terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Feliz Ano Novo 2020!


São os nossos sinceros de um Feliz Ano Novo de 2020, com muita paz, amor, prosperidade, saúde e felicidades! A todos os amigos, seguidores e visitantes do blog. Rumo a 14 anos do blog. Gratidão pelo apoio de todos!

Primitivos colonos de Novo Hamburgo - Parte 07 (Final)


Observação: relação incompleta de colonos alemães estabelecidos antes de 1850 nas picadas Costa da Serra e Estância Velha (denominada genericamente em crônicas setecentistas de "Campo Ocidental"), na região de Lomba Grande (parte das terras da Feitoria Velha, chamada anteriormente Sendente).

Segue a lista com o nome do colono e família (quando houver) e o ano da chegada no Rio dos Sinos (São Leopoldo). 

301. Jacob Schlüter, chegou após 1829.

302. André Schäfer, chegou após 1829.

303. Luiz Sander, chegou após 1829.

304. Guilherme Stork, chegou após 1829.

305. Guilherme Trott, esposa e 1 filho, chegou em 1825.

306. Francisco Antonio Trein, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

307. João Trentz, esposa e 2 filhos, sem indicação precisa de ano.

308. Pedro Tatsch, esposa e 6 filhos, sem indicação precisa de ano.

309. Jacob Tatsch, esposa e 8 filhos, sem indicação precisa de ano.

310. Thimotheo, chegou em 1829.

311. Torres, data de chegada ignorada.

312. Jacob Uebel, sem indicação precisa de ano.

313. Jacob Vetter, sem indicação precisa de ano.

314. João Vetter, sem indicação precisa de ano.

315. Christiano Winter, esposa e 4 filhos, chegou em 1825.

316. Henrique Frederico Wegener, sem indicação precisa de ano.

317. Miguel Wasum, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

318. Adão Wolf, esposa e 4 filhos, sem indicação precisa de ano.

319. Fernando Weber, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

320. Cristóvão Guilherme Weintz, esposa e 1 filho, chegou em 1826.

321. Jacob Weissheimer, esposa e 2 filhos, sem indicação precisa de ano.

322. Nicolau Wingert, esposa e 4 filhos, sem indicação precisa de ano.

323. Jacob Wink, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

324. Felippe Wink, esposa e 1 filho, sem indicação precisa de ano.

325. Frederico Wilk, esposa e 2 filhos, sem indicação precisa de ano.

326. Weinmann, sem indicação precisa de ano.

327. Jacob Welter, esposa e 5 filhos, chegou em 1829.

328. Wendt, chegou após 1829.

329. Werkhauser, chegou após 1829.

330. Wickert, chegou após 1829.

331. Henrique Pedro Wartenpuhl, chegou após 1829.

332. Henrique Werb, chegou após 1829.

333. Cristiano Weinmöhl, chegou após 1829.

334. João Jacob Weihrich, chegou após 1829.

335. Zacarias Warth, chegou após 1829.

336. Wüstenfeld, chegou em 1845.

337. Carlos Willer, data de chegada ignorada.

338. Carlos Zimmermann (solteiro), chegou em 1824.

339. João Zott, esposa e 1 filho, sem indicação precisa de ano.

340. Zottmann, chegou após 1824.

Fonte adaptada: PETRY, Leopoldo. Nôvo Hamburgo: florescente município do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo: Editora Rotermund & Cia., 4a. edição, 1963, pág. 35-36.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Primitivos colonos de Novo Hamburgo - Parte 06


Observação: relação incompleta de colonos alemães estabelecidos antes de 1850 nas picadas Costa da Serra e Estância Velha (denominada genericamente em crônicas setecentistas de "Campo Ocidental"), na região de Lomba Grande (parte das terras da Feitoria Velha, chamada anteriormente Sendente).

Segue a lista com o nome do colono e família (quando houver) e o ano da chegada no Rio dos Sinos (São Leopoldo). 

