segunda-feira, 4 de março de 2019

As pulperías


"Pulpería é um nome confuso, inclusive se sucumbimos ao costume de buscar a origem das palavras. Tenda onde se vendem pulpas [nota nossa: polpas], comércio de pulpos [nota nossa: lugar onde se vendem produtos de primeira necessidade], uma derivação das pulquerías mexicanas [nota nossa: no México, o mesmo que botequim] ou simples deformação das abacerías espanholas [nota nossa: comércio que vende legumes, azeite, bacalhau, etc., comum na Espanha de outrora], são algumas das definições que tomam de assalto o investigador ávido para dar forma ao que se desvanece a cada indício.

Nas pulperías havia de tudo, mas também quase nada. Isto dependia da oferta dos produtos, da ênfase que cada um pusera na forma de cumprimentar o pulpero [nota nossa: o dono da pulpería], ou da soma de dinheiro que se tinha na mão. A ordem da pulpería, igual ao da memória, se alimentava de recordações e esquecimentos que o pulpero manejava de forma magistral.

Centro de sociabilidade por excelência, a pulpería foi, mais que o espaço ideal da revolução - entendida esta como um movimento letrado orgânico que produz códigos e constituições - o espaço da revolta, de espasmos entrecortados que traziam consigo resplendores de esperança na Venezuela do período entre 1750 e 1850.

Na pulpería se podia falar muito, mas também tinha-se que saber falar, e nada melhor que o pulpero para controlar as conversas. Assim, este personagem se move entre os rumores que o situam como ladrão e salvador da vez, como o homem que em determinado momento pode defender o mais pobre e que também sabe cobrar os favores de um oportuno 'fiado'.

Embora a pulpería não foi o âmbito de um utopia igualitária, se constituiu num micro espaço em que 'uma plebe inquieta elaborava a síntese de suas cores', como sustenta Ramón Díaz Sánchez."

Fonte livremente traduzida do original em espanhol de: ZAMORA 200, 08 de Fevereiro de 2017, pág. 01

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