possuem luz elétrica e as estradas de acesso são péssimas em dias chuvosos.
O número de filhos é muito variável ficando a média em 5 filhos. As estruturas associadas da qual fazem parte são: Sindicato dos Trabalhadores Rurais (em função da assistência médica e odontológica) e comunidades eclesiais de base da Igreja Católica.
São encontradas propriedades deste tipo nos dois distritos estudados, mas há maior frequência no “Passo das Pedras” (67%). Elas ocorrem em 50% nas colinas cristalinas, 34% nas terras altas não rochosas e 16% nas terras altas rochosas.
A orientação da reduzida produção é totalmente voltada para o auto consumo, sendo as culturas milho e feijão as mais frequentes. A criação neste grupo é reduzida e segue a mesma lógica dos cultivos. Quanto a disponibilidade de equipamento assemelham-se ao grupo anterior com maior precariedade. A maior concentração deste tipo encontra-se na zona central, 55% nas colinas cristalinas e 45% nas terras rochosas. Eles trabalham como cortadores de pedra autônomos ou por empreitada. A idade desses trabalhadores varia de 20 a 50 anos.
Estas propriedades caracterizam-se pela presença dos seguintes componentes; milho, feijão, campo nativo, aves coloniais (20-30), suínos (1-2), horta doméstica (pequenas e pouco diversificadas). Este grupo segue a lógica de produção para o consumo familiar, assim sendo, dedicam-se aos cultivos mais comuns para o hábito alimentar da região.
O nível tecnológico utilizado neste modo de produção é baixo e isto se deve a falta de informação (assistência) aliada, sobretudo, à descapitalização e à falta de tradição.
As hortas nem sempre estão presentes ou são pequenas e pouco diversificadas. As espécies mais comunes são: cenoura (Daucus carota L.), alface (Lactuca sativa L.), cebolinha (Petroselinum sativum Hoffm.) Em quase todas as propriedades encontra-se mata nativa que é utilizada como fonte de energia.

Tipo 3: Produção Familiar de Subsistência.

Apesar de guardar muitas semelhanças com os dois primeiros, este grupo diferencia-se em alguns componentes. Apesar de vender sua força de trabalho - a venda de mão-de-obra existe em todos os estabelecimentos e tem o mesmo caráter essencial mencionado no grupo anterior - estes tem produção agrícola de subsistência. Via de regra, a gestão do trabalho nas propriedades dá-se da seguinte forma: os pais e os filhos mais velhos (maiores de 13 anos) vendem sua força de trabalho, ademais de se dedicarem às atividades de produção nas suas
explorações.
O que define este grupo como produtor familiar de subsistência é a orientação da produção para o auto consumo, ainda que esporádicamente algum excedente seja comercializado como forma de gerar recursos monetários em situações adversas. Este contato com o mercado também obedece a lógica do acesso aos benefícios sociais da previdência para produtores primários cadastrados. A composição da renda familiar é mais homogênea neste grupo. Em torno de 60% é oriunda da venda da força de trabalho para estabelecimentos vizinhos. Sua renda monetária média aproxima-se de um salário mínimo mensal. Quase todos os produtores deste tipo são proprietários de suas terras, mas também há os que plantam com parentes na modalidade de meação.
A exemplo dos tipos anteriores, estes também não possuem área suficiente para o emprego da mão-de-obra disponível nas suas propriedades. A área média dessas propriedades é de 3,7 ha. Mais de 80% destes produtores tornaram-se proprietários a partir de herança.
Quanto a disponibilidade de equipamentos, este grupo assemelha-se aos dois anteriores. Alguns possuem uma junta de bois, mas devido a ocorrência de roubos e abate dos animais nos arredores das propriedades, este número tem diminuído, uma vez que o produtor não tem condições financeiras de reposição.
Em geral, as instalações (galpão, casa, pocilga) estão em melhor situação do que as do grupo 1, mas também precisam de reformas. Os dejetos da pia da cozinha também correm a céu aberto. As estruturas associadas da qual fazem parte são: sindicato dos Trabalhadores Rurais (100%), comunidade eclesiais de base da Igreja Católica (100%) e COSULATI -Cooperativa Sulreiograndense de Laticinios- (60%).
