segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Sobrenome Salema


"SALEMA - Sobrenome português, toponímico, primitivamente nome de peixe. Pode também ocorrer que de sobrenome passou a topônimo, isto é, nome de lugar. É um solar e herdade no Alentejo, que tinha a primitiva grafia de ÇALEMA."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 05 de Fevereiro de 1994, pág. 03

Carlos Peleti


"Falecimento

Faleceu, ha dias, nesta cidade, o sr. Carlos Peleti de conhecida familia caxiense e que deixa numerosa prole.

O extinto era vastamente relacionado, sendo por isso muito lamentada a sua morte."

Fonte: A E'POCA (Caxias do Sul/RS), 16 de Março de 1941, pág. 04

José Francisco da Silva


"Fallecimento

Succumbiu hontem, após uma pertinaz enfermidade, o digno cidadão José Francisco da Silva, major reformado de exercito.

O finado militou na campanha contra o Paraguay, na qual soube sempre distinguir-se pelos seu valor e apreciadas qualidades pessoaes.

Filho de Pernambuco, o estimado cidadão, ainda joven tomou parte na insurreição pernambucana de 1848, impellido pelo ardor dos seus sentimentos liberaes, que elle conservou zelosamente durante as posteriores phases da sua vida.

Por circumstancias estranhas á sua vontade sentiu-se forçado a abandonar o serviço do exercito, reformando-se no posto de major.

As ceremonias do seu enterramenteo realisaram-se hoje, ás 4 horas da tarde.

Em frente á Cathedral foi postada uma guarda de honra commandada pelo capitão Antonio Galdino Travassos Alves, a qual prestou as honras militares compativeis com a patente do findao.

Lamentando a sua morte prematura, significamos á sua familia o nosso pezar."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 28 de Outubro de 1889, pág. 02, col. 02

domingo, 30 de agosto de 2020

Sobrenome Saldanha


"SALDANHA - Sobrenome português toponímico. Na Espanha, SALDAÑA. O fundador desta linhagem foi o judeu converso Nuño Lopes. Seu filho Fernando Lopes tomou o sobrenome Saldanha. Procedem do conde Dom Sancho de Saldanha. Os Saldanha passaram ao reino de Portugal no tempo do rei Dom Afonso V."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 05 de Fevereiro de 1994, pág. 03

Nedy Maria Branco Cerqueira


"NECROLOGIA

Dna. Nedy Maria Branco Cerqueira

Faleceu terça-feira ultima a snra. Nedy Maria Branco Cerqueira, esposa do snr. Americo Raul da Cunha Cerqueira, Contador do Banco do Brasil nesta cidade.

O passamento da sra. Nedy Maria Branco Cerqueira causou profunda consternação, pois a extinta desfrutava de um vasto circulo de amizades e simpatia.

Os atos de encomendação e sepultamento tiveram lugar ôntem á tarde, com grande acompanhamento.

Á familia enlutada, as condolencias de 'A E'poca'."

Fonte: A E'POCA (Caxias do Sul/RS), 29 de Maio de 1952, pág. 01

Diretoria do Congresso Italiano do Rio Grande do Sul em 1892


"Congresso Italiano

Conforme noticiámos, foi installado domingo, no theatro S. Pedro, o Congresso Italiano, que elegeu a directoria e as commissões abaixo:

Conselho director - presidente, Giuseppe Comaschi.

Vice-presidente - Andréa Grimaldi.

2o. vice-presidente - Innocenzo Rodella.

1o. secretario - Dionysio Ronchi.

2o. dito - Virgilio Arzani.

Conselheiros - Valiera, Amati, Giacomuzzi, Horesti, Morelli, Sandri, Ungaretti, Zanirati, Couzi e Barra.

Commissões

Economia - presidente, Egidio Giannini.

Relator - G. Paulo Locatelli.

Secretario - G. Battai Laccava.

Conselheiros - Andréa Grimaldi e Santo Ungaretti.

Beneficencia e instrucção - presidente, Egisto Girolami.

Relator - Dionysio Ronchi.

Secretario - Octavio Giacomuzzi.

Conselheiros - Guglielmo Calegari e Giosué Pasqualato.

Sociologia - Guelfo Zanirati.

Relator - Biaggioto Silvio.

Secretario - Virgilio Arzani.

