terça-feira, 23 de agosto de 2016

Histórias Curiosas XXIV

Marie Fredriksson,
vocalista da banda Roxette
Início da década de 90 e o noturno da Escola Presidente Castelo Branco “bombava” a cada começo de ano letivo. Devia ser 1991 ou 1992, aconteceu de uma aluna nova matricular-se no ensino médio (na época conhecido ainda como 2º. Grau) e passar a frequentar uma das turmas causando verdadeiro frisson nos rapazes. A moça loira, ligeiramente mais velha que os demais, de cabelo curto à moda da cantora sueca Marie Fredriksson da banda Roxette (que estava muita em voga na época), usando roupas “descoladas” e “modernas”, dona de um sotaque que denunciava sua origem carioca e cheia de gírias, foi uma novidade no meio de um grupo de alunos ainda interioranos, que não estavam acostumados com aquela menina de ar tão cosmopolita. Ao que parece, o pai, engenheiro de uma firma mineradora que estava instalada no município, tinha se transferido para Capão do Leão com a família para melhor atender suas obrigações profissionais.

O fato é que a moça além das características que já havia citado era realmente muito bonita e procurava sempre estar maquiada e perfumada. Não era afetada, agia com educação e cortesia e logo fez amizade com vários colegas. Unindo beleza, simpatia e um jeito um tanto quanto diferente para Capão do Leão, a moça arrancava suspiros entre os rapazes por razões mais que óbvias.

Todavia, as pretensões dos mais galanteadores logo diminuíram, pois a moça numa conversa informal se revelara homossexual e havia comentado com as outras meninas que tinha uma namorada que havia deixado no Rio de Janeiro e que, ocasionalmente, a visitava em datas especiais. Apesar da revelação, a moça não foi discriminada pelos demais e as coisas seguiram normalmente durante o decorrer do ano letivo.

Porém, nem todo mundo ficou sabendo da novidade logo. Aquilo ficou meio que restrito ao grupo de sua turma e alunos de outras turmas ainda olhavam a moça com certo interesse, mas sempre com o devido respeito.

Pois bem, havia uma turma de 2º. ano composta pelos mais atrasados em que um aluno gordinho que usava uma barbicha era a “alegria da galera”. Divertido, extrovertido e sempre bem-humorado, o tal aluno gordinho já havia se tornado uma espécie de mascote da turma por protagonizar momentos hilários e inusitados dentro da sala de aula e nas festas e bailes da juventude da época. Quem conviveu com ele diz que os causos contados a seu respeito seguramente dariam um livro. O sujeito, além disso, gostava bastante de um “goró” e era celebrizado por suas bebedeiras. Comentavam que ele era o rei do Xixi de Anjo – espécie de coquetel que basicamente é cachaça com leite condensado, mas que em cada canto tem o acréscimo de um ou mais ingredientes diferentes.

O professor de Literatura organizou então um seminário em que os seus alunos deveriam ler uma obra previamente listada e apresentarem uma resenha entre os colegas. Juntou algumas turmas e fez uma espécie de aulão para apresentarem os trabalhos. As apresentações começaram e o gordinho do 2º. ano estava presente ao lado de um colega que o acompanhara. A moça loira do início da história foi chamada pelo professor para apresentar sua resenha e o gordinho se encantou com a sua beleza e desenvoltura. Neste momento, muito curioso, o gordinho sussurrando pergunta ao seu colega:

- Bah, tchê! Quem é aquela loira? Que baita loiraça! Que encanto de mulher! Que avião!

- Olha Jeremias (nome fictício), aquela é a Marina (outro nome fictício), não é daqui, chegou este ano, veio do Rio, está na outra turma lá do fundo.

- Bah, me apresenta a loira, então. Tenho que conhecer melhor ela!

- Jeremias, posso até te apresentar a Marina, mas já te adianto que é fria, pois ela gosta a mesma coisa que tu gostas!

- Tá, tá bom então tchê. Quebra essa prá mim, Marquinhos (também um nome fictício).

Dias depois, Marquinhos informalmente apresenta Jeremias a Marina e a moça educadamente o cumprimenta, porém com certa reserva. Uma semana se passa, Marina indignada comentava com as amigas que “aquele gordinho”, o Jeremias, a havia feito uma proposta invasiva, convidando-a para beber com outros amigos num trêiler após a aula, sendo que eles mal se conheciam. A história se espalhou e as amigas disseram a Marina que não ligasse, pois o dito gordinho era famoso justamente pelas gafes que cometia.

Marquinhos e outros colegas ficaram também sabendo e na entrada da aula abordam o Jeremias querendo saber o que deu na cabeça dele de ser tão “carudo” e abordar a moça sem se quer ter intimidade suficiente com ela:

- Ô, Jeremias, como tu é cara-de-pau, irmão! Eu mal te apresentei a moça e tu já chegasses dando no meio. Eu não te falei que ela gosta da mesma coisa que tu gosta?

- Pois é, tchê. Eu até achei que dava para chegar, mas a “mina” não gostou muito. Sabe como é, eu até quis criar uma intimidade, quis convidar ela para fazer a mesma coisa que eu gosto, mas não deu muito certo.

- Jeremias, o que tu entendeste quando eu te disse que “ela gosta a mesma coisa que tu gosta”?! Eu quis dizer que a moça é lésbica, animal! Ela tem namorada que vem lá do Rio de vez em quando para se encontrarem – arremedou Marquinhos.

- Lésbica?! Pqp!! Mas tão gata e sapatona!

- Então, como tu foi ser tão cara-de-pau de convidar a guria para beber? – indagou outro colega que acompanhava a conversa.

Jeremias sem jeito conclui em sua ingenuidade cômica:

- Hum, hum...bah, tchê...eu pensei que quando o Marquinhos me disse que ela gostava da mesma coisa que eu gosto...Hum, hum...eu pensei que era cachaça!


A gargalhada foi geral que dava até para ouvir no outro prédio anexo da escola.

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