terça-feira, 1 de janeiro de 2019

A Bossa Nova


"Nos anos 1950, a televisão despontava como veículo de comunicação de massas, capaz de ditar modas e tendências. O modelo econômico e cultural estadunidense tomava o mundo de assalto: jazz, rock and roll e os filmes de Hollywood estavam por toda a parte.

No Brasil, a circulação de música aumentou, impulsionada pela tevê, que apresentava muitos programas musicais - fruto da influência do rádio. Desse rico diálogo com estilos musicais estrangeiros, surgiu a bossa nova. Seu cenário de origem foi a zona sul carioca, onde os músicos se reuniam em pequenas festas sociais, como as que aconteciam no apartamento da cantora Nara Leão (1942-1989), para experimentar novas formas de tocar e cantar. Entre seus principais expoentes estavam João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes (1913-1980).

A bossa nova representou uma verdadeira revolução na forma de fazer música popular, pois a concepção musical até então dominante valorizava as grandes formações de bandas e orquestras e dava destaque à melodia. Por essa razão, os cantores tinham um papel fundamental nessas formações, e suas interpretações comportavam arroubos melodramáticos, malabarismo vocais e demonstrações de grande virtuosismo. Rompendo com esse padrão, a bossa nova propôs arranjos para voz e violão. O cantor integrava-se ao conjunto como mais um instrumento, e seu canto fluía como ocorre na fala normal.

A relação com a harmonia da música também mudou. Como consequência da aproximação com o jazz, o bebop e a música erudita da vanguarda europeia, com a qual Tom Jobim estava bastante familiarizado, a bossa nova passou a valorizar harmonias complexas com sonoridades até então pouco exploradas em nossa música. E, tal como no canto, a batida dos instrumentos de base (violão ou piano) era contida, evitando-se virtuosismos e exibicionismos.

A batida do violão merece atenção especial. João Gilberto foi o principal responsável pela criação de um violão que gerava desencontros entre os acentos rítmicos e a melodia que era cantada, dando origem ao que ficou apelidado de 'violão gago'. Até então, a bossa nova era uma forma mais intimista e rebuscada de tocar o samba. A partir dessa criação e das composições do músico baiano, ela ganhou autonomia e se fixou como um estilo musical novo.

O samba, naquele momento já consolidado como estilo nacional, estava associado à produção de compositores das camadas populares e era considerado 'música de morro'. Em seu vocabulário, trazia termos que expressavam esse universo, como 'cabrocha', 'requebrado' e 'mulata'. Já a bossa nova, representativa do ambiente da classe média carioca, trazia termos como 'garota', 'balanço' e 'morena'. Nas canções românticas, o dramático era substituído pelo lírico e as desilusões amorosas ganhavam certa leveza com o uso de termos como o 'amor', o 'sorriso' e a 'flor'."

Fonte: MEIRA, Beá. Percursos da Arte: volume único: ensino médio. São Paulo/SP: Scipione, 2016, pág. 206.

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