segunda-feira, 18 de maio de 2020

Maragato - uma ópera gauchesca


"O bom teatro gaúcho

PORTO ALEGRE - O premiado espetáculo gaúcho Maragato, um moderno épico inspirado nas tradições e na história do Rio Grande do Sul, de Valter Sobreiro Junior, estréia hoje no Teatro Ziembinski, onde permanece até o dia 21 deste mês. Encenada pelo Teatro-Escola de Pelotas, constituído por um elenco jovem (e talentoso), a montagem já mereceu as mais diversas definições, desde 'ópera popular' até 'pós-vanguarda regionalista'.

Maragato já viajou por vários estados, conseguiu 30 prêmios em festivais, fez temporada de sucesso em Montevidéu, Uruguai, ano passado, e também já esteve no Rio tem março do ano passado, no Projeto Mambembão. Agora retorna respaldado por novas premiações - melhor diretor, melhor espetáculo, melhor ator, melhor música e outros, em festivais de São Paulo, Paraná e Ceará, só para citar alguns.

'Defino a peça como uma ópera gauchesca; mas não se enganam, confundindo-a com um espetáculo de folclore; ao contrário, é uma tragédia política, contada musicalmente, sobre coisas do Sul', revela Valter Sobreiro Junior, autor e diretor, seguramente um dos mais versáteis encenadores do Rio Grande do Sul no momento. Sob seu comando o Teatro-Escola de Pelotas apresentou Fuenteovejuna, de Lope de Vega e Em Nome de São Francisco, de sua autoria, antes de chegar a Maragato, que faz uma das mais longas carreiras do teatro gaúcho, já tendo sido assistida por quase 30 mil espectadores.

A peça narra em texto, música e belos momentos plásticos a trajetória de Gabriel, um jovem que, na Revolução Federalista de 1893, sai em perseguição aos maragatos - digamos, guerrilheiros - que assassinaram seu pai, um fazendeiro do Pampa. Ao longo do insano plano de vingança, ele acaba tomando consciência da causa rebelde e adere ao movimento civil, que visou desbancar as oligarquias políticas, de conduta quase feudal. Ao retornar ao lar, vingado, alquebrado por lutas e percalços existenciais, já não é mais o moço destemido de antes, e sim um irreconhecível perdedor, vítima de guerra.

Maragato tem um elenco de 15 atores, que interpretam 28 personagens, e mais um grupo de músicos em cena. O protagonista é Daniel Reus, um universitário de Pelotas, como a maioria dos atores. O grupo é ligado a Escola Técnica Federal daquela cidade, à margem da Lagoa dos Patos, reconhecidamente um dos mais importantes pólos culturais do Sul. Uma rara oportunidade de se conhecer o (bom) teatro que se faz fora do eixo Rio/São Paulo."

Fonte: JORNAL DO BRASIL (Rio de Janeiro/RJ), Caderno B, 11 de Julho de 1991, pág. 07

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