quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O Manifesto Farroupilha de 1838


"Trecho do manifesto sobre as causas da Revolução escrito em 1838 pelo presidente da República Rio-Grandense, Bento Gonçalves

'Desligado o Povo Rio-Grandense da Comunhão Brasileira, reassume todos os direitos da primitiva liberdade; usa destes direitos imprescritíveis constituindo República Independente; toma na extensa escala dos Estados Soberanos o lugar que lhe compete... (...)

O bom-senso, o amor da ordem, a moderação rio-grandense passaram até aqui em provérbio; o Brasil atormentado pelas facções, agitado pelas fúrias da intriga, convulso até o paroxismo por aspirações exaltadas... nos apontava com o dedo... Éramos o tipo da ordem que altamente preconizava, sem que resolvessem entrar nela (...)

O Governo de Sua Majestade o Imperador do Brasil tem consentido que se avilte o Pavilhão Brasileiro por uma covardia repreensível... tem feito Tratados com Potências estrangeiras contrários aos interesses e dignidade da Nação; faz pesar sobre o povo gravosos impostos; faz Leis sem utilidade pública e deixa de fazer outras de vital interesse para o País (...)

Estes males, além de outros muitos, nós os temos suportado em comum com as outras Províncias da União Brasileira; amargamente o deplorávamos em silêncio, sem contudo sentirmos abalada a nossa constância, o nosso espírito de moderação e ordem. Para que lançássemos mão das armas foi preciso a concorrência de outras causas, outros males que nos dizem respeito particularmente... Há muito desenvolvia o Governo Imperial uma parcialidade imérita, um desprezo insolente e revoltante a respeito de nossa Província (...)

Éramos o braço direito e também a parte mais vulnerável do Império. Agressor ou agredido, o Governo nos fazia sempre marchar à sua frente: disparávamos o primeiro tiro do canhão e éramos os últimos a recebê-lo... Exibiam certamente as províncias a cota respectiva, onde incluímos a nossa para as despesas de guerra; mas o arbítrio nos tirava com violência em gado vacum e cavalar, e em exigência de todo o gênero, mil vezes mais do que cumpria cotizarmos proporcionalmente.'

Documentos históricos brasileiros, Lydinéa Gasman, MEC/FENAME, Brasília, 1976"

Fonte: ALMANAQUE ABRIL. Quem é quem na história do Brasil. São Paulo: Abril Multimídia, 2000, pág. 235.

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