Por Fernando Osório
"Dotado de formosíssimo talento, êsse nobre pelotense, filho do ilustre médico Dr. Octacilio Aristides Camará e D. Israelina Carvalho Camará, muito moço, depois de ter sido aqui empregado no comércio, deixando o balcão e o escritório, fatigado mas alegre, para ir às bibliotecas estudar, seguiu para o Rio de Janeiro, lá cursando, com aprovações honrosas, obtidas pelo esfôrço próprio, várias faculdades, diplomando-se em Farmácia, Odontologia, Direito e Medicina.
Exemplo de um 'self-made man', o seu círculo de amizades tornou-se imenso e, com os seus méritos de profissional, cresceu-lhe a popularidade, tornando-se, em Santa Cruz, o ídolo da pobreza e de tal forma venceu na carreira política que abraçara, sem protetores e sem fortuna, só, valoroso, esperançado e digno, que do Conselho Municipal foi eleito para a Câmara de Deputados, por votações afirmativas do seu prestígio e, contando 40 anos, foi escolhido Senador da República. Nesse pôsto prestou devotado concurso à bancada do Rio Grande em assuntos referentes ao nosso Estado que êle estremecia. Trajetória imponente essa do digno conterrâneo na política da Capital Federal, do partido Frontin, onde chegou a ser um dos chefes mais queridos, idolatrado pelos correligionários e acatado pelos adversários, que jamais puderam vencê-lo ou abatê-lo, pois a lídima conduta de Otacílio Camará foi uma linha reta entre dois pontos: o trabalho e a honra.
Aos 41 anos, no fastígio de sua influência e na pujança das suas fôrças intelectuais, desapareceu, em 1921, como um lutador formidável, no pôsto de honra. Foi uma alma comparada àquelas que Edmond Rostand traçou no Cirano de Bergerac, morrendo paupérrimo, opulento de alma e coração, austero no combate à mentira, às prevenções, às más idéias, límpido, levando, sem mácula, com a odisséia da sua vida, o seu penacho de convicções, tal como um modêlo de energia, de virilidade, de infinita bondade, de aprimorada cultura, de inteireza moral, de grandeza de caráter e brilho de inteligência!
Noticiaram os jornais, em sua morte, que, a requerimento de um credor, o juiz respectivo decretara o seqüestro da biblioteca de Otacílio Camará, seu único bem, para pagamento de uma nota promissória no valor de seis contos, que emitira, vencida e não resgatada. Ensejo para a certeza plena de que houve um pelotense desventurado e ilustre que atravessou, sem se salpicar de lôdo, o tremedal da política. Preclara memória!"
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