Primeira página da edição de 13 de Setembro de 1910 do jornal "A Opinião Pública" de Pelotas |
NOTA: Transcrição
da cópia publicada em 21 partes em diversas edições do periódico “A Opinião
Pública”, de Pelotas; a primeira parte surge na edição de 13 de Setembro de
1910 e a última parte na edição de 10 de Outubro do mesmo ano. Foi conservada a
grafia original. Autor: Joaquim Dias. E-mail: joaquimdias.1980@gmail.com
Almanack do anno de 1862
Publicado em
Pelotas, por Joaquim Ferreira Nunes, na typ. á rua da Igreja n.62
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O ALMANAK
Meus
charos leitores, e amaveis leitoras, tivessem mui boas festas, boas sahidas de
extincto, e melhores entradas do anno 1862. Eis o que de coração e pela
oportunidade do ensejo, lhes posso dizer.
Os
leitores sabem perfeitamente o que é um ALMANAK: por consequência fazer-lhes
uma explicação clara e precisa do que é e do que vale este livrinho, creio que
seria uma loucura.
Não
ignorão pois, que em um ALMANAK, o mais interessante não é sempre o calendário, nem os dias de galla, nem as
efemérides; isto esta provado: por esta razão, não instamos muito com o nosso
colaborador, para que preparasse a folhinha, deste bem aventurado anno de 1862
que promete vir menos calamitoso que o finado, de terrível memoria.
Não
julguem que essa denominação é exagerada; pois não: lembrem-se da catástrofe de
Mendonza, das mortes, do rei de Portugal e seu augusto irmão; dos apuros do
Papa e da morte do Conde de Cavour.
Qualquer
destes acontecimentos foi uma verdadeira calamidade, sentida por todos, e por
todos deplorada. Tomamos parte na dôr geral, portanto, damos qualquer desses assumptos
discutidos.
Adiante.
Prescindindo
da FOLHINHA, (por este anno só) resta-nos a parte instructiva e recreativa,
para hir em seguimento á parte comercial, que é sempre a que mais interessa e a
que menos recreia. Para esse fim, fiz-mos um apelo á mocidade talentosa do
paiz, a fim de cada um vir enriquecer o nosso pequeno ramalhete com uma
perfumada flor de seu vasto jardim. Foi um appelo em vão, ou como diz o rifão:
- CLAMAR NOS DECERTO.
A
nossa mocidade, perdida no turbilhão de bailes, festas, theatros e cavalinhos,
deixem as suas flores perderem-se no rodominhar de uma walsa; dispersarem-se no
estoirar de foguetes; e confundir-se n’uma mutação de scena, em evoluções
equestres de uma Mistriz de azulados olhos, frios e embaciados como os
nevoeiros de sua patria.
A
mocidade cruzou os braços, e emquanto sós por sós, luctavamos energicamente
contra mil dificuldades, ella, espectadora impassível, esperava o resultado da
lucta para então tomar parte. O resultado não se fez esperar.
Se
não nos orna a fronte a corôa do vencedor, também nos não cabe a vergonha dos
vencidos, mórmente quanto o combate era tão desigual.
Levamos
ao cabo a nossa missão, senão com gloria, ao menos com consciencia. O ALMANAK de 1862 é uma prova: ele ahi vae,
talvez incompleto, mas cremos que perfeito.
Em
uma publicação desta ordem, quando todos os cuidados são poucos, vendo-nos sós,
não podia de ser assim, e podemos dizer mesmo, que foi uma victoria poder
realisa-la, a dispeito dos AUGURES que lhe prognosticavão a morte no hymbrião.
Porém
o ALMANAK nasceo, hade criar-se, e de anno para anno, corrigindo uma falta,
segmentando um artigo, hade attingir a perfeição, realisando nossas esperanças
e fundamentando nossas promessas.
Eis
o fim que esperamos alcançar, para que trabalhamos, para que nunca deixaremos
de trabalhar.
Oxalá
os leitores comprehendão assim o nosso ALMANAK, aceitam-no apesar de suas
falhas, e nos coadjuvem com o seu contingente para o do anno seguinte. Farão
desse modo um serviço a seu paiz, e tornar-se-hão credores da estima e gratidão
que lhe proferem. – O REDACTOR DO ALMANAK.
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Eis-nos
chegado ao fim do ALMANAK PELOTENSE para o anno de 1862. Aquillo que
muitíssimas pessoas julgavão irrealizável, acha-se hoje executado; é verdade
que, não poucos forão os sacrificios e esforços que fizemos para apresentar ao
nosso publico uma obra desta natureza.
Não
se pode duvidar que é um trabalho de summa importância e auxilio para todos,
infelizmente apesar d’isso, custa-nos a dizer que tentando nós todos os meios
para apresentarmos um trabalho regular, baldado foi todo o nosso cuidado em
pedir a uns e outros notas e esclarecimentos necessarios para formarmos o nosso
ALMANAK; por isso ufanos podemos afiançar que o que hoje apresentamos, embora
incompleto é fructo especial do nosso trabalho, esforço e zelo; não tivemos
aquelles recursos com que contávamos e que nos voluntariamente nos havião
prometido. Paciencia! O primeiro passo esta dado.
Ainda
existe entre nós um prejuízo, e não pequeno, que deve ser removido, afim de não
obstar a marcha dos progressos materiaes desta boa terra, e vem a ser: quando
se tenta uma empresa qualquer e esta apresenta algumas dificuldades, que com um
pouco de paciencia e boa vontade de todo desapparecerão, gritão logo que é
impossivel, que não é para nossos dias, que só d’aqui para cem anos, etc., etc.
Quando
estas e outras insinuações chegão a desanimar os Rothschilds, nas menores
tentativas, o que será de nós pobretões, que só comnosco contamos?
Eis
não hade ser nada, não ha tempestade que se não acalme. Já agora prosseguiremos
impavidos, qual intrepido nauta ao furor das tempestades, e dos escolhos que
povoão o vasto oceano das difficuldades.
Pretendemos
para o anno apresentar ao nosso respeitável publico um ALMANAK, senão completo,
ao menos regular. Irá seguido de artigos interessantes, poesias, charadas, etc.
conhecemos perfeitamente que o que agora apresentamos está mui incompleto, mas
nós temos muita confiança no antigo adagio: - DE VAGAR SE VAE AO LONGE.
Ao
finalisarmos este pequeno cavaco, pedimos a todos nossos favorecedores hajão de
desculpar as faltas que involuntariamente se tenhão dado na presente obra. – DA
REDACÇÃO.
DUAS PALAVRAS AOS
LEITORES
RIDENDO, CASTIGAT MORES
No
momento que veio me a idéa fazer um almanack, qual vos apresento, minha única
ficção foi poder dar-vos um meio mais facilitoso d’esta ou d’aquella pessoa
onde residia, e conjunctamente adaptar charadas, enigmas, logogryphos, anedoctas,
e mais diversões, que por ventura os meus amaveis leitores queirão mandar
inserir: afiançando-vos que além do util, terão o agradavel.
Alem
d’isso prometo-lhes que sómente no anno de 1862, é que terão simplesmente
almanack, mas que nos anos vindouros, adjuntado dito terão uma folhinha. Vinde,
charos leitores, accudi a esta vossa casa, comprae-me muitos e muitos
almanacks. Vida, saude e dinheiro sempre vos heide desejar, (assim como para
mim) porque com isso, bem sabeis que continuo a imprimir muitos e novos
almanacks que vos recrêem, e a receber os vossos abençoados e amaveis cobres.
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