Quanto ao meio físico, este grupo esta presente em maior concentração nas unidades geomorfológicas denominadas colinas cristalinas (67%) e classificadas na classe IIIse quanto a capacidade de uso do solo. Também são encontradas algumas famílias na zona de lombadas (22%) cuja classificação quanto a aptidão agrícola é classe IIsd. Neste caso trata-se de algumas propriedades isoladas cercadas muitas vezes por grandes propriedades de gado de corte cuidadas por caseiros e, 11% nas terras altas não rochosas da localidade Figueirinhas, classificadas na classe Ivse.
A qualidade da terra é variada, mas os problemas de erosão são um pouco mais graves que os do tipo 1 devido ao empobrecimento dos solos pela exploração mais intensiva, sem recursos para compra de fertilizantes e corretivos e sem práticas conservacionistas. Todas as unidades produtivas estudadas desta categoria tentam alternar a área de plantio e plantam num sistema definido por eles como enviezado, ou seja, em sentido diagonal a caída do terreno.
A água é um recurso tido como limitante paratodas as unidades, pois existe apenas enquanto potencial hídrico não sendo utilizada em virtude da não disponibilidade de recursos para a aquisição de equipamentos de irrigacão. O subsistema de cultivo dessas unidades produtivas é composto pelos seguintes componentes: milho, feijão, batata, frutíferas, horta doméstica, campo nativo, eucalipto, mata, azevém e aveia.
Para o plantio é usado o saraquá (plantadeira manual também conhecida como matraca). A semente utilizada é, em geral, crioula ou F1 de híbridos usados em anos anteriores ou no caso do milho alguns produtores participam do esquema “troca-troca”da EMATER.
Tanto os tratos culturais quanto a colheita são executados manualmente. O armazenamento do produto também é um problema para estas unidades, pois não possuem senão galpões e paióis velhos, impróprios para este fim. Os problemas fitossanitários mais frequentes são: ratos, gorgulho, caruncho, borboletinha.
Neste grupo de propriedades o cultivo do milho é orientado no sentido de suprir o consumo da família e compor a base alimentar dos animais. Às vezes a cultura do milho é consorciada com o feijão que tem quase a totalidade de sua produção voltada para o consumo da família sendo comercializado em raras ocasiões e em quantidades pouco expressivas. O milho é semeado logo após a emergência do feijão ou até um mês após; também ocorre a semeadura simultânea. Quando solteiro o milho é semeado de outubro a dezembro. A prática da quebra (dobra) do milho quando a palha esta seca é feita na maioria das propriedades e é uma tática utilizada para minimizar o problema da falta de estrutura de armazenamento.
O plantio do feijão solteiro (da safrinha) é feito, em geral, em fevereiro. O espaçamento utilizado é, em geral, de 0,40m a 0,50m entre filas e 0,30m entre plantas com densidade de 5 sementes por berço. Neste caso a capina é feita em torno de 15 a 20 dias após a emergência da plântula, quando se faz a amontoa junto às plantas.
A batata aparece em 80% das propriedades, com o uso de baixo nível tecnológico. Os demais componentes desse subsistema seguem esta mesma lógica de produção e manejo.
O subsistema de criação é formado pelos bovinos de leite, aves e suínos.
A criação de suínos, desvinculada de qualquer norma técnica, tem como base alimentar o milho, restos de horta e de cozinha e pasto verde nativo. O destino da produção de suínos é basicamente o auto consumo.
O sistema de criação dos bovinos segue a lógica do retorno mínimo garantido mensalmente. Esta é a estratégia utilizada por várias famílias inscritas nesta categoria, pois apesar de freqüentarem o mercado comercializando o leite, a produção é irrisória de aproximadamente 0,5 litros/animal; no inverno ocorre a entrega de até dois litros/sócio/dia. Para a cooperativa
tem sido prejuízo mantê-los como sócios devido aos custos de recebimento. No entanto, esta tem sido a forma de garantir a possibilidade de comprar no comércio da cooperativa, pagando no mês seguinte com a producão, bem como para a aquisição mínima de insumos para o sistema de produção. Aliado a estas razões, a comercialização do leite garante a condição de produtores primários com os devidos benefícios sociais. Existe o risco iminente de que os associados que continuarem com médias abaixo de 10,5 litros/dia terão que pagar os custos de recebimento, que em outubro de 1994 estava em torno de 31 centavos por litro. Este grupo encaixa-se nesta situação e tal política da cooperativa é excludente para os mesmos.

