domingo, 10 de junho de 2018

A toureira Julia Rachel



Obs.: Reconstituição com base em reportagens dos jornais Diario do Rio de Janeiro, O Lábaro, Correio Paulistano e Correio Mercantil de 1875, no período de março a agosto.


Julia Rachel da Figueira foi uma jovem moça proveniente de Jaguarão que alcançou fama em 1875 em vários lugares do Rio Grande do Sul e teve esse sucesso repercutido em jornais de vários pontos do País, a ponto de receber um elogio do escritor e cronista fluminense João Curvello.

A moça começou a ser reconhecida em sua cidade de origem pela exímia capacidade como toureira, apresentando-se para plateias que ficavam admiradas com sua coragem e também pelo fato insólito para a época de ser uma mulher. Até gente do outro lado da fronteira vinha assistir as toreadas de Julia Rachel. Não obstante, seja por sua competência ou pela curiosidade de uma sociedade predominante machista, os feitos da moça a levaram a se apresentar para outros públicos, em várias cidades da Campanha Gaúcha.

Sem nunca ter saído derrotada de uma arena, seu grande momento se deu quando foi convidada para se apresentar nas duas cidades mais importantes do interior da província naquele momento, respectivamente Pelotas e Rio Grande. Em Rio Grande, Julia Rachel foi plenamente aclamada, além de ter recebido diversas homenagens da população. Em Pelotas, houve a coroação de sua carreira. Numa plateia formada por membros diversos da sociedade local, importantes negociantes e políticos da capital do Império, além de estrangeiros (conta-se que até membros da companhia dramática ligada à Ópera de Paris), Julia Rachel pois a termo final, numa batalha contra um touro pampeano, o animal na arena em que outrora se praticava este esporte sangrento. Além de vivas e gritos de aclamação, a moça recebeu uma medalha simbólica de campino feminino (isto é, campeão feminino, campeã) pelas autoridades locais.

Posteriormente, a moça ainda se apresentaria em Porto Alegre e, segundo consta, até em Santa Catarina. Terminou por voltar a Jaguarão para o casamento com um rapaz daquela cidade, o que, de acordo com o costume da época, foi o final de sua carreira como toureira. 

No Rio de Janeiro, os jornais até alcunharam uma expressão diante do ineditismo e da intrepidez da toureira rio-grandense: em política, os homens devem ser como Julia Rachel e não se acobardar ante as muitas e pesadas difficuldades, tal qual a moça não teme as marradas e investidas do touro.

Vale a lembrança pela atitude de vanguarda da moça, embora, simplesmente, após seu casamento, provavelmente confinada agora à vida doméstica, tudo o mais que se poderia saber dela, desapareceu.








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