Conselheiros - Giovanni Bonetti e Macchi Luigi.

Foram acclamados: presidente e vice-presidente honorarios do congresso, o rei Humberto I da Italia e o consul italiano n'esta capital; socio benemerito, o dr. Colombo Leoni."


Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 08 de Junho de 1892, pág. 01, col. 06

sábado, 29 de agosto de 2020

Sobrenome Salazar


"SALAZAR - Sobrenome toponímico espanhol. Em italiano existe SALAZARO, que certamente também veio do espanhol. Dois irmãos normandos chegaram a Santoña; o mais velho se estabeleceu em Salazar (pequena aldeia perto de Espinosa de los Monteros, na província de Burgos, região de Castela e Leão). O seu primeiro descendente se chamou Lopo Garcia de Salazar."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 05 de Fevereiro de 1994, pág. 03

João Rosinato


"NECROLOGIA

João Rosinato

Faleceu nesta cidade o sr. João Rosinato, tronco de conhecida familia aqui radicada e pessoa vastamente relacionada em toda esta região.

O extinto era um dos principais componentes da firma Rosinato, Calcagnotto & Cia. e seu passamento foi profundamente lamentado.

Os atos de encomendação e sepultamento foram acompanhados por elevado numero de pessoas amigas do extinto e da sua familia.

Caxias do Sul deve a João Rosinato uma apreciavel parcela de trabalho e de dedicação em pról do desenvolvimento e do progresso do nosso grande parque industrial."

Fonte: A E'POCA (Caxias do Sul/RS), 07 de Março de 1954, pág. 01

Luciano Provot


"Registro mortuario

Falleceu hoje o honrado cidadão, nosso co-religionario Luciano Provot, de 59 annos de idade, natural da França.

Havia muitos annos que fixára residencia n'esta capital, onde foi proprietario do conhecido restaurant  situado no arrabalde do Menino Deus.

Cidadão brasileiro pela lei da grande naturalisação, Provot filiou se ao partido republicano, concorrendo com o seu voto para a victoria da nossa causa.

Apresentamos os nossos pezames á exma. familia do morto.

- As cerimonias da encommendação devem effectuar-se amanhã, na capella do Menino Deus, ás 8 horas do dia."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 27 de Novembro de 1891, pág. 01, col. 03

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Sobrenome Salamonde


"SALAMONDE - Sobrenome português toponímico, usual na região do Minho. Vem de 'Salamundi', palavra germânica, resultado de uma aglutinação, que significa: 'sala' (=pousada, solar, morada) e 'mund' (=que protege). Portanto: pousada, solar, lugar que protege; lugar usado como proteção."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 05 de Fevereiro de 1994, pág. 03

Manoel José de Andrade


"DIVERSAS

(...)

Falleceu no 3o. districto Manoel José de Andrade, com 103 annos de idade, viuvo de 3 Marias, deixando 30 e tantos filhos no Brazil e 4 em Portugal.

(...)"

Fonte: A RAZÃO: ORGAM POPULAR (Encruzilhada do Sul/RS), 02 de Julho de 1899, pág. 02, col. 01

Antonio Luiz da Costa Esteves


"Fallecimento

Deu-se, hoje, ás 2 horas da madrugada, fallecimento do sr. Antonio Luiz da Costa Esteves, um homem honrado, que em uma longa existencia soube cercar só da consideração dos seus contemporaneos.

Contava setenta e cinco annos de idade, e era pai dos nossos co-religionarios Antonio Luiz da Costa Esteves Junior e José Esteves; o primeiro, negociante estabelecido na Taquara, o segundo, empregado d'esta folha.

Ao saímento do finado, que se effectuou hoje, ás 4 horas da tarde, compareceu grande numero de cidadãos.

Dirigimos os nossos pezames á desolada familia do morto."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 15 de Outubro de 1889, pág. 02, col. 03

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Sobrenome Salaberry


"SALABERRY - Sobrenome basco. Aglutinação dos termos 'sal' (=solar) e 'beri' (=novo). Portanto, significa 'solar novo'."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 05 de Fevereiro de 1994, pág. 03

Palmira Pelizzari Rossi


"Falecimento

D. Palmira Pelizzari Rossi

Com a avançada idade de 73 anos, faleceu, no dia 20 de Junho p. findo, nesta cidade, a veneranda senhor d. Palmira Pelizzari Rossi, viuva do extinto engenheiro arquitéto, sr. Biagio Rossi.