Tipo 4: Produtor Familiar (não proprietários)
Basicamente a força de trabalho empregada nesta categoria é a familiar, com exceção das épocas de colheita quando 50% do grupo contrata diaristas. Estas famílias não vendem sua força de trabalho. As famílias dividem-se na organização do trabalho; em geral, o chefe e os filhos homens responsabilizam-se pelo sistema de cultivo e forrageiro, e as mulheres dedicam-se ao sistema de criação, especialmente a ordenha, ainda que várias delas também participem do manejo das lavouras nos períodos mais críticos. A composição das famílias é um pouco variada, mas a média esta em torno de quatro filhos por família. A idade média dos produtores é de 45 anos, com um intervalo de 30 a 65 anos. O grau de instrução é a 5ª série do 1 o grau para pais e filhos. Pelo menos 50% dos adolescentes abandonam a escola para trabalhar.
Verifica-se entre os mais jovens, na maioria das propriedades, intenções de deixar a atividade agrícola. Em algumas propriedades já houve a migração e/ou casamento de todos os filhos, ficando apenas os pais que não darão continuidade ao processo produtivo. A tendência é de que estas propriedades sejam incorporadas por estabelecimentos maiores ou fiquem sob os cuidados de caseiros , em geral, sem comprometimento com a produção agrícola., ou ainda poderão se transformar em sítios de lazer.
A produção é orientada para o mercado, sendo responsável por até 90% na composicão da renda. A comercialização da produção garante a estas famílias uma renda média superior as dos grupos anteriores, aproximadamente 1,5 salários mínimos mensais. O restante da receita origina-se da comercialização esporádica de bovinos, os quais possuem dupla função de poupança e de renda disponível quando necessário; pode-se incluir também neste ultimo animais de pequeno porte como: aves, suínos, ovelhas. Em alguns acrescenta-se a aposentadoria na composição.
A área média de terras arrendadas (23ha) não apresenta grande variação nos dois distritos estudados. Estas famílias possuem parte de suas culturas implantadas em terras de terceiros devido as suas serem menos adequadas para uso agrícola ou porque estão sendo utilizadas com algumas cabeças de gado, por isso a classificação não proprietários. A área média arrendada apresenta muita variação nos distritos Hidráulica e Passo das Pedras.
Os equipamentos disponíveis são bem variados, como trator pequeno, plantadeira, moto-bomba, carreta, pulverizador, enxada rotativa, roçadeira, arado, grade (eles nunca aparecem todos em uma mesma propriedade) , porém há os que não dispõem desses equipamentos e trabalham com tração animal, efetuando o plantio com saraquá. Cerca de 40% destes grupos usam tração animal, 40% contratam serviços de terceiros e 30% usam tração mecânica própria.
As instalações em geral estão em melhor estado de conservação as do que grupo anterior, mas também precisam ser reformadas. Nestes estabelecimentos o armazenamento é feito em galpões convencionais e pouco adequados, o que ocasiona perda de 30% da produção devido aos problemas fitossanitários mencionados para o grupo anterior.
Estas propriedades são encontradas tanto nas zonas altas, terras altas não rochosas (23%, classe IVse), como na zona central, colinas cristalinas (59%,IIIse), e na zona de lombadas, nesta última em menor número (18%, classe Iisd). A frequência dessas unidades no distrito “Passo das Pedras” é de 59% e no distrito “Hidráulica” é de 41%.
O subsistema de cultivo deste grupo caracteriza-se pela presença dos seguintes componentes: milho feijão, batata, pêssego, mata, horta e pomar doméstico, pastagem natural e cultivada e hortigranjeiros comerciais tais como pepino, abóbora, batata doce, cebola. As hortas comerciais não ocorrem em todas as unidades. O nível tecnológico utilizado para as culturas comerciais é o baixo e/ou intermediário.
As práticas culturais são feitas manualmente; no milho é usada enxada, na batata o aradinho e no feijão faz-se a amontoa após a capina.Alguns fazem capina cruzada ou fazem morro abaixo e a ultima em nível. A colheita é manual em todas as culturas. O milho é dobrado e deixado na lavoura, o feijão é arrancado ebatido manualmente. A batata é retirada e não passa por nenhum processo de “toilete” (lavagem).
O milho pode ser cultivado em consórcio com o feijão. Ele é semeado logo após a emergência do feijão ou até um mês após. Pode ser feita semeadura simultânea. Vários são os sistemas possíveis mas o mais corriqueiro é 2:2 (duas filas de milho e duas de feijão). A semeadura em geral é feita manualmente. O uso de insumos como calcário e fertilizantes químicos é muito variável, via de regra não é feita calagem e aplica-se adubos a partir da “experiência” do produtor, nunca fazem análise de solo e quando fazem não seguem a recomendação devido ao alto custo do transporte do calcário. O desbaste do milho é feito 30 dias após a semeadura que podem ser manuais ou mecânicas. O controle de invasoras é feito com capinas e há casos de uso de controle químico. Uma prática comum na região, como já foi dito é a dobra do milho quando a palha fica seca e amarelada. Esta prática é a tática utilizada pelos produtores para minimizar o problema da estrutura de armazenamento.
A colheita do feijão da safra ocorre em fins de dezembro e a do milho fica para o fim quando há disponibilidade de mão-de-obra. A mão-de-obra para a colheita do milho 4 e 5 é familiar e pode ser contratada em alguns casos. esta mão de obra contratada vem das unidades Tipo 1.
Ainda são encontrados alguns pomares de pêssego, mas estes não tem sido renovados e encontram-se abandonados na maioria das propriedades. A colheita ainda é realizada mas com produtividade reduzida e o produto obtido não atende aos padrões de qualidade das empresas processadoras. Apenas 20% das unidades comercializa o produto para receber em 30 dias.
A batata é cultivada em áreas descansadas ou de pastagem, mas a produtividade é baixa devido ao baixo nível tecnológico utilizado.
A principal atividade econômica destas categorias é a produção de leite, que é vendido in natura para a cooperativa local. Neste grupo há produtores que entregam no esquema de coleta diária e há os que já possuem resfriadores e entregam em dias alternados. A base alimentar dos animais é constituida de volumosos, milho em espigas ou em grãos secos, mineralização eventual (em casos de animais doentes), cana de açúcar (não é comum encontrar em todas), pastagem artificial de azevém e aveia para os animais em lactação. A lógica de produção destes difere da do tipo 3, pois estes pensam na reprodutibilidade do sistema família-exploração agrícola e conseguem maior integração dos meios de produção (terra, capital e trabalho).
A integração do sistema de cultivo milho com os sistemas de criação acontece principalmente com a bovinocultura pois a produção do primeiro é praticamente toda destinada a alimentação dos animais e ao consumo da família (muito pouco é comercializado). A interação do sistema forrageiro, apesar de precário e insuficiente, tem garantido uma produção diária maior. Em geral eles trabalham com 5 vacas em lactação com uma produção média de 3 litros/animal, com um intervalo de 1 a 5 l/animal.
A variação na produção diária entre as unidades é muito grande , pois ademais do aspecto nutricional, a produtividade está intimamente relacionada ao manejo correto das criações no que tange ao controle sanitário, higiene na ordenha, stress dos animais devido as longas caminhadas para pastejo natural. Quanto ao insumo adubo orgânico que estes animais produzem é geralmente subutilizado,dada as dificuldades de coleta. Este também tem que aumentar sua produção sob o risco de enfrentar os mesmos problemas na entrega para a cooperativa.
A criação de suínos e aves segue a lógica da produção para consumo familiar, salvo algumas vendas eventuais quando há excedentes ou quando há necessidade emergencial de ingressos. A alimentação dos mesmos é semelhante à do tipo 3 com acréscimo de suplementação de concentrados proteicos e vitamínicos adquiridos no mercado ou produzidos na propriedade. Quando é feita a comercialização esta se processa no ambiente imediato da exploração.

