quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O Atropelamento do Trem


Trecho extraído de: PINHEIRO, Luiz Carlos Marques. A Pelotas que vivi. Edição independente, 2013, p. 185.

"Meu tio Damásio era uma figura incomum. Família tradicionalíssima em Pelotas, meio baixo, gordinho, andava sempre apressado. Na rua, era incrível a pressa com que ele andava ... pra nada. Puro vício. Da mesma maneira que andava, ele falava. No começo eu tinha dificuldade de entender o que ele dizia, tão depressa falava. Tinha uma outra particularidade, era muito rico. Dinheiro para ele não era o problema. Ora, se juntarmos essas duas particularidades, não poderia acontecer outra coisa. Ele era o engenheiro-agrônomo responsável pela Fazenda da Palma, do Ministério da Agricultura. Não sei se ainda hoje pertence ao Município do Capão do Leão. Estava indo ele para a Palma com a minha tia Rosinha, numa segunda-feira de manhã cedo, quando, ao cruzar a linha férrea, numa passagem de nível, ele abalroou o trem. Só o fato de abalroar um trem já era um fato digno de registro. Nunca ninguém tinha abalroado um trem antes! Era inédito! Desceu do carro rápido, como sempre, e falou rapidinho para o maquinista:
Não se preocupe, não se preocupe que eu pago tudo...eu pago tudo! Ele era conhecido na família por ser desse jeito. Ele não discutia ... ele pagava."

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