D. Palmia, que, como seu espôso, eram naturais da Itália, residia há muitos anos no Brasil, sendo irmã do finado Dante Pelizzari, de d. Alice Falabrino, exma. esposa do snr. Cesar Lalabrino (sic), de d. Adelmina Pelizzari, da professora d. Cesira Lazzarini e de d. Ema Almeida, todos residentes nêste Estado.

A extinta, deixou a prantear-lhe a morte os seguintes filhos: snr. Andréa Rossi, farmaceutico em Prata; snr. Gianeto Rossi, residênte em Vacaria, e a exma. viuva d. Lola Donatelli, farmaceutica e proprietária da Farmacia Sta. Tereza, desta cidade.

D. Palmira, mercê de seus elevados dotes de coração, era grandemente estimada razão pela qual a notícia do seu passamento ecoou dolorosamente, realisando-se as cerimônias funebres com grande acompanhamento."

Fonte: A E'POCA (Caxias do Sul/RS), 06 de Julho de 1941, pág. 06

Henrique Vares


"Registro mortuario

Folhas que recebemos hoje noticiam o fallecimento em Sant'Anna do Livramento, do venerando ancião Henrique Vares.

Contava sessenta e tantos annos de idade, e a sua morte ha sido muito sentida."


Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 07 de Junho de 1892, pág. 01, col. 02

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Carlota da Costa Bica


"PASSAMENTOS

Falleceu no dia 13 do corrente dona Carlota da Costa Bica, esposa do sr. José Bento Bica. A finada era uma moça cheia de virtudes.

A sua familia os nossos pezames.

Victimado por uma congestão, segundo dizem, falleceu no dia 17 e sepultou se no dia 18 o sr. Firmino Cunha.

O finado era um velho pobre mas honrado, exerceu ha tempos o emprego de estapheta entre esta villa e a cidade de Rio Pardo; deixou numerosa próle contando se nesta 13 filhas das quaes, 12 são casadas.

Enviamos á sua família nossos votos de pezar."

Fonte: A RAZÃO: ORGAM POPULAR (Encruzilhada do Sul/RS), 20 de Agosto de 1899, pág. 02, col. 04

Saturnino Gomes de Oliveira


"Pelotas

(...)

- Falleceram:

O cidadão Saturnino Gomes de Oliveira, natural da cidade do Rio Grande, casado e filho do finado Desiderio Antonio de Oliveira.

Era conferente da mesa de rendas.

(...)"

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 26 de Novembro de 1891, pág. 01, col. 03

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Sobrenome Saião


"SAIÃO - Sobrenome português. SIgnifica 'algoz, verdugo, aguazil, vereador'. Procede do latim 'Sagio' ou 'sagionis', que vem do germânico 'sagio', e quer dizer 'carrasco'. Em português arcaico há a forma SAYÃO."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 05 de Fevereiro de 1994, pág. 03

O Aviador Marques em Bagé em 1914


"Aviador Marques

Chegou sexta-feira a esta cidade, procedente do litoral, o arrojado aviador patricio Sr. Cicero Marques, que fará uma ascensão hoje, ás 14 horas no campo do 'Guarany'.

O intrepido aviador que pilotará, á tarde, o seu agil Bleriót, tem sido muito aclamado em todas as cidades onde tem executado excellentes evoluções de aviação."

Fonte: A SEMANA (Bagé/RS), 20 de Setembro de 1914, pág. 04, col. 03

Gaúchos premiados na Exposição Universal de Paris de 1889


"Entre os expositores brasileiros que obtiveram premios na exposição universal de Paris, contam-se os srs.:

Cardoso & Sieburger, que obtiveram medalha de outo pela sua collecção de pelles e couros curtidos (Pelotas).

Companhia do Arroio dos Ratos, que obteve medalha de prata pelas suas amostras de carvão (Porto Alegre).

Igual premio foi conferido aos srs. C. Ritter & C., pelas suas amostras de cerveja (Pelotas).

