MISSAS NEGRAS
NA RUA MARANGUAPE
EXPLORAÇÃO DE CRIANÇAS
Ha seguramente um mez falla-se nas rodas mais doidivanas da Colombo nas missas negras da rua Maranguape. A missa negra é, como toda a gente sabe, a domesticação do sabbat. Aquillo que as feiticeiras de Macbeth e a tropa das delirantes e hystericas da Idade Média julgavam fazer em pleno campo nas horas perdidas da noite, foi transformado em deboche caseiro. Aqui, mesmo sob a capa litteraria de religião de Satan, um grupo de depravados sustentou por alguns mezes um templo de perversões, onde se orava ao Vício Triumphal.
Agora, porém, não se trata de nada disso. Não ha nem religião nem litteratura. Existe na rua Maranguape uma casa, um prostibulo de missas negras, aberto das dez da noite em diante, em que se dão scenas delirantes e na qual existem crianças. É uma casa nova, de apparencia innocente. Entra-se, sobe-se uma escada. Ha uma franceza que vos diz: - Attention, monsieur, vous savez, c'est très grave...
A entrada custa 20$. Esses 20$ permittem aos mortaes a iniciação dos mysterios...
Dá-se na primeira sala, onde ha toda a sorte de excitantes, desde a visão fescenina até o opio. Ahi é permittido, mudar a roupa por uma camisola branca, que elles chamam tunica - tal qual como nos hospitaes de molestias infecciosas. E então perguntam ao freguez o que quer ver. Cada sala custa mais cinco mil réis.
É impossivel descrever num jornal os horrores que cada uma das salas acoita, as perversões, os desequilibrios e antes de tudo o torpe lenocinio das crianças.
Não se trata sómente da exhibição repugnante de mulheres nem de um sacerdote, enorme negro da ultima sala, trata-se de pequenos e meninas, a sorrir inconscientemente naquella caverna de horror, scenario de toda a sorte de monstruosidades, tão absurdas e tão colossaes que nem o Kama-Sutra, na sua enorme lista, as enumerou! A frente da casa é occupada por um ingenuo restaurant.
Apontar á policia este horror é uma necessidade. A policia deve saber mas anda a fechar os olhos. Trata-se, sobretudo, da mais torpo, da mais vil das explorações - a exploração das crianças. Os emprezarios do templo devem quanto antes mudal-o ou fechal-o impedindo o interrogatorio das creaturinhas, porque o povo, avido de escandalos, teria nos interrogatorios muito que saber e muito que admirar do grande numero de pessoas conhecidas compromettidas nessa historia de missas negras.
Fonte: GAZETA DE NOTICIAS (Rio de Janeiro/RJ), 25 de Novembro de 1905, pág. 01, col. 05
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