Tipo 5: Produtor Familiar (proprietários)

O emprego da força de trabalho familiar também domina nesta categoria, com possibilidades de contratação temporária somente em épocas críticas de colheita, mas isto não pode ser estendido para a totalidade das explorações. Em torno de 50% das unidades contratam mão-de-obra na safra. em geral toda a família trabalha na propriedade e a divisão é semelhante a do grupo anterior. A composição da renda deste grupo é tipica. Em torno de 80% da renda origina-se da comercialização dos produtos, o restante advém da renda da terra, aposentadoria, e da venda esporádica de algum animal que, a exemplo do grupo anterior, também os tem com dupla finalidade - de poupança e de tesouraria.
O tamanho das famílias é variavel, o número médio de filhos é quatro. A idade média do chefe do  estabelecimento é de 50 anos com um intervalo de 30 a 65 anos. O grau de escolaridade é a 5a série do 1ograu para pais e filhos sendo que os ultimos tem maiores chances de concluir o 1o grau devido ao transporte coletivo fornecido pela prefeitura.
O nível de vida das famílias desse grupo é superior ao dos anteriores, mas mesmo assim faltam recursos para investir na produção, e melhorar os níveis tecnológicos e consequentemente a produtividade. A origem dessas propriedades é por herança e/ou compra.
Todas as unidades de exploração agrícola desta categoria tem sua produção voltada para o comércio, ainda que todos também produzam excedentes para auto consumo.
A situação geral desses produtores quanto a condição legal é semelhante à do grupo 4, diferenciando se pelo não uso ou uso em menor escala de áreas de terceiros (arrendamento ou meação), ou seja são proprietários de 90% da área em que produzem. A área média dessas propriedades varia em função da localidade. No 4o distrito (típico de pequenas propriedades) varia de 12 a 64ha, com uma média de 50ha e no 3o distrito varia de 9,7 a 72ha com uma média de 32ha. A área disponível é maior que a do grupo anterior, 40ha em média, bem como a área mecanizada.
Apesar da maior parte das terras serem mecanizáveis, ocorrem problemas de erosão nos dois grupos. Há o discurso sobre a conservação dos solos, mas a prática na maioria dos casos, não tem correspondido, alguns preparam a terra de forma “enviesada”, outros em linha reta (perpendicular ao sentido de maior caída). A exemplo do grupo anterior, também neste o projeto para boa parte das propriedades não está definido, pois quando os atuais produtores deixarem suas terras para os herdeiros estes poderão não estar mais na zona rural, pois aproximadamente 70% dos jovens deste grupo querem deixar o meio rural.
Há uma grande concentração desta categoria nas localidades denominadas Figueirinha e Corredor do Sacramento, mas há um número razoável distribuído em outras localidades do Passo das Pedras como Coxilha Florida, Passo das Pedras de Baixo e de Cima, Sítio Vasconcellos (57% no total).
Os níveis tecnológicos utilizados variam nos dois distritos e são considerados entre o baixo e o intermediário (53%), ou em alguns casos intermediário (47%) para cultura principais como milho, feijão, batata, pêssego, com variação segundo as localidades. Do total das unidades estudadas neste grupo, 53% foram encontradas na unidade geomorfológica denominada zona central (colinas cristalinas) cuja classificação quanto a capacidade de uso agrícola é a classe IIIse, 20% encontram-se nas terras altas não rochosas, classe IVse e 7% nas terras altas rochosas, classe VIII se. (Apêndice 4). A água não se constitui problema para estas unidades, em todas as propriedades tem cacimba e/ou algibe, arroio, sanga, açude e/ou vertente.
O subsistema de cultivo é composto pelo milho, batata, feijão, pêssego, mata nativa, horta doméstica e/ou pelos hortigranjeiros cenoura, morango, amendoim. Os hortigranjeiros aparecem em apenas 6% das unidades.
O milho é cultivado para consumo da família e principalmente como insumo para o sistema de criação. O sistema forrageiro, composto basicamente pela pastagem natural e artificial (azevém e aveia), cumpre a mesma função de integração com o sistema de criação. Praticamente todo o feijão destina-se ao consumo na propriedade, bem como os produtos da horta doméstica. A mata nativa é usada como fonte de energia para a propriedade e para abrigar eventuais caixas de abelhas.
A batata também é cultivada para consumo, sendo comercializado apenas o excedente. Ela é cultivada em áreas descansadas ou de pastagens e o nível tecnológico é o intermediário.
A exemplo do grupo anterior o pêssego também é comercializado com empresas de pequeno porte da vizinhança. No entanto não tem sido investido na manutenção dos pomares.
Em geral a melancia é produzida no município por unidades desta categoria. Via de regra as terras utilizadas para esta atividade são arrendadas. Trata-se de um número pequeno de produtores que remuneram o arrendamento deixando uma pastagem (aveia, azevém, cornichão) e/ou uma porcentagem da produção.
A semente utilizada é a fiscalizada e é toda adquirida no comércio de Pelotas. Como os produtores não estão trabalhando em terras próprias, também nesta cultura não é feita correção da acidez. A adubação segue a ótica dos demais cultivos , é feita com base na experiência adquirida com a prática. A colheita é manual com uso de mão-de-obra não especializada contratada., usam em média 5 hs/ha/H. A comercialização do produto é feita em Pelotas, mas a maior parte do produto destina-se ao mercado de São Paulo.
O subsistema de criação é formado basicamente por bovinos de leite e ovinos, suínos e aves. A orientação da produção leiteira, em aproximadamente 85% das unidades produtivas desse grupo, é o mercado, via cooperativa. O número médio de cabeças/unidade é de 25 com um intervalo de 8 a 50.
Em média as propriedades tem 7 animais em lactação, com uma produção diária média de 3 litros por cabeça. A base alimentar desses animais é composta por pasto nativo, pasto cortado (azevém e aveia), milho moido, ração no cocho. A ovinocultura apareceu em 15% das unidades deste grupo, o objetivo desta atividade é a extração de lã. No entanto a situação desta atividade é preocupante para os produtores pois a cooperativa (COSULÃ) esta fechada e o produto enfrenta a concorrência com a lã uruguaia e argentina tida como de melhor qualidade. Quanto aos suínos e aves são criados apenas para consumo na propriedade, com vendas eventuais de suínos em pé e ovos para feiristas.