J. C. Roth, aqui estabelecido, pela sua exposição de vinho branco, obteve medalha de honra.

Meirelles & C., de Pelotas, obtiveram igual medalha, pelas suas collecções de sabão, sabonetes e perfumarias."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 15 de Outubro de 1889, pág. 01, col. 05

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Sobrenome Sá


"SÁ - Sobrenome português toponímico. Vem do germânico e significa 'morada', 'pousada'. Forma arcaica: SÁA. Os Sá procedem de João Afonso de Sá, vassalo do rei Dom Afonso IV e do rei Dom João I. João Afonso foi senhor da Quinta de Sá, no termo de Guimarães, que é o solar deste apelido."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 05 de Fevereiro de 1994, pág. 03

Augusto Vitáli


"Falecimento

Augusto Vitáli

Segundo noticias particulares recebidas nesta cidade, faleceu na capital de São Paulo, no dia 26 de setembro último, o snr. Augusto Vitáli que aqui residiu por longos anos, apos a sua vinda da Itália, donde é filho.

Augusto Vitáli, home afeito ao trabalho produtivo e honesto, ha já alguns anos que se radicára em São Paulo, onde representava divérsas firmas gaúchas, entre as quais a Sociedade Vinicola Rio Grandense e outras Cooperativas deste Município.

O seu passamento, que o surpreendeu na idade de 46 anos, foi muito lamentando em nossa cidade, onde êle contava grande número de amigos.

Estes, no desêjo de traduzir as suas homenagens póstumas ao amigo que longe faleceu, mandaram rezar em sua memória uma missa sexta-feira última, na Catedral."

Fonte: A E'POCA (Caxias do Sul/RS), 05 de Outubro de 1941, pág. 05

Francisco José dos Santos Junior


"Registro mortuario

Falleceram em Rio Pardo, os cidadãos Francisco José dos Santos Junior, capitão da guarda nacional, e Francisco Borges Pedroso, conhecido carreirista.

(...)"


Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 07 de Junho de 1892, pág. 02, col. 01

domingo, 23 de agosto de 2020

Sobrenome Ruivo


"RUIVO - Sobrenome português, primitivamente alcunha. Alusão à cor do cabelo, avermelhada."

Fonte: FOLHA DE HOJE (Caxias do Sul/RS), 29 de Janeiro de 1994, pág. 03

A primeira escola de Porto Alegre


"POR FELICISSIMO M. DE AZEVEDO

✤✤✤✤✤

Nos primeiros dias do mez de janeiro de 1800 appareceram nas esquinas das ruas Formosa e da Graça desta cidade de Porto Alegre uns cartazes com o seguinte annuncio:

'Antonio d'Avila, recem-chegado a este continente, participa ao publico que vai abrir na rua da Ponte, perto da ponte, uma escola para ensinar a lêr, escrever e contar, e doutrina christã. As pessoas que quizerem se aproveitar do seu prestimo podem trazer os seus filhos para a dita escola.'

Foi, pois, aberta, no dia 8 de janeiro de 1800 a primeira escola regular que teve Porto Alegre, porque até então aprendia-se a soletrar por obsequio de qualquer individuo, que o podia fazer, gratuitamente, ou por mesquinha paga a individuos que nem ao menos sabiam fazer uma conta de sommar.

O leitor necessariamente quererá saber quem era este Antonio d'Avila, que tão modestamente se apresentava a exercer o honroso myster de instituidor da mocidade.

Antonio d'Avila appareceu aqui de maneira um tanto mysteriosa; ninguem sabia d'onde elle viera; houve quem suppozesse que, sendo familiar da ordem dos Jesuitas, com a interdicção d'ella aqui viera dar incognito e com nome supposto; mas tudo isto era uma conjectura, porque nunca se soube ao certo sua origem que elle occultava cautelosamente.

O aspecto de Antonio d'Avila inspirava antipathia: com semblante sempre carregado, seus olhos negros e encovados mettiam medo ás crianças, que tremiam só com a sua presença.

Como se vê do annuncio acima transcripto, sua aula foi estabelecida na rua da Ponte, perto da ponte que deu nome á rua.

É possivel que o leitor queira tambem saber onde estava essa ponte, que tradicionalmente conhece pelo nome da rua, que já perdeu sua designação popular para tomar o nome historico de 'Riachuelo' que rememora o mais brilhante feito da esquadra brazileira na guerra do Paraguay.

Vamos satisfazer sua curiosidade.

