segunda-feira, 14 de maio de 2018

Pânico em Torres/RS


"Leão marinho

O sr. Domingos José Bento, residente nas Torres, escreve-nos d'ali, em 1 do corrente:

<< No dia 26 foi esta villa alarmada pela noticia de que na praia achava-se um enorme bicho, para nós desconhecido.

<< Dirigi-me áquelle porto, encontrando lá o tenente-coronel Fortunato de Souza e outras pessoas, que já haviam apoderado do grande amphibio, que reconhecemos ser um leão marinho, medindo dois metros de comprimento sobre igual circumferencia.

<< Sua semelhança era a de um leão da Asia pela enorme juba de côr parda avelludada que lhe cobria o pescoço até as paletas, sendo o resto do corpo de uma côr de pinhão muito lustrosa.

<< O pello era curto e macio, a cabeça igual á de um cão, tendo a boca guarnecida de cerda de uma consistencia ossea, de dez centimentros de comprimento; as mãos, em fórma de leque, assim como os pés; a bocca guarnecida de enormes dentes, com falta de dois, e as presas inferiores muito gastas, mostrando ser o amphibio muito velho; a lingoa formava um coração, sendo bastante redonda.

<< Seu alimento predilecto parecia ser anxovas, em vista da quantidade de espinhas d'este peixe encontrada no buxo. Sua carne, semelhante á do boi, não tinha cheiro de peixe, e seus intestinos eram semelhantes aos de um grande pôrco, notando-se differença no fígado, de tamanho consideravel, esvaindo-se em sangue apenas se lhe tocou com a faca.

<< Fez-me agradavel impressão este animal, pela sua imponencia, causando-me pesar sua morte.

<< Foi aproveitada a belissima pelle.>>

O amphibio descripto não é mais do que um crorrhinus, especie de phoca, e que abunda nos mares austraes.

Agradecemos ao sr. Domingos José Bento a curiosa noticia que nos enviou."

Fonte:  A FEDERAÇÃO, 24 de Julho de 1884, p.02, c.01-02

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