segunda-feira, 19 de setembro de 2022

O Pirata da Barra do Sul

 



O Sr. Manoel Moreira da Silva chamou á responsabilidade uma pequena folha com o titulo de Livro Negro; e isto porque juncto ao nome d'esse senhor estavam as palavras - ex-pirata da barra do Sul.

Diz o adagio que - quem não quizer ser lobo não lhe vista a pele - : e pois se o Sr. Moreira não queria contrahir na opinião publica este conceito e esta fama, que é geral aqui e em toda a provincia do Rio Grande, era não dar occasião a isso.

Ha por aqui milhares de pessoas que conheceram ao Sr. Moreira remando em uma pequena canôa; e ao cabo de alguns annos viram-o voltar com uma soffrivel fortuna, hoje aliás muito abalada, porque é muito certo o adagio, que diz - o que o diabo traz o diabo leva.

A origem d'essa fortuna, como o proprio Sr. Moreira tem explicado sem misterio, provem do illicito e criminoso contrabando de negros buçaes, que esse senhor passava, recebendo uma onça e mais por cada um e isto quando era pratico da barra do Rio Grande do Sul.

A tal ponto levou o Sr. Moreira a sua industria que o corpo do commercio representou contra elle; e é tal a fama que deixou n'aquella provincia, que querendo voltar para lá, e obter de novo a praticagem, como premio dos serviços feitos á eleição do Sr. Lamego, os deputados e senadores d'aquella provincia se levantaram em massa contra esta pretenção, que o respectivo ministro repelliu cathegoricamente.

Esta inculpação de pirataria feita na imprensa ao Sr. Moreira é materia velha e passada em julgado; e ninguem melhor do que esse senhor tem consciencia d'isto; mas na conjunctura actual era precizo um instrumento para certa trica eleitoral; e a policia brusca disignou ao Sr. Moreira para bode votivo.

O Sr. Moreira fez mal em prestar-se a esse maneo, por que não surtirá o desejado effeito; e a inculpação de pirata não se lavará nem com toda a agoa da Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul.

O responsaval do artigo está disposto a provar em juizo a qualidade de pirata atribuida ao Sr. Moreira, quanto pratico da barra do Rio Grande. Parece-nos que a prova não será difficil, pois quem cabras não tem e cabritos vende de algures lhe vem; e a fortuna, hoje em physica de primeiro gráo, que trouxe o Sr. Moreira, de certo não foi o resultado do seu modesto salario. O seu fausto, a sua fidalguia nunca deixaram de exalar catinga de negro novo.

Fonte: O MERCANTIL (Desterro/SC), 09 de Novembro de 1861, pág. 01, col. 01-02

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