O leitor certamente conhece a casa do finado Visconde de S. Leopoldo, situada na antiga rua da Igreja, hoje chrismada com o nome de Duque de Caxias, casa que é habitada pelo illustre Visconde de Pelotas, um dos herdeiros d'aquelle primeiro visconde.

O quintal desta casa forma um desfiladeiro que vai ter á antiga rua da Ponte, fechado por um muro que faz frente a esta rua.

O transeunte, ainda hoje, ao passar por esta parte da rua do Riachuelo, especialmente no inverno, nota ali uma humidade constante em frente ao beco do Fanha, alcunha porque foi conhecido Ignacio Manoel Vieira que o estabeleceu em terreno proprio quando fez um sobrado que se vê no mesmo beco com sacadas de rótula, já em ruinas, parecendo uma mumia para mostrar á posteridade como eram as nossas antigas edificações.

Do lado da rua da Ponte, onde termina o desfiladeiro da mencionada casa do Visconde de S. Leopoldo, existiam umas vertentes, que, com as aguas que desciam do morro durante as chuvas, formavam ali uma sanga que por seu turno abriu caminho para leval-as ao rio, originando esse trajecto uma especie de arroio, onde foi collocada uma tôsca ponte de madeira.

Já sabe o leitor onde existiu a ponte. Procuremos agora a casa onde foi estabelecida a escola que, pelo annuncio, sabemos estar perto d'ella.

Ainda em frente ao muro do quintal do Visconde de S. Leopoldo, do lado da rua Clara, encontrará uma casa enterrada para a qual se desce por seis degraus. É justamente nessa casa que foi estabelecida a aula que nos occupamos.

A escola, que tão modestamente começou, em pouco tempo alcançou o numero de cincoenta alumnos, porque então não havia outra, sendo obrigados os pais, que não queriam deixar seus filhos analphabetos, a entregal-os aos rigores de um professor que foi alcunhado por si proprio com o pouco sympathico qualificativo de 'amança-burros'.

Antonio d'Avila desempenhava bem o seu qualificativo de - amança-burros.

Sem que lhe faltassem habilitações, e mesmo illustração, carecia completamente de todas as qualidades necessarias para educar a mocidade. Genio irascivel, cruel mesmo, em vez de ser olhado pelos discipulos com o respeito analogo ao que se tributa a um pai, era ao contrario temido como um tyranno: - tal era o horror que inspiravam aos miseros meninos os seus modos grosseiros e insolentes.

Penetremos na aula.

No vão, que fica entre a porta e a janella, está uma pequena mesa, um pouco afastada da parede para dar lugar a uma poltrona com assento de sola, onde se accomoda o professor.

Por detraz do professor, pendente da parede, está uma cruz de madeira pintada de preto, que é como que o symbolo da escola.

Á esquerda da sala vêm-se trez ordens de bancos á moda dos circos de cavallinhos ou de rinhas de gallos (em amphitheatro), onde se sentam os meninos, sendo os maiores no primeiro banco e os outros nos bancos superiores, guardadas as gradações de adiantamento.

Á direita vê-se um grande banco, tomando quasi todo o comprimento da sala, com altura sufficiente para servir de escrevaninha, e a par delle outro da mesma extensão e com altura proporcionada a nelle se assentarem os meninos quando escrevem.

Por detraz da sala da aula, em um quarto, com uma janella para a área, ha igualmente dous bancos e uma meza. Fórma esta peça uma outra aula de estudos secundarios, latim e francez, cujos alumnos são em numero de trez ou quatro.

Examinemos agora o seu methodo de ensino.

A cada um discipulo principiante é destribuido um pedaço de papelão sobre o qual, em um quarto de papel, está grudado o abecedario escripto pelo professor.

Da mesma fórma, sobre pedaços de papelão são destribuidos aos meninos todas as cartas de nomes, sempre escriptas com lettra de mão, como se dizia então (manuscriptas).

Depois de saberam toda a escala das cartas passam á leitura da doutrina christã ainda escripta por lettra de mão.

A doutrina christã forma a base da instrucção. Duas vezes por semana são examinados os meninos rigorosamente em todas as suas orações, soffrendo crueis castigos, a maior parte das vezes immerecidos porque as faltas dos examinandos são filhas do terror que inspira o professor aos meninos seus discipulos.