Tipo 6: Produtor familiar capitalizado

As explorações deste tipo caracterizam-se pela não venda da força de trabalho e pelo emprego exclusivo da mão de obra familiar na maior parte do ano agrícola. A compra da força de trabalho de terceiros ocorre nos períodos de safra. Por vezes há contratação permanente de um trabalhador (não é regra geral, somente 30% o fazem). Todavia este grupo caracteríza-se pelo emprego da força de trabalho contratada em menos que 50%. A maioria das unidades tem produção de leite e vai ao mercado. Todas as unidades do 3o distrito tem o arroz como principal atividade econômica e gado de corte e/ou leite.
Geralmente os produtores que trabalham com bovinos de corte não se dedicam ao leite. Mas de um modo geral todos tem sua produção agrícola, seja qual for, orientada para o mercado. Estas famílias não são muito numerosas. A idade média do chefe do estabelecimento esta em torno de 49 anos, todavia o intervalo é muito amplo, sendo de 36 a 67 anos.O número médio de filhos por família é dois. O grau de escolaridade é igual ao anterior com as mesmas condições. Estes jovens, talvez estimulados pelo sucesso de seus pais, não manifestam tanta vontade de deixar a atividade agrícola, todavia há os que querem estudar.
A exploração da bovinocultura leiteira é a principal atividade econômica de parte destas propriedades. O leite produzido é comercializado com a COSULATI e estes produtores encontram-se nos grupos de assistência especial da cooperativa. Em torno de 60% dos estabelecimentos tem resfriador e a coleta é feita em dias alternados, o que diminui os custos de recebimento e como incentivo a cooperativa remunera melhor o litro produzido.
Este grupo possui melhores equipamentos quando comparados aos anteriores como trator, plantadeira, grade, arados (a colheitadeira é sempre alugada). Vários deles tem construído paióis para armazenamento do milho financiados pela FEAPER e assessorados pela Emater e percebe-se um interesse crescente dos demais. As instalações de moradia são de alvenaria e encontram-se em ótimo estado de conservação. Em geral, ela tem tamanho suficiente para o número de moradores.
As instalações em geral são muito boas, e as propriedades tem várias benfeitorias como paióis,
Aproximadamente 70% tem silos financiados pelo governo do Estado através da FEAPER, o estilo de construção varia um pouco, mas o tipo chapecó tem tido boa aceitação entre os produtores. As salas de ordenha são mais apropriadas do que as dos grupos anteriores, em geral, todas dispões de resfriadores. A casa de moradia é sempre de alvenaria, com espaço suficiente para toda a família.
Como nestas propriedades a principal atividade econômica é a bovinocultura de leite, como são especializados seu padrão zootécnico é melhorado, sua produção diária é superior aos demais tipos estando na média em 10 litros/dia. Aqui há maior integração dos sistemas de cultivo com o de criação. Todo o milho produzido é destinado ao consumo na propriedade (humano e animal), não é comercializado. A área média cultivada é de 15ha, com produtividades de 5000kg/ha. A bovinocultura de corte também é encontrada em algumas propriedades, o sistema de criação é o extensivo e o padrão zootécnico é o intermediário, com algumas excessões que usam o alto nível.
Os componentes subsistema de cultivo mais comuns nesta categoria são: arroz, soja, milho, feijão, batata, pomar e horta doméstica, mata nativa, pastagem nativa e artificial (azevém e aveia).
Nesta categoria são encontrados os pequenos produtores de arroz, a área média cultivada esta em torno de 10ha com médio a alto nível tecnológico e produtividades que variam entre 900kg/ha a 1500kg/ha. Normalmente a área cultivada com arroz, em um ano, fica em pousio por dois ou três anos. Nestes casos alguns produtores fazem a chamada lavra de verão que consiste em discar e aplainar o solo a uma profundidade 20cm. Esta prática tem a finalidade de
reduzir as sementes das plantas indesejáveis. O preparo real do solo é feito então em setembro e são utilizadas em média 1,5 hora para a lavração e 1,5 para a aração de um ha, se for necessário é feito novamente o aplainamento o que incluiria mais horas de trabalho. No entanto na maior parte da área com cultivada arroz é feita rotação com a soja.
O plantio é mecânico e a colheita também (tratores e graneleiros próprios, a colheitadeira as vezes é emprestada), alguns armazenam em casa, depois entregam o produto para ser armazenado em Pelotas e a comercialização é realizada na melhor hora. A aplicação de agroquímicos é feita por avião. O rendimento da cultura esta em torno de 140sc/ha, e o rendimento de engenho 125sc/ha. A irrigação é feita por alagamento.
(...)
Vários produtores de soja possuem graneleiro próprio. A área plantada com soja é muitas vezes arrendada. (o preço pago varia, mas pode ser em porcentagem e/ou deixando pastos). Um problema enfrentado pelos produtores arrendatários é que os proprietários por vezes, retardam demais a decisão de liberar a área (para aproveitar, mais com o gado) e os primeiros
acabam por perder a época do plantio. O armazenamento normalmente é feito em Pelotas e a comercialização também (80% com as industrias). Ela é produzida em rotação com o arroz, mas a área destinada a soja é muito inferior à do arroz.
O feijão e a batata são produzidos para consumo familiar assim como a horta e o pomar doméstico. Algumas propriedades tem iniciado a exploração apícola nas matas nativas que estão presentes em 100% das unidades.

