sábado, 2 de maio de 2020

Os sobrenomes dos afro-descendentes no Nordeste do Brasil


"Ancestrais negroides e nome de família

A abordagem científica ao estudo dos nomes de família é reconhecidamente útil na reconstrução da história cultural de um povo, e no caso do Nordeste do Brasil os sobrenomes também constituem fonte de informação sobre a origem racial. Embora oriunda de ancestrais indígenas, negros e europeus, a população atual do Nordeste tem raríssimos sobrenomes de origem indígena e praticamente nenhum de origem africana. Sem dúvidas que algum fenômeno cultural ocorreu durante o desenvolvimento da sociedade nordestina. Este ou estes fenômenos fizeram com que existam atualmente na população cerca de 450 tipos de sobrenome dos quais 11% têm conotação religiosa, isto é, são nomes de santos, símbolos, cerimônias ou festividades da igreja católica. Porém a frequência de indivíduos com sobrenomes de conotação religiosa é nada menos que de 38%, demonstrando forte preferência por esse tipo de sobrenome. Não apenas isso, mas os cinco mais frequentes sobrenomes de conotação religiosa (Santos, Jesus, Santana, Nascimento e Conceição) são usados por 31% da população. Mais curioso ainda é o fato que a frequência desse tipo de sobrenome aumenta significantemente à medida que aumentam os componentes raciais negroides. Nos brancos, por exemplo, a frequência de sobrenome de conotação religiosa é de 16% enquanto que nos mulatos claros, mulatos médios, mulatos escuros e pretos é de 30%, 38%, 50% e 55% respectivamente. A explicação para o fato é encontrada no exame de cartas de alforria dos séculos XVIII e XIX. Ao adquirirem sua liberdade alguns escravos também adquiriram um sobrenome, e dentre esses a adoção de um sobrenome de conotação religiosa ocorria em cerca de 60% dos casos.

Finalmente, alguns nomes de conotação religiosa são também frequentes em outras populações de origem portuguesa. Santos, por exemplo, é o segundo sobrenome em frequência nas cidades de Lisboa e do Porto em Portugal. Por outro lado, sobrenomes como Jesus e Conceição apresentam a peculiaridade de serem encontrados apenas no Brasil."

Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO (São Paulo/SP), 22 de Janeiro de 1978, Suplemento Cultural, número 66, pág. 11

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