terça-feira, 15 de abril de 2008

Bairro Jardim América - Parte IV


Pelotas é uma cidade que se originou de um primitivo loteamento formado em 1812 às margens do São Gonçalo, correspondente atualmente a sua zona central e o bairro Porto. Deste primeiro núcleo habitacional se expandiu a Princesa do Sul ao que é hoje, observando-se que este aglomerado urbano foi meticulosamente pensado em ruas retas e quadras quase perfeitas. Em suma, a planta original de Pelotas imitava uma “grade”. Assim se desenvolveu a cidade até o século XX.
Não é necessário abordar a importância de Pelotas e suas charqueadas no século XIX para compreender que a cidade se tornaria um grande pólo regional. Conseqüentemente, isto levou que ela crescesse populacionalmente a passos largos e se formassem novas aglomerações (vilas) na periferia da cidade, sobretudo, durante a 1ª. metade do século XX. Estas vilas formaram-se desordenadamente, com vielas estreitas, muita pobreza, nenhum saneamento e, diversas vezes, em terrenos de várzeas e restingas, portanto, susceptíveis ao problema das enchentes. Desde os primeiros anos do século XX, as autoridades municipais não tardaram em encaminhar providências para resolver a questão, seja através da legislação ou por meio de estudos e ações de intervenção. Mais do que isso a necessidade de ampliação dos espaços residenciais também implicou numa nova orientação urbanística que renegava a monotonia e a frieza do sistema em “grade” e propunha ruas em curva e avenidas radiais. Buscando modernizar Pelotas, a proposta era criar novos loteamentos que aliassem elementos de conforto e embelezamento, tendo como inspiração as cidades-jardim inglesas. A idéia era ter bairros bastante arborizados, com número considerável de áreas verdes (praças, quadras de esportes, largos, etc.), todas as residências com área de frente dedicada ao jardim e de fundo dedicada à horta ou pomar. Entre outras coisas, a proibição de casas “pegadas” (típicas da zona central) e de obras mistas (alvenaria e madeira). Acrescentando-se a isso as ruas em curva traduziriam a sensação de “não se estar uma cidade fria e cinzenta, porém nos caminhos de um grande jardim”. Este plano já aparece descrito no inovador Projecto de Ampliamento da Cidade de Pelotas de 1924 de autoria do alemão Fernando Rullmann, engenheiro-chefe da Secção Técnica da Prefeitura. Embora bastante debatido na época, o projeto não chegou a ser aplicado na prática, porém a idéia de ruptura com o modelo de “grade” das ruas permaneceu até décadas posteriores.
No início da década de 1950, a constante das enchentes e o crescente êxodo rural exigiam ações imediatas para resolver a questão da moradia popular. Em 1953, foi criado o Departamento Municipal Autônomo de Habitação Popular e uma série de novos loteamentos surgiram, de iniciativa pública ou privada, ressuscitando a idéia da “cidade-jardim”. Entre eles: Nossa Senhora de Fátima, Simões Lopes, Bairro Jardim, Jardim Europa e Jardim América. Exceptuando o Bairro Jardim, todos apresentam plantas com ruas sinuosas e convergentes, em menor ou maior grau. Todavia, limitados por uma configuração urbana preexistente, estes novos loteamentos foram adaptações de um “bairro-jardim” verdadeiro. De fato, a única planta que corresponde a um “bairro-jardim” em sua totalidade surgira numa zona afastada da área central, rural, que era a Várzea do Fragata. Trata-se do bairro Jardim América.
Parte de um projeto pessoal do Comendador Loréa, como já tratamos em artigo anterior, o bairro foi projetado pelo arquiteto italiano Renato Salvini e loteado pela Comercial e Construtora América. Numa área total de 234 hectares que pertencia ao pecuarista Jaime Costa anteriormente (até 1948), surgiu um conjunto urbano de 94 ruas, 134 quadras e 4.000 lotes. Cada lote, por seu turno, media aproximadamente 360 m2.

Um comentário:

Plínio Gasparin disse...

Interessantes informações sobre a questão do desenvolvimento habitacional em Pelotas. Parabéns!

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