Su Bia ao sertão guerea
Matar passarinhos
Su Bia ao sertão
E também souroucoucou
M. Biard dans la montagne
Désire tuer petits oiseaux,
M. Biard dans la montagne
Cherche aussi serpentes dangereux
Ficaram todos admirados de me ver rir a bandeiras despregadas dessa cantiga que me homenageava, embora com suas pequenas imperfeições. Afinal chegara o momento ansiosamente esperado: surgiram duas figuras importantes. A primeira era um índio alto, revestido de uma túnica branca a lembrar um pouco o roquete de um coroinha e tendo na mão um guarda-chuva vermelho ornado de flores amarelas; na outra mão trazia uma bandeja que também se pendurava de um velho chale de franjas amarrado à cintura como um talabarte. Dentro da bandeja vinha São Benedito, que, não sei por que, é preto, todo cercado de flores. Ali se colocam as ofertas feitas ao santo. A segunda personagem, digna de fazer parte do exército do imperador Soulouque, cingira uma farda azul celeste toda enfeitada de chita em xadrez encarnado; usava dragonas como as do general La Fayette, e na cabeça um chapéu de pontas, fenomenal no tamanho e encimado por um penacho que já fora verde. Como emblema ostentava uma rodela com três cerejas bem vermelhas. Esta última figura é o comandante. Para se merecer essa graduação torna-se indispensável possuir umas pernas de resistência superior à de todas as outras da Terra, pois durante as cerimônias o capitão não cessa de dançar. Ele precede ao cortejo, sempre num passo de dança, com uma baliza nas mãos. A princípio, pensei tratar-se de um círio. Atrás dele vai o homem de guarda-sol vermelho, levando o santo; depois os músicos em duas fileiras, e em torno da imagem as velhas devotas no seu cancã. Meio escondidas nos postigos ou nas portas se surpreendem jovens e bonitas cabeças. Diante de cada pessoa convidada para o banquete, o cortejo parava; o capitão entrava, a dançar, e dava uma volta pelo interior da habitação. Dali se passava a outra casa e, nesse passo, chegaram à igreja toda enfeitada com palmeiras; a iluminação era feita por meio de cabaças cheias de azeite. Fora preparada a mesa defronte do altar; por precaução estenderam-lhe por cima uns panos sem dúvida com receio de investidas das aranhas e de outros bichos malfeitores. Trancaram São Benedito na caixa, após terem retirado as ofertas, e nós então voltamos.
Em caminho vim imaginando o desenho dessa festa grotesca, mas para leva-lo a efeito precisava de pormenores que só me seria dado obter com o auxílio do Sr. X. Dessa vez ele me cedeu um dos seus índios. Digo assim porque é costume na província do Espírito Santo tomar-se conta dessas criaturas desde meninos, embora pertençam a alguma instituição orfanológica; comprometem-se a cria-los e vigia-los até uma determinada idade, não como escravos, mas apenas como empregados. A começo obtive generosamente um modelo para meu quadro, porém depois tudo transcorreu como anteriormente: os pormenores, o chapéu de sol vermelho, os tambores, a vestimenta, o chapéu de dois bicos com o emblema cor de cerejas, nada pude obter e tive de suspender o trabalho.
Fonte: BIARD, Auguste François. Dois
anos no Brasil. Brasília/DF: Senado Federal, 2004, pág. 86-88.
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