terça-feira, 15 de abril de 2008

Bairro Jardim América - Parte III


O tráfego de tropeiros pela Estrada da Várzea do Fragata era intenso na 1ª. metade do século XX e perdurou na região até pelo menos a década de 1960. Já nos últimos tempos, nota-se que não era gado que ia para as charqueadas (em processo de desaparecimento), mas sim para o Frigorífico Anglo, em Pelotas. Esse fluxo regular das tropeadas permitiu que. Ao longo da estrada, se formassem dois estabelecimentos comerciais que serviam como pontos de parada para as comitivas: a Venda do Sr. Pedro Behocaray e a Venda do Sr. Luís Nachtigall. A primeira localizava-se na região do Parque Fragata, a segunda ficava nas proximidades da atual Escola Barão de Santo Ângelo (região dos engenhos de arroz). A Venda do Sr. Luís Nachtigall, por se localizar dentro de nossa área de estudo, merece uma atenção especial.
Além de ser um importante ponto comercial, a Venda do Sr. Luís Nachtigall possuía nos fundos da propriedade, um galpão de costaneiras, aberto na parte da frente, que servia como abrigo para os tropeiros. Ali eles chegavam, apeavam, compravam algo na venda, sorviam uma aguardente e inúmeras vezes pernoitavam no lugar. O galpão também recebia acampamentos de ciganos e gente que viajava a cavalo. Nos domingos, defronte à Venda do Sr. Luís Nachtigall, a comunidade se reunia para assistir corridas de cavalo em cancha de carreiras. Nestas ocasiões, vinham pessoas de outras zonas rurais de Pelotas, inclusive gente da Vila do Capão do Leão. Ao lado da cancha, erguiam-se barraquinhas de carpe (jogo de cartas) e formavam-se disputas de jogo de tava (osso), jogo de bocha e jogo do sapo que divertiam o pessoal.
Além de tropeiros e agricultores, na Várzea do Fragata também se viam lenhadores e carroceiros que trabalhavam com a baldeação de madeira. Não por acaso, pois além de haver muito mato nos arredores, na área em que se encontra hodiernamente o Viveiro de Mudas da Votorantim Celulose e Papel, havia o chamado Mato dos Ingleses de propriedade do Frigorífico Anglo. Dali saía a lenha para as caldeiras do frigorífico.
Na época, não havia nenhuma eletrificação e o povo dependia de lampiões de carbureto à noite. A água vinha de cacimbas, diversas vezes barrentas, que se encontravam no meio dos campos. O único transporte que podiam usufruir era o ônibus da linha Capão do Leão – Pelotas que passava duas vezes ao dia - início da manhã e início da tarde. Mesmo com as dificuldades, o povo vivia de modo humilde, mas não miserável
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