terça-feira, 21 de março de 2017

Sesmaria de Santana


Trecho extraído de: GUTIERREZ, Ester J.B. Negros, charqueadas e olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas/RS: Ed. Universitária/UFPel, 2001, p. 63-66


"Existiram três estâncias - Santana, São Tomé e Santa Bárbara - entre a fazenda, a charqueada e a olaria do Pavão e o cerne do núcleo charqueador pelotense, na sesmaria do Monte Bonito, situada entre os arroios Santa Bárbara e o Pelotas. Elas ocupavam o espaço cortado pelo arroio de São Tomé, depois chamado de Padre-doutor, e do Pestana, Moreira, ou, como posteriormente foi chamado, Fragata, até encontrar o arroio Santa Bárbara, divisa das terras da estância do Monte Bonito. Pelo menos, nessa área, funcionaram duas charqueadas, localizadas às margens do arroio Fragata. Os estabelecimentos saladeiris pertenceram a Antônio Rafael dos Anjos e a Joaquim Manuel Teixeira, ambos da Colônia do Sacramento.

O dono da fazenda de Santana foi Felix da Costa Furtado de Mendonça, alferes de ordenanças das tropas da Colônia do Sacramento. Nascido em 1735, em Saquarema, Nossa Senhora de Nazaré, no Rio de Janeiro, morreu em 1819, em Pelotas. Seus pais chamavam-se Jorge Antônio da Costa Soares e Ana Maria Furtado de Mendonça. Em 1773, na Colônia do Sacramento, casou com Ana Josefa Pereira. Esta era filha de Vicente Pereira, português de São Pedro de Alfândega da Fé, Bragança, que havia casado na cidade do Porto, enquanto aguardava a partida de um navio para a América, com sua conterrânea Madalena Martins Pinta. Ana Josefa foi a décima e última filha do casal. Entre seus irmãos, havia dois padres, Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, vigário de Rio Grande, e Antônio Pereira de Mesquita. Ana Josefa Pereira e o alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça tiveram três filhos homens, o doutor Hipólito José da Costa Pereira, nascido na Colônia; o padre Felício Joaquim da Costa Pereira, portenho, primeiro vigário de Pelotas, e o rio-grandino José Saturnino da Costa Pereira.

Hipólito, Felício e Saturnino estudaram em Coimbra, como o tio, por isso chamado padre-doutor Pedro Pereira de Mesquita. O mais velho, Hipólito, formou-se em Leis e Filosofia. Jornalista, iniciou e manteve a publicação do Correio Brasiliense, até a Independência do Brasil. Recebeu o título de Patrono da Imprensa Brasileira. A mando do governo português, desempenhou diversas funções. Na América do Norte, estudou as culturas do linho e do cânhamo, por parecerem adequadas à capitania de São Pedro do Rio Grande. Entre 1801 e 1803, suspeito de ser ‘pedreiro livre’, permaneceu, por ordem do Santo Ofício, nos cárceres da Inquisição, de onde conseguiu fugir.

O filho mais moço, Saturnino, estudou Matemática e, como o pai, seguiu a carreira das armas, chegando a general. Foi deputado da Capitânia às Cortes de Lisboa, no início dos anos vinte dos oitocentos; primeiro presidente da província do Mato Grosso, no período compreendido entre 1825 e 1831; senador do Império e seu ministro da guerra.  Os tios e padres Pedro Pereira e Antônio Pereira receberam terras no distrito de Serro Pelado. Pedro foi lindeiro de sua irmã Ana Josefa, na estância de Santana. O vigário de Rio Grande e seu irmão, o religioso Antônio, participaram da partilha das chamadas “sobras” de terras da sesmaria do Monte Bonito.

A sesmaria do alferes Felix da Costa Furtado de Mendonça, e de sua esposa, Ana Josefa Pereira, situava-se no interior das terras, a uma das extremidades da fazenda do Pavão. Localizava-se junto às nascentes do arroio São Tomé, sobre as divisas de Alexandre Baldez, além da serrilhada que arrematava com os morros das Almas e Santana. Em 1807, media 8.712ha. Em 10 de março de 1794, o alferes a tinha recebido de dom José de Castro, conde de Rezende, como prêmio por serviços de guerra. No Registro de Terrenos, a doação possuía 1½ léguas [9.900m] de comprimento, por uma légua [6.600m] de largura, e a descrição dos limites era a seguinte:

Campos no distrito da vila de Rio Grande, na parte setentrional do sangradouro da lagoa Mirim. Confrontam: ao norte com Alexandre da Silva Baldez e Antônio Teixeira Curisco; a oeste com Francisco da Rosa, servindo de divisa o arroio São Tomé; pelo sudoeste com o cume de uns serros que dividia dos campos do brigadeiro Pinto Bandeira, e ao les-nordeste [?] com o doutor Pedro Pereira de Mesquita.

A estância do alferes era vizinha às terras de seu cunhado, o padre-doutor Pedro Pereira Fernandes de Mesquita. O terreno do vigário de Rio Grande havia sido doado pelo mesmo conde, alguns meses mais tarde, mas, no mesmo ano de 1794. Media duas milhas de comprimento [3.219m], por uma [1.609m] de largura. A área estava assim demarcada:

Terras no distrito da Vila de Rio Grande, na parte septentrional do sangradouro da lagoa Mirim, confrontando pelo nordeste com Alexandre da Silva Baldez, pelo arroio São Tomé; a oeste- sudoeste com Felix da Costa, e pelo sul e sudoeste com o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira, servindo de divisa um arroio.

O Padre-doutor emprestou seu nome ao arroio São Tomé, que banhava as suas terras. De acordo com o levantamento realizado pelo capitão, Antônio Ferreira dos Santos, esse terreno tinha sido doado pelo governador José Marcelino, no dia 2 de abril de 1780, a José Inácio das Fontes; fora comprado pelo religioso. Em 1785, o padre-doutor possuía, na área 100 reses, seis cavalos e 50 éguas.

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