Da doutrina christã passam elles a lêr, em quadernos escriptos pelo professor, trechos do Velho e do Novo Testamento, sobre cujos artigos preleccionava com pericia pouco commum o Sr. Antonio d'Avila.

Depois desta leitura se exercita o discipulo na leitura de sentenças dos tribunaes judiciarios, escolhidas á dedo entre as mais crueis, como, por exemplo, a que comdemnou o martyr brazileiro Francisco José da Silva Xavier (o tira-dentes) e seus companheiros, a fim de guiar e acostumar o espirito docil da infancia á obediencia cega ás ordens de El-rei Nosso Senhor.

Só depois de recebida toda esta instrucção é que se fornece ao alumno a Cartilha do Padre Ignacio.

Recebido este ambicionado presente, que annuncia ao menino a approximação do termo do seu martyrio, entra o coitado em nova lucta  intellectual que tem de lhe custar muitas duzias de bôlos.

Para logo, elle desconhece a lettra de imprensa, o que não admitte o tyranno professor. Acostumado a ouvir a leitura corrente do discipulo, não póde soffrer pacientemente a difficuldade que elle encontra nos novos caracteres que é preciso conhecer a fundo para poder lêr correntamente.

Trez vezes por semana dão-se os meninos ao exercicio da escripta, principiando por fazer riscos perpendiculares, copiados de traslados. D'ahi passam a escrever as lettras do abecedario a lapis para serem depois cobertas com tinta, e por fim escrevem maximas moraes.

Cada discipulo ao acabar a sua escripta levanta-se da escrevaninha e, depois de a apresentar ao professor sem ter coragem de levantar os olhos, toma o lugar que lhe compete no banco de estudo e de lá espera como o comdemnado a leitura da sentença.

Terminada a apresentação das escriptas, são ellas minuciosamente examinadas pelo professor, que á proporção que as vê, segundo a boa ou má prova, vai passando-as para um ou outro lado da meza, escrevendo na parte superior de grande parte dellas os algarismos 2, 4, 6 ou 8 (sempre numeros pares) e assim por diante.

As escriptas tem cada uma a assignatura do alumno respectivo. Terminado o seu exame cada menino é chamado por sua vez á meza do professor, que silenciosamente lhe mostra, apontando, o algarismo lançado no alto da escripta.

O menino, sem fazer a menor reflexão e com olhos supplicantes, vai apresentando a mão para receber o castigo: nem mais um nem menos um bôlo do que o numero que foi escripto. A sentença é irrevogavel. Só é perdoada essa condemnação em vista de um perdão apresentado pelo paciente.

Este perdão é obtido pelo alumno, raras vezes, ou por distincção no argumento ou por algum presente de doces ou fructas com que algumas mães mais perspicazes adoçam os rigores do desalmado professor.

Ao ser apresentado o presente pelo menino, o professor desanuvia o semblante e com um sorriso amavel diz: 'Diga á sua mãe que lhe fico muito obrigado pela sua lembrança'. O menino faz uma pequena reverencia e encara o professor de quem (dá a entender) espera uma recompensa: este, olhando-o benevolamente, pega uma tira de papel, escreve nella simplesmente a palavra 'Perdão' pondo abaixo della a rubrica Avila, e a entrega ao menino que, comprimentado com pequenos acenos de cabeça por todos os collegas, toma o seu lugar no respectivo banco.

A aula abre-se pontualmente ás 7 horas e meia, mas só ás 8 entra o professor. Com a sua chegada todos os discipulos se levantam e sôa pela sala a saudação cantada: 'Bons dias'. Depois de tomar assento em sua poltrona, com a gravidade de um soberano, faz o professor um signal significativo e todos se assentam.

Principia então o estudo da leitura, que é cantado, deleitando-se o professor com este exercicio um tanto musical, que muitas vezes serve para dar a conhecer uma aptidão que mais tarde tem de ser aproveitada pelo mesmo professor, que é muito entendido em musica.

A aula é dividida em quatro decurias tendo cada uma por chefe um dos discipulos mais adiantados para ensinarem os principiantes, havendo ainda um decurião-mór que tem uma autoridade absoluta sobre toda a aula e que substitue o professor em qualquer emergencia.

Este pequeno régulo, por sua vez, no desempenho de sua honrosa tarefa arma ao pobre companheiro, com quem tem alguma conta a ajustar, um capitulo de faltas que não commetteu e que lhe custa um castigo de uma duzia de bôlos.

