"O fandango é uma dança em pares conhecida em Espanha e Portugal desde o período Barroco, caracterizada por movimentos vivos e agitados, com certo ar de exibicionismo, acompanhada de sapateios ou castanholas seguindo um ciclo de acordes característicos. Porém em Portugal não é acompanhado por castanholas.
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O fandango, que chegou ao nosso litoral com os primeiros casais de colonos açorianos por volta de 1750, passou a ser o 'batido' principalmente durante o entrudo (precursor do carnaval). Durante esses quatro dias a população do litoral paranaense não fazia outra coisa senão 'bater' fandango e comer 'barreado' (prato típico à base de carne e toucinho). Meses antes, fazia-se a 'cinta' (angariavam-se fundos para a grande festa). Os dançarinos chamados de 'folgadores e folgadeiras', praticavam os mais diversos bailados entre eles o Anu, Andorinha, Chimarrita, Tonta, Caranguejo, Vilão do lenço, Sabiá, Marinheiro, Xarazinho, Xará Grande, entre outros.
Com o passar do tempo, o fandango executado no Paraná foi assimilado pelo caboclo do litoral, assumindo assim seu caráter folclórico e desta forma é preservado até hoje.
Atualmente o fandango se estende do extremo sul a São Paulo. No litoral paulista o fandango inclui coreografias que englobam ou não sapateados, entre elas o Dãodão, Dãodãozinho, Graciana Tirana, Tirana-Grande, Rica-Senhora, Recortado, Recortado Grande, Chimarrita, Querumana, entre outras.
No Sul, foram registradas mais de cem modalidades de fandango.
No decorrer das viagens dos tropeiros, durante as longas noites a beira do fogo, eles procuravam se descontrair esquecendo a dura lida de viagem e dos sofrimentos que passavam. Nessa descontração ao som de violas ou meia-vi Aleolas surgiram certas cantigas e danças que eram praticadas somente por homens (pois não existiam mulheres nas viagens) eles mostravam toda a sua habilidade e criatividade em um prazeroso divertimento. A mais antiga dança do fandango é o Fandango Sapateado, onde cada cavalheiro, depois de bailar em círculo e em conjunto procura exibir sua capacidade de teatralidade, com exuberantes 'figuras-solo' sapateadas, ao som do rosetear de nazarenas, das quais delas lembravam e imitavam lides e motivos de campo e de sua origem, motivo oriundo do século XVIII, quando do nascimento do 'gaúcho-do-campo', em sua atividade birivista tropeira. Dança que deu origem à formação do 'ciclo do fandaguismo' primitivismo rio-grandense, onde aparece posteriormente a dama, formando o par.
Para a execução das danças do fandango, além do uso de duas violas, é fundamental também a presença do acordeão, da rabeca e do pandeiro rural. Os dançarinos, trajando típicas vestes gaúchas, giram em torno um do outro sensualmente, sem jamais se roçarem, nem mesmo com as mãos. Os casais executam movimentos tentadores, insinuantes e ondulantes. Os homens sapateiam sem cessar, provocando assim o constante ritmo das esporas, que acabam atuando como um instrumento a mais."
Fonte: BERTOLETTI, Carlos Henrique & OURIQUE, Alexandre. Festas e diversões gauchescas. In: MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO. Farroupilhas: ideais, cidadania e revolução. Porto Alegre/RS: Corag, 2010, pág. 50-51
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