Tipo 7: Produtor Rural Capitalizado

Esta categoria caracteriza-se pelo emprego de força de trabalho contratada em mais que 50% do total empregado, portanto é classificado neste trabalho como produtor não familiar . A fonte dessa mão-de-obra é a categoria dos assalariados agrícolas. Não houve registro de famílias agregadas, o comum era encontrar na figura do caseiro, rapazes solteiros ou senhores de idade mais avançada, viúvos e sem filhos menores.
A produção agrícola desses estabelecimentos é voltada para o mercado. Em 90% dos casos o proprietário não mora no estabelecimento e possuem outras fontes de renda. Ainda que dessas unidades a famílias proprietárias retiram vários produtos para auto consumo, a orientação da produção é a comercialização. Como não dependem exclusivamente da produção agrícola, portanto podem reinvestir na evolução do nível tecnológico.
Nestas unidades há uma maior frequencia de cultivos temporários que tanto são implantados em áreas próprias como em áreas arrendadas somando; em alguns casos atípicos, mais de 300ha plantados. São classificados como proprietários e a área média esta em 95ha.
Quanto aos equipamentos disponíveis este grupo assemelha-se aos anteriores. Essas propriedades são bem estruturadas quanto as instalações e benfeitorias. Os componentes encontrados nas unidades produtivas pertencentes a esta categoria são praticamente os mesmos que na anterior, somente que neste a bovinocultura de corte (cria) é mais forte e a bovinocultura de leite em algumas propriedades não é encontrada, o que consequentemente altera a produção de milho.
Entende-se por “gado de cria” quando os bovinos não ficam na propriedade na fase de terminação (engorda). O manejo é, em geral extensivo, a base alimentar desses animais é a pastagem natural. A maioria dos produtores praticam a desmama logo após o nascimento dos terneiros, mas algumas vezes usam o sistema de terneiro ao pé efetuando a desmama aos seis meses. Os terneiros recém nascidos podem até ser alimentados artificialmente, mas por volta de 30 dias passam a se alimentar de milho triturado suplementado com alguns sais minerais e uma parte de pasto. São feitas vacinações contra febre aftosa e carbúnculo em todos os tipos de unidades, bem como everminação, banhos e outros cuidados sanitários. Obviamente que a
periodicidade com que é feito o tratamento varia muito nas unidades dos dois tipo, mas em geral, seguem algumas recomendações zootécnicas; o padrão zootécnico utilizado para o gado de corte é o intermediário.
A diferenciação ainda se dá no sistema familiar, pois nesta categoria várias famílias de produtores não residem na propriedade mantendo pouca ou nenhuma influência nos processos de gestão financeira e do trabalho. Aqui aparece a figura do caseiro ou agregado, que administra o cotidiano da exploração. Em muitos casos estas figuras são jovens, solteiros, provenientes de famílias do Tipo 3. Nos demais componentes assemelham-se aos produtores do Tipo 6.

