quinta-feira, 8 de maio de 2008

Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte I



“Da época dos franceses, meu pai dizia, que quem pegava mesmo no batente era o pêlo-duro”.
(De um septuagenário leonense)

Inscrita no imaginário da população, a presença de imigrantes franceses em Capão do Leão merece ser analisada devidamente. Atribui-se a estada da Compagnie Française du Port du Rio Grande do Sul, entre 1909 e 1914, na exploração de pedras para as obras dos Molhes da Barra do Porto de Rio Grande, como um fator que explicaria e comprovaria a influência deste povo em terras leonenses. Isso seria perceptível em prédios e construções. Todavia, verificam-se prédios que possuem características francesas que são anteriores a 1909. Dado isto, é necessário compreender que houve franceses em Capão do Leão e que há descendentes seus que aqui ainda residem, porém não são originários da dita companhia. Possivelmente teremos imigrantes franceses em Capão do Leão que se fixaram entre 1830 e 1950 provenientes de três raízes: do Uruguay, principalmente bascos franceses; da Colônia Santo Antônio, em Pelotas; e indivíduos frutos da migração espontânea. Cabe, entretanto, observar, antes de qualquer coisa a presença da Compagnie Française em nosso recanto.
A Compagnie Française, em suma, fora um consórcio internacional especialmente criado para as obras dos Molhes, cujo capital era majoritariamente francês, porém administrado pelos norte-americanos Lawrence Corthel (engenheiro) e Percival Farquhar (investidor). Corthel já era famoso em obras de engenharia, pois participara da fixação da barra do Rio Mississipi nos E.U.A. Farquhar possuía vários negócios no Brasil, dentre eles a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no norte do País. A companhia ainda contava com m corpo técnico formado por engenheiros franceses e belgas, além de burocratas. Em Capão do Leão, a companhia esteve representada pelo Dr. Claude Petitalot (francês), embora a direção dos trabalhos de extração de pedra estivesse a cargo do engenheiro brasileiro Edmundo Castro Lopes. O local escolhido para a atividade mineradora foi o Cerro das Pombas (hoje Cerro do Estado) – zona que, na época, era propriedade da Família Gastal. No entanto, era deserta, sem vias de comunicação. Dizia-se até que bem pouco tempo antes da chegada da companhia, o Cerro das Pombas foi refúgio de indígenas selvagens.
Os trabalhadores, como já apontado em outro artigo, não eram franceses necessariamente, porém brasileiros e imigrantes diversos absorvidos pela oferta abundante de emprego. Não há registros da permanência de engenheiros franceses ou belgas na localidade, após o final das obras dos Molhes da Barra. Esse pessoal estava habituado a trabalhar em vários lugares do mundo, em grandes empreendimentos de engenharia e é pouco provável que se fixasse em locais de suas empresas.
Houve ainda uma empresa estrangeira no Capão do Leão: a belga Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer du Brésil – responsável pela construção da ferrovia destinada a carregar as pedras até o Porto de Rio Grande, que descia do Cerro das Pombas até a sua junção à ferrovia Rio Grande-Cacequi, na altura da Vila Teodósio. Sua permanência fora curta – somente um ano (1910) – tempo necessário para concluir a obra. Com aço da empresa norte-americana S & M, os trilhos deveriam ir, conforme desejo da Compagnie du Port, diretamente até Rio Grande, sem juntar-se à antiga estrada de ferro Rio Grande-Cacequi. Entretanto, o Governo do Estado, na época, avisara às duas companhias que se assim acontecesse, esta « via alternativa » sofreria com impostos mais altos, encarecendo o custo operacional do transporte. De fato, optou-se por utilizar então um caminho já existente : a ferrovia Rio Grande-Cacequi. Contudo, chegou a iniciar-se uma ponte ferroviária sobre o Arroio Padre Doutor, a qual, citam os antigos, ainda se vêem as pilastras às margens, não muito longe da zona urbana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostaria de comentar que sou bisneto do Eng. Jules Parmentier, um dos engenheiros franceses responsáveis pela extração das pedras em Capão do Leão. Uma de suas filhas, minha avó materna Antoinette, casou-se com o Eng. Jorge Ruffier na cidade de Rio Grande e um dos filhos, Pierre Parmentier tambem fixou residencia em Rio Grande, todos deixando grande descendencia.

Havendo interesse, posso expandir as informações.

Robert Grantham
Navegantes/SC
robertgrantham@shipconsult.com.br

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