O processo aqui é summarissimo. Ouvida a acusação, sem a menor defeza ou audiencia do acusado, é elle sentenciado ou antes comdemnado.

Frequentes vezes no meio da algazarra musical do estudo chega aos ouvidos do professor o som de uma badalada da sineta da Matriz, que, ainda em construcção, tem dous pequenos sinos suspensos sobre quatro esteios de onde com seus toques festivos ou lugubres chama os fieis á casa de Deus.

Ao som da sineta segue-se o grito do professor: - Silencio! e fazendo-se este immediatamente ouve-se facilmente segunda, terceira, quarta e quinta badaladas. Então o professor levanta-se, vai ao seu aposento, que é na mesma casa voltando logo vestido com casaca de lila preta, calções da mesma fazenda e sapatos de fivella, com seu espadim á cinta.

Os meninos, que conhecem o estylo da aula, levantam-se todos, ao apparecer o professor, como esperando a voz de marcha.

Finalmente sahem da bocca do professor as palavras: - Vamos acompanhar Nosso Pai. O decurião-mór toma a cruz, de que já fallei, e põe-se á testa do prestito, que formado a dous de fundo, com as cabeças descobertas, põe-se em movimento na direcção da igreja, indo na retaguarda o professor com um dos decuriões de cada lado.

Chegados á igreja fazem a sua entrada na mesma ordem em que vão, indo ajoelhar-se no centro de modo a ficarem os da frente quasi junto ao altar, porque, a igreja estando ainda em construcção, são os officios divinos celebrados na vasta sachristia que lhe fica contigua. Acabada a oração dispersam-se os meninos pegando cada uma tocha; e, formando alas, põe-se na rua a procissão em caminho da casa do enfermo que reclama os ultimos confortos de nossa santa religião, indo sempre precedendo a procissão o symbolo da escola.

Ao terminar a procissão do Viatico volta o prestito á escola onde o professor applica algumas palmatoadas áquelles que durante o trajecto não se comportaram com a gravidades e respeito devidos ao acto.

Aos sabbados, guardadas as mesmas formalidades que acabamos de descrever, põe-se a aula em movimento, com a sua cruz á frente, para ouvir a missa que é rezada logo que se apresenta na igreja o professor com os seus discipulos.

A contabilidade encerra-se nas quatro operações arithmeticas, regra de trez e uma conta de juros. A grammatica só é explicada aos discipulos de latim. Ordinariamente ás quartas e sabbados ha argumento de taboada. Umas vezes, quando o professor está de bom humor, como para divertir-se, manda que os meninos se argúam mutuamente, tomando o interrogante a palmatoria com a qual á guiza de mestre applica ao seu contendor um bôlo por cada ponto. Outras vezes colloca elle um menino (que raramente tem mais de oito annos) sobre um tamborete, pondo-se o mestre de pé para interrogal-o. Só este apparato deixa a pobre criança em tal excitação que nada sabe responder, resultando de tão barbaro systema de argumentar taboada sahir o menino da escola ás vezes com as mãos inchadas sendo precizo laval-as com salmoura para evitar a inflammação.

Eis ahis mais ou menos descripta a aula do professor Amança-burros de gloriosa (!) memoria.

Visitemos agora a sua aula de latim e francez.

Aqui a sua natureza se transforma. Á sahida do ultimo discipulo da escola primaria, ás onze horas da manhã, apparece o professor no quarto, que já descrevemos, dando aos alumnos uns - Bons dias, senhores; feito o que toma lugar na cabeceira da meza, ficando os discipulos assentados no banco em frente á mesma.

É chamado cada um por sua vez. Depois da lição da artinha (de cór) faz elle diversas perguntas de grammatica que o discipulo vai respondendo entre o temor e a esperança de acertar. O professor principia mansamente a sua explicação procurando fazer-se bem comprehendido; mas si o discipulo, baldo de intelligencia facil, não comprehende logo a explicação dada, começa o professor sem demora a inflammar-se, gritando loucamente e acabando as mais das vezes pela applicação de alguns bôlos.