CONCLUSÕES

Os distritos do município do Capão do Leão focados, caracterizam-se por serem zonas de policultura alimentar . Os principais produtos a que se dedicam são arroz, soja, milho, batata, feijão, melancia e bovinos de carne e leite. Esta policultura localiza-se em seis unidades de paisagem, nas quais encontram-se distribuídas as unidades produtivas classificadas neste estudo por categorias sociais. São identificados sete tipos de unidades produtivas dominantes, com restrições e demandas técnológicas e ambientais diferenciadas. Os agroecossistemas, dos quais as categorias sociais são um componente, podem ser organizados da forma seguinte: (i) O primeiro agroecossistema é aquele cujas categorias sociais do sistema família-exploração agrícola são os assalariados agrícola e rural. O sistema de produção apresenta como componente do subsistema de criação a bovinocultura de leite e do sistema de cultivo a batata, feijão e milho.
A produção nestas unidades é definida pela capacidade e disponibilidade da força de trabalho nas horas de folga, pois esta é vendida para terceiros, bem como do apoio da tração animal. Nesta unidades salienta-se a grande importância dos recursos naturais já que a entrada de insumos externos é ínfima. A ênfase dada a produção de milho, feijão e batata deve-se a que estes são destinados ao auto-consumo. Vale dizer que a produção não atende as necessidades da família, sendo necessário adquirir 70% dos produtos consumidos pela mesma. Este modo de produção tem suas raízes nas estratégias de sobrevivência adotadas pelo grupo, ademais das restrições ambientais, que acabam por limitar consideravelmente o consumo familiar, visto que ultrapassados os limites ambientais, enquanto suporte de atividades agrícolas, elas não mais potencializam a reprodutibilidade da força de trabalho familiar, bem como do sistema familia-exploração agrícola. A descapitalização, é em princípio uma das principais restrições deste tipo, aliada a escassez do fator de produção terra e falta de tradição de produção comercial. (ii) Este agroecossistema tem a produção familiar de subsistência como categoria social. Os componentes do sistema de produção são iguais aos primeiros, somente que estes produzem para o autoconsumo, importando somente o mais necessário e vendendo esporadicamente o excedente. A estratégia de sobrevivência deste é semelhante aos primeiros
mas, a este, soma-se uma produção agrícola um pouco mais significativa. a exemplo dos anteriores a falta de capital e a pouca disponibilidade de terra são as principais restrições deste tipo. (iii) A característica principal do quarto agroecossistema é estar classificado como produtor familiar não proprietário, pois a maior parte das terras em que produz são terras de terceiros.
Nos sistemas de produção a ênfase é dada a batata, ao feijão, ao milho e a melancia, em um numero muito reduzido de unidades aparece o pêssego como componente do subsistema de cultivo. O nível de inserção deste tipo no mercado é muito maior mas a comercialização apresenta problemas pois, em geral, é feita via atravessador diminuindo assim o retorno econômico das lavouras. Os intermediários se negam a comprar com nota fiscal e como os produtores não tem como escoar suas produções, aceitam os termos devidos pelos primeiros. O leite aparece como componente fundamental para a manutenção desses famílias na entre safra das culturas. A exploração do suporte ambiental (físico) é bem maior neste grupo mas os cuidados com a conservação não são tão evidentes (mais discursivo). Aqui ocorre um maior importação de insumos externos como adubos , mas sem recomendação mais embasadas tecnicamente. A dependência das terras de terceiros é, em princípio, uma das principais restrições deste tipo. No entanto a agregação de áreas de terceiros constitui-se numa forma de assegurar sua reprodutibilidade como produtor, já que suas próprias terras ou são insuficientes ou inadequadas para cultivos permanentes. (iv) Este agroecossistema tem componentes semelhantes ao tipo quatro, com a diferença de que a maior parte das ares utilizadas para cultivos são próprias, trata-se dos produtores familiares proprietários. Na verdade o processo de diferenciação no interior dos Tipos 4 e 5 é um pouco restrito. Observa-se o Tipo 4 explorando as mesmas atividades, somente que em áreas de terceiros o que já define a separação. Os componentes mais comuns são gado de leite e de corte, ovinos (baixa freqüência) e milho transformado em produto animal. A inserção deste tipo ao mercado dá-se através da cooperativa de leite, principalmente. (v) Este agroecossistema tem alguns variantes, trata-se do tipo produtor familiar capitalizado. Os componentes mais importantes do sistema de produção são o leite e a carne bovina, o arroz, a soja e o milho. Dos produtores familiares estes são os mais tecnificados e que encontram-se em melhores condições financeiras. Sua inserção no mercado se dá via cooperativa e/ou armazém credenciado para recebimento de arroz, de propriedade de vizinhos. A estratégia de reprodutibilidade do sistema é agregação, via compra de novas áreas. A exploração do suporte ambiental se dá de modo mais intensificado nesta unidades, no entanto há reposição da fertilidade natural, via adubação química, a recuperação biológica é feita com adubação verde em alguns casos. vale dizer que as propriedades não possuem todos os componentes, eles podem variar um pouco. (vi) Os produtores rurais capitalizados diferenciam-se do tipo anterior pela razão de empregar mais de 50% de força de trabalho contratada no sistema produtivo e não constituírem-se, em geral, em um sistema família-exploração agrícola. Nos demais componentes eles assemelham ao Tipo 6.” (p.79-88)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vitivinicultura em Capão do Leão

Trecho extraído de: ALIANDRI, Paulo. Paisagens agrícolas rio-grandenses. Porto Alegre: Livraria Timótheo, 1934, p. 67.

"Capão de{sic] Leão é outro exemplo da especialidade dos vinhos gaúchos. Ali são produzidos principalmente vinhos, conhaques e vermouths da variedade Isabella. Os parrerais {sic}dominam a paisagem. O vinho de laranja também ali é produzido e é muito saboroso, conferindo status de produto original do logar. Sua cor dominante escura é pródiga. Trouxemos quatro exemplares da última exposicção {sic] agrícola de Pelotas. Espera-se para o ano vindouro que a firma contratante responsavel por sua commercialização passe a fornecer para o estrangeiro.
(...)
O vermouth "Torres" de Capão de Leão passa a ser fornecido para a capital gaúcha, em novembro."

