domingo, 24 de dezembro de 2017

A Lenda da Sálvia


Lenda popular da região da Provença, França, contada durante o período natalino

Quando o rei Herodes ordenou aos seus soldados que executassem todas as crianças pequenas menores de dois anos de idade na região de Belém, temeroso com a notícia de que ali tinha nascido o Messias, Nossa Senhora e São José fugiram com o Menino Jesus pelas montanhas da Judeia. São José à frente dos outros dois, ciente dos perigos que podiam aparecer, chegou a uma aldeia e pediu a hospitalidade dos seus moradores, suplicando por água, alimento e abrigo. Infelizmente, ninguém quis lhe dar coisa alguma, nem mesmo uma palavra de consolo.

Tendo permanecido na estrada, enquanto São José foi levar o burrinho para beber num poço perto dali, Nossa Senhora sentou-se para cuidar de seu bebê na beira do caminho.A curta distância, porém, era possível ouvir os gritos e o tremor da marcha dos soldados de Herodes. Alarmada, Nossa Senhora não sabia o que fazer, pois nem mesmo por perto havia uma caverna ou uma palmeira em que pudesse se esconder.

Entretanto, Maria avistou uma roseira, onde uma rosa recentemente começava a desabrochar. Aflita, Nossa Senhora implorou a flor: "Rosa, linda rosa, floresce bem e esconda debaixo de suas pétalas essa pequena criança que os soldados querem matar e esta pobre mãe já desfalecida de tanto penar". A rosa, franzindo a expressão, respondeu: "Vá rapidamente daqui, minha jovem, pois os verdugos que vierem aqui procurar, podem me despetalar. Perto daqui há o goivo, que tem mais flores do que eu para esconder você".

Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços, foi até o grande goivo e suplicou socorro: "Estou exausta de tanto fugir, preciso que me abrigues aqui, e a esta criança querem condenar à morte!". O goivo, ao agitar a coroa de suas flores, recusou e sem sequer explicar foi dizendo: "Vá longe daqui, pobre mulher. Não tenho tempo para te ouvir. Estou muito ocupado em poder florescer. Vá até a sálvia, pois ela mesmo não tem nada a fazer e talvez te auxilie."

Ao chegar a sálvia, sua última esperança, Nossa Senhora já chorosa rogou: "Sálvia, boa sálvia, floresce para esconder este pobre menino e sua mãe já meio morta de fome, fadiga e medo". A sálvia floresceu tão bem que cobriu todo o solo e suas folhas de veludo fizeram um dossel, onde Jesus e Maria se refugiaram. Ao passarem os soldados de Herodes pela planta, não viram nenhum sinal dos dois. Ao som dos passos dos carrascos, Maria estremeceu de terror, mas o pequeno, acariciado pelas folhas, sorriu. Os soldados foram embora, acreditando que aquela mãe e seu filho recém-nascido tivessem tomado outro rumo.

"Sálvia, boa sálvia, muito obrigado! Abençoo-te por seu amável gesto que todos vão se lembrar desde agora."

Quando José os encontrou, já apavorado por não tê-los encontrado à beira da estrada, colocou a mulher e o menino sobre o burro, que além de ter bebido água, já estava melhor animado por ter comido uma boa porção de cevada que um bom homem desconhecido havia lhe dado. E São Miguel Arcanjo, desceu dos céus para mantê-los firmes e apontou-lhes o caminho mais curto até o Egito.

Desde então, por isso a rosa tem espinhos, o goivo flores mal cheias e a sálvia tantas virtudes curativas. Como se diz na Provença: "Aquele que não usa a sálvia, não se lembra da Virgem".

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