Amança-burros além do francez, em que não era forte, conhecia bem a lingua latina estando bastante familiarisado com os classicos. Traduzia mimosamente os poetas latinos, como Virgilio, Horacio, Ovidio, etc. Teve o prazer de apresentar excellentes discipulos em latinidade que traduziam facilmente os melhores livros classicos. O seu curso de latim era feito em cinco annos.

Si a natureza lhe tivesse dado um genio menos aspero e tivesse tido uma educação pautada nos principios da equidade e brandura que são o caracteristico dos melhores instituidores modernos, seria o seu nome até hoje recordado com gratidão, porque foi Antonio de Avila um homem intelligente, trabalhador, methodico e de costumes moraes austeros, - dotes estes que desappareciam para realçar sómente o seu genio irascivel."

Fonte: ANNUARIO DA PROVINCIA DO RIO GRANDE DO SUL PARA O ANNO DE 1885. Porto Alegre, Gundlach & Cia., 1884, pág. 155-162.

Antonio Candido da Silva Job


"Registro mortuario

(...)

Está de lucto o Jornal do Commercio, pelo fallecimento, occorrido hontem á noite, do seu proprietario, nosso collega Antonio Candido da Silva Job.

Era natural de Triumpho e contava sessenta e tantos annos de idade.

Por occasião da guerra do Paraguay, commandou, no Rio Grande, como capitão, uma companhia de guardas nacionaes, desistindo dos vencimentos a que tinha direito.

O governo imperial galardoou os patrioticos serviços do capitão Job, concedendo-lhe o officialato, e, mais tarde, a commenda da ordem da Rosa.

Em Pelotas o digno cidadão occupou varios cargos, presidindo tambem uma loja maçonica.

N'esta capital o commendador Job foi administrador da mesa de rendas.

Mais tarde comprou do sr. Manoel Antonio da Silva a empreza do Jornal do Commercio, de sociedade com o sr. Achylles Porto Alegre.

Ultimamente, aggravando-se-lhe incommodos de que soffria, sobreveiu lhe a morte.

Endereçamos á exma. familia do estimado cidadão, e aos nossos collegas do Jornal, as expressões do nosso pezar.

- As cerimonias do enterramento annunciam-se para as 5 horas da tarde, devendo o feretro sair do predio n. 115 da rua General Silva Tavares."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 25 de Novembro de 1891, pág. 01, col. 01

sábado, 22 de agosto de 2020

Histórias Curiosas LXXVI

A recente onda de frio que chegou ao País e trouxe temperaturas baixas em várias regiões e mesmo negativas ao Sul fez com que esse fato se tornasse um dos assuntos mais comentados nos últimos dias. Em razão disso, um colaborador nosso nos traz uma curiosa história sobre frio e sensação de frio e como este pode ser algo relativo dependendo de onde você mora ou provém. Vamos ao relato.

O inverno de 1979 foi um daqueles "invernos históricos" no Rio Grande do Sul com períodos longos de temperaturas baixas, muita geada na maior parte das cidades e neve nas localidades mais altas. Num dia qualquer, em que a temperatura girava por volta dos quatorze graus Celsius, no campus Capão do Leão da Universidade Federal de Pelotas, trabalhavam quatro funcionários da instituição num setor técnico qualquer. Um deles, gaúcho natural de Pelotas, aproveitava para tirar sarro de um outro, baiano e recém-chegado à Princesa do Sul que, todo agasalhado, sofria com aquela temperatura incomum para seus padrões. Com o aproximar do final do tarde e a insurgência da noite ainda mais fria, os dois já em fim de expediente, terminavam de arrumar o ambiente de trabalho, aproveitando para antecipar as coisas para o outro dia. Foi então que um terceiro aproveitou para brincar com a noção de frio do pelotense, salientando que era comum enfrentar já à tarde temperaturas negativas em sua terra natal e neve era coisa quase certa todo o inverno. O terceiro homem era argentino da província de Córdoba. Entre uma gozação e outra, o pelotense, o argentino e o baiano seguiram discutindo sobre clima e temperaturas frias. Um quarto homem, mais velho e que não havia dado tanta atenção às conversações dos colegas, só olhava e resolveu não intervir. Afinal, não valia a pena falar sobre frio. Não queria parecer pretensioso.

Quem era o quarto homem? O lituano André Bertels. Acostumado com invernos duros de 20 graus abaixo de zero e cuja temperatura de quatorze graus em sua terra poderia ser considerada um "dia quente".

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