Conta uma folha chilena o seguinte extranho caso occorrido no mar:
"Navegava o vapor Coquinho, que acaba de entrar em Valparaiso, proximo á costa entre Mellendo e Arica, quando um homem de bordo julgou vêr ao longe um vulto, que lhe pareceu monstro marinho ou embarcação pequena, e avisou do que via ao capitão do porto:
A noticia espalhou-se logo a bordo e todos trataram de armar-se de occulos de alcance, procurando cada qual ser dos primeiros a descobrir o que era. O navio manobrou de modo a approximar-se do vulto.
Em dez minutos estava á distancia bastante para distinguir-se um bote submergido até o meio, tendo dentro um homem armado com um pedaço de remo a defender-se contra quatro tubarões, que investiam contra elle.
O homem n'aquelles angustioso momentos defendia-se valentemente, enxotando a pauladas os tubarões que se chegavam cada vez mais com as fauces hiantes.
Do Coquinho acudiu-se logo em soccorro do naufrago, que foi içado para bordo por uma corda, Os tubarões ainda assim o perseguiram, indo um d'elles arrancar-lhe um pedaço de calça na occasião em que o homem subia pelo costado do vapor.
A bordo viu-se que o heróe de tão tragica aventura estava esvahido em sangue e com o corpo todo ferido.
Declarou em inglez e italiano que era grego, que adormecera em um bote proximo á costa de Molendo e que, quando accordou, viu se no alto mar e cercado de tubarões.
O mais mysterioso do caso é que, chegando o Coquinho a Arica, o grego desappareceu sem que ninguem soubesse para onde tinha ido.
Do inquerito a que procedeu a policia, resultaram fortes presumpções que o tal naufrago devia pertencer á tripolação de algum barco de piratas da costa, que talvez houvesse assassinado a algum companheiro e fugido para o mar."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 11 de Julho de 1889, pág. 02, col. 01
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