251. Pedro Ritter, sem indicação precisa de ano.

252. Jorge Robinson, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

253. Rechenmacher, chegou após 1829.

254. Pedro Rübenich, chegou após 1829.

255. Francisco Renck, chegou após 1829.

256. Henrique Reinheimer, chegou após 1829.

257. Jorge Carlos Ruppental, chegou após 1829.

258. Pedro Riegel, chegou após 1829.

259. Pedro José Reinehr, chegou após 1829.

260. Felipe Schmidt, chegou após 1829.

261. Elisabett Schilling, chegou após 1829.

262. Aloys Stumpf, esposa e 5 filhos, chegou em 1825.

263. Schwan, sem indicação precisa de ano.

264. Schaefer, sem indicação precisa de ano.

265. Conrado Streb, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

266. Christiano Scheffel, esposa e 6 filhos, sem indicação precisa de ano.

267. Jacob Schmidt, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

268. Hans Stoltenberg e esposa, sem indicação precisa de ano.

269. Adão Schneider, esposa e 8 filhos, sem indicação precisa de ano.

270. João Scherer, esposa e 6 filhos, sem indicação precisa de ano.

271. Jacob Schilling, sem indicação precisa de ano.

272. Adão Schuch, sem indicação precisa de ano.

273. Schreiner, esposa e 1 filho, sem indicação precisa de ano.

274. Maria Catarina Scherer e 5 filhos, chegou em 1826.

275. Ludovico Sperb, esposa e 6 filhos, sem indicação precisa de ano.

276. Augusto Guilherme Schröder, sem indicação precisa de ano.

277. Jacob Schuch, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

278. Felipe Steigleder, esposa e 6 filhos, chegou em 1827.

279. Henrique Schaeffer, esposa e 2 filhos, sem indicação precisa de ano.

280. Jacob Schirmer, esposa e 4 filhos, sem indicação precisa de ano.

281. Pedro Scheid, esposa e 7 filhos, sem indicação precisa de ano.

282. Augusto Sander, chegou em 1829.

283. Adão Sander, chegou em 1829.

284. Matias Scheffer, esposa e 9 filhos, sem indicação precisa de ano.

285. Seltzer, sem indicação precisa de ano.

286. André Schüler, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

287. Mathias Simon, esposa e 6 filhos, sem indicação precisa de ano.

288. Pedro Selbach, esposa e 2 filhos, sem indicação precisa de ano.

289. Guilherme Schumacher, sem indicação precisa de ano.

290. João Spindler, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

291. Nicolas Scherer, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

292. Pedro Schneider, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

293. Stricker, chegou após 1829.

294. Siebel, chegou após 1829.

295. Seger, chegou após 1829.

296. Strassburger, chegou após 1829.

297. Spohr, chegou após 1829.

298. Guilherme Stiel, chegou após 1829.

299. Jacob Strauss, chegou após 1829.

300. Jacob Steil, chegou após 1829.

Fonte adaptada: PETRY, Leopoldo. Nôvo Hamburgo: florescente município do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo: Editora Rotermund & Cia., 4a. edição, 1963, pág. 34-35.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Justiça de Fafe


"Justiça de Fafe

É do Argos, de Santa Victoria do Palmar, a seguinte noticia:

<<Ha cerca de oito mezes jaz encarcerado um menino, filho do sr. Antonio João de Oliveira Cardoso, que, com um revólver de sala, ferio levemente em uma perna uma meretriz de máos costumes e desordeira.

<<O ferimento foi tal, que no dia seguinte ao conflicto a alludida filha de Venus percorria, em passeio, as ruas da villa.

<<Pois bem:

<<O promotor publico Julio Joaquim da Rocha, que não perde occasião de fingir de puritano, pedio para esse inditoso menino a pena de galés-perpetuas!

<<No emtanto:

<<Ha dias o subdito italino Antonio Rota desfechou um tiro de espingarda sobre seu compatriota Eugenio Repenino, produzindo diversos ferimentos, e é o mesmo promotor publico que, ingenuamente, aguarda o resultado do inquerito para determinar se houve tentativa de morte!...

<<Oh! santa ingenuidade!...

<<Se o orgão da justiça publica enxergou tentativa de morte no primeiro caso, por que razão não a encontra no segundo, muito mais grave e positivo?...

<<Moralidade:

<<Diz-se que Antonio Rota offerece certa quantia, afim de accomodar-se a coisa, ao passo que o sr. Antonio J. de O. Cardoso vê-se na defficiencia de recursos para ser util á justiça publica.

<<Aguardamos o desfecho do inquerito para consignarmos o facto ás autoridