O jornal Mail, de Toronto (Canadá), faz reparar que estão tão acostumados a tomarem como burla as historias de serpente do mar e a considerarem seus apparecimentos como effeito de illusões opticas causadas por demasiadas libações de whiskey, que muitas pessoas que viram realmente um d'estes monstros das profundezas teriam vergonha de o referir e guardam o segredo para si.
O capitão Mackenzie, de Montreal, não pertence ao numero, d'esses espiritos timoratos. Elle vio uma serpente do mar e pouco se lhe importa que o saibam e que d'elle se riam. Não se julga obrigado a esconder a verdade só com o intuito de sacrificar-se a um preconceito tolo.
O capitão Mackenzie tinha ido caçar patos arminhos, na bahia de Bic, quando vio fluctuar um objecto que elle tomou por um mastro de navio.
Aproando immediatamente para o destroço, remou valentemente e ficou surprezo e atterrado reconhecendo que era um serpente.
Por seu lado, o monstrengo, mostrou admiração ao ver a embarcação dirigir-se para elle e levantou a parte anterior do corpo uns 20 pés acima d'agoa, fitando no capitão uns olhos grandes, chammejantes, como as lanternas de uma locomotiva.
A cabeça tinha as dimensões de uma barrica. A boca era enorme e armada de dentes formidaveis em fórma de anzóes.
A pelle rugosa tinha uma cor avermelhada suja e o capitão avalia em 160 pés o comprimento total do corpo.
O capitão não se demorou muito tempo na contemplação do monstro, e desde que calculou poder alcançal-o com sua espingarda, atirou-lhe 5 ou 6 balas. A serpente mudou de rumo e retirou-se a uma gruta, situada em uma ilha visinha, dando furiosas rabanadas nas ondas e deixando um sulco sanguinolento, por onde passava.
Seria requintada má fé attribuir este encontro a um effeito de whiskey, pois todos os amigos do capitão Mackenzie sabem que elle só toma... genebra."
Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 16 de Novembro de 1885, pág. 01, col. 04
Nenhum comentário:
Postar um comentário