Nota: a fonte pesquisada está em formato de livro, mas pelos comentários do autor, dá entender que é um periódico anual, porém difícil precisar.

sábado, 9 de julho de 2011

Os Graniteiros Leonenses na época da Compañia Americana de Construcciones y Pavimentos, S.A.

Trecho extraído de: LONER, Beatriz Ana. Economia e Trabalho na Região Sudeste do Rio Grande do Sul. Disponível em: www.fee.tche.br/sitefee/download/jornadas/2/h7-04.pdf . páginas 13 e 14 do original em formato PDF.

"Mas talvez o pior caso, seja o enfrentado pela categoria dos graniteiros do Capão do Leão, as voltas com problemas referentes às empresas contratantes dos serviços, especialmente a Cia. Americana de Pavimientos e Construciones, motivo de três greves, apenas em 1936. Os problemas eram recorrentes: ou os operários eram pagos apenas com vales, ou então, os trabalhos eram paralisados e as famílias terminavam passando fome. Essa problemática aparecia nos jornais desde 193012, quando o Opinião Pública (1/12/1930) denunciou que os trabalhadores não eram pagos em dia, estando há 13 meses com seus salários atrasados e necessitando descontar seus vales com ágio de até 15%, em um armazém local, que, inclusive, se apressavam em defender, pois sem isso a situação seria ainda pior. Em 1933, em artigo sob o título As leis trabalhistas não são cumpridas em Pelotas, o mesmo jornal (27/6/1933) questionava sobre a atuação das centrais sindicais da cidade neste assunto. Em resposta, a FSP, ao qual o Sindicato dos Graniteiros era filiado, informava que havia sido feito memorial, entregue pessoalmente ao ministro,mas do qual não houvera resposta. Em setembro de 1935 o jornal denunciava que os trabalhos nas pedreiras municipais estavam paralisados, e cerca de 80 operários se encontravam desempregados, com suas famílias passando fome, apelando ao prefeito, para que solucionasse a questão . No início de 1936, eles entraram em greve, devido à falta de pagamento e à falta de gêneros no armazém da Cooperativa, mantido pela empresa, o qual havia dias dispunha apenas de pão. A Cia. alegou que nada poderia fazer, enquanto não recebesse do Estado a quantia que este lhe devia. Com a intervenção do prefeito de Pelotas e do deputado classista Austro de Oliveira, foi feito um acordo com a companhia, pela qual ela se comprometia a pagar, parceladamente, os três meses de salários atrasados e abastecer imediatamente a cooperativa, e eles voltaram ao trabalho (OP 21/2/1936). Mas foi apenas para paralisar novamente em maio, porque a companhia não respeitou a letra do acordo, nem quanto aos pagamentos em atraso, nem quanto ao sortimento regular do armazém da cooperativa que novamente estava vazio. Ainda nessa ocasião, os graniteiros aceitaram novo acordo, com intermediação da União Sindical e outros sindicatos, voltando ao trabalho.
Em cada um desses movimentos, porém, a Cia. conseguia créditos extras do governo do Estado, pelo que se pode considerar que havia um interesse da mesma em manter essa situação, fato que foi denunciado pelo deputado Carlos Santos na tribuna da assembléia gaúcha, em dezembro, quando houve a terceira greve. Em novembro e dezembro, os trabalhos foram paralisados e foi necessária uma mobilização de todos os sindicatos com o fim de arrecadar gêneros alimentícios para estas famílias, o mesmo fazendo a Prefeitura que entregou ranchos aos atingidos. O jornal A Evolução pregava a cassação do registro da
Cia. e o pagamento imediato dos salários e o A Opinião Pública também condenou duramente a situação.
Como resultado da greve de dezembro, o governo do Estado, através de intervenção da própria União Sindical, concedeu à Cia. Americana de Pavimientos e Construciones uma elevada quantia em adiantamento, por conta de pedra a ser fornecida para obras na barra de Rio Grande. Entretanto, os diretores da empresa ouviram inúmeros boatos sobre a instável situação política do Estado, devido às brigas entre Flores da Cunha e Getúlio e decidiram não colocar este dinheiro nas obras aqui situadas, mas aplicá-lo na Argentina, onde tinham negócios. Assim, em meados de 1937, ocorreu a quarta greve, em que os graniteiros gestionaram, junto ao prefeito, para conseguir que as pedreiras, pertencentes ao Estado, fossem postas a trabalhar sob a administração da Secretaria de Obras Públicas (OP 4/6/1937).
Aqui, vê-se o quanto era frágil a organização operária, que não tinha meios de impedir que os trabalhadores fossem manipulados dessa forma por uma companhia, a quem o governo não coibia a atuação, embora fosse também prejudicado por ela. Ao longo desses anos, o número dos graniteiros paulatinamente decaiu, mas mesmo assim continuavam nucleados ao redor de seu sindicato, numa situação grotesca, pois cada movimento de revolta terminava sendo instrumentalizado pela Cia., que auferia lucros com ele e tomava medidas apenas paliativas e enganosas com relação aos seus direitos. Por outro lado, as jogadas desta companhia eram conhecidas e denunciadas por vários setores, dos sindicatos à imprensa tradicional, passando pela Assembléia, mas nada era feito em favor destes operários, que cada vez mais se situavam na incômoda situação de pedintes."
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