"Na década de 1840, em Pelotas, a grande quantidade de matéria animal, originada do excedente das charqueadas, era exportada, e enormes cotas eram perdidas devido à dificuldade de conservação. Diante da possibilidade do aproveitamento dessa matéria-prima in loco, iniciou o setor industrial em Pelotas em plena Revolução Farroupilha.
Pode-se citar a Fábrica de Velas e Colas do alemão Luiz Eggers, fundada em 1841. Através da dedicação e de profundos conhecimentos tecnológicos, esse jovem industrial transformou o empreendimento em um dos mais bem sucedidos da zona sul, disputando o mercado local com os produtos importados. Considerado um trabalho pioneiro, no ramo, na indústria rio-grandense, sua fábrica foi descrita por um viajante alemão em sua visita a Pelotas no ano de 1858.
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Por essa ocasião, o viajante Avé-Lallemant mencionou a visita que fez ao cônsul do grão-ducado de Oldenburgo, residente em Pelotas, senhor Bättegen, de Elsfleth, referindo-se ao fortalecimento das relações políticas entre a Alemanha e o Brasil. Esperava-se que a presença de alemães na cidade e nas colônias fomentasse o desenvolvimento econômico na zona sul do Rio Grande do Su, especialmente com o comércio, a indústria e a agricultura diversificada.
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No início da década de 1850, chegaram a Pelotas, com os 'Brummer', alguns indivíduos com boa formação acadêmica. Estes vieram somar-se aos esforços do germanismo em prol do progresso desta região, desenvolvendo tarefas intelectuais importantes na área educacional e na imprensa pelotense.
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A presença desses indivíduos fez-se notar no corpo docente do Collegio União, em 1852, através do professor José Luiz Kremer. Esse professor ministrava aulas de língua alemã, para a quarta e quinta classes, partilhando o espaço docente, desta disciplina com o professor Soares da Porciúncula.
Neste mesmo ano, também abandonado os Brummers, chegou a Pelotas, com 22 anos, Karl von Koseritz. Gans e outros historiadores são unânimes em afirmar que Koseritz fundou um colégio em Pelotas. No entanto, até o momento, não foi localizado o nome desse estabelecimento. O silêncio em relação a uma fonte leva a questionar o motivo do desconhecimento do nome desse colègio.
A partir desses dados, questiona-se: qual era o nome do colègio fundado por Koseritz? Neste período, ele, ainda não havia se naturalizado brasileiro, pois só o fez alguns anos após sua chegada, em 1859, diante da Câmara Municipal de Pelotas. Por encontrar-se na condição de estrangeiro, seria esta uma razão para não lhe ser atribuída a fundação do colégio?
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A imprensa em Pelotas iniciou em 1851, com a circulação do jornal O Pelotense. A essa, seguiram-se: o Noticiador, em 1854, e O Brado do Sul, em 1858, e muitos outros jornais que surgiram nas décadas seguintes. Entre os nomes alemães vinculados à imprensa em Pelotas, nas décadas de 1850 a 1880, podem ser citados: Koseritz, Gerngross, Ulrich, Kurtius e Stofel.
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Todos esses predicados seduziram e incentivaram a vinda e a permanência do germanismo para Pelotas. Segundo Anjos, este grupo atingiu em torno de 15% da população urbana, no final do século XIX, sem contar a região rural, onde foram hegemônicos.
A presença de alemães em Pelotas, no período acima citado, impulsionou fortemente a indústria e o comércio desta região. Exemplos disto são as fábricas de velas, sabonetes, chapéus, cerveja, fumo, curtumes, couros envernizados e filiais de firmas comerciais de Porto Alegre.
Entre as fábricas fundadas e administradas por alemães e teuto-brasileiros, no perímetro urbano de Pelotas, elencam-se, entre muitas outras, as seguintes: fábrica de velas e sabonetes de Frederico Carlos Lang; fábrica de sabonetes de R. Neumann; fábrica de chapéus de W. Wiener, Spanier e Rheingantz; fábrica de cerveja de Carlos Ritter; fábrica de cerveja de L. Härtel; fábrica de cola de F. Müller; fábricas de fumo de Jakob Klaes; fábrica de couros envernizados de Guilherme Sieburger; e a fábrica de curtume de Henrique João Hadler e Germano Feichert. Acrescenta-se a casa comercial pelotense Ferragem Warncke e Dörken, de Franciso Behrensdorf.
No que diz respeito às casas comerciais, representantes de firmas rio-grandenses e porto-alegrenses, citam-se as seguintes: Luschsinger & Cia.; Thomsen & Cia.; Fräb, Nieckele & Cia.; Fräb und Cia.; C. Albrecht & Cia.; Das Haus Wachtel e Marren & Cia.
Considera-se relevante mencionar o comércio de produtos coloniais, fortemente representado no Bairro Três Vendas, um dos caminhos para entrar na cidade e uma das vias para o escoamento da produção colonial, tanto para o porto como para a linha de trem.
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Em 1857, foi fundada a Sociedade de Beneficência Alemã de Pelotas, por um grupo de imigrantes alemães. Semelhante à congênere de Porto Alegre, a Deutscher Hilfsverein, de 1858, representava a ação pioneira dos alemães em relação às atividades associativas. A partir dessa data, muitas outras sociedades, clubes e associações foram fundados por alemães e teuto-brasileiros em Pelotas.
Com o objetivo da preservação do patrimônio étnico e cultural, os alemães investiram em projetos que contemplaram a atenção e o cuidado com a saúde e a educação. Também priorizaram as atividades esportivas, como por exemplo, o Clube de Tiro (1876), o Clube Alemão de Gymnastica (s/d/f), e o Clube de Regatas Alemã (1898).
Além da Sociedade de Beneficência Alemã, do Krankenverein (Sociedade de Atenção à Saúde) e da Sociedade Germânia (fundada na década de 1880, denominada Clube Germânia), os alemães também direcionaram seus objetivos para sociedades escolares.
Considera-se oportuno mencionar que Der Deutsche Schützenverein (o Clube de Tiro Alemão) funcionou no Clube Germânia, juntamente com a Verein Concordia (Sociedade Concórdia), a Deutsche Krankenverein (Sociedade de Assistência à Saúde Alemã), e o Clube Alemão de Gymnastica.
Juntamente com as manifestações associativas que congregavam os representantes da etnia alemã em Pelotas, cita-se o Jardim Ritter, de propriedade da firma Carlos Ritter & Irmão.
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Após várias tentativas infrutíferas, na década de 1870, alguns senhores fundaram, em 1884, uma Deutsche Evangelische Gemeinde, uma Comunidade Evangélica Alemã, tendo como membros fundadores Frederico Carlos Lang, Frederico Jacob Ritter, Francisco Behrensdorf, entre outros."
Fonte: FONSECA, Maria Angela Peter da. Presença alemã em Pelotas-RS, século XIX: estratégias de resistência à assimilação cultural. In: X ANPED SUL, Florianópolis, out. 2014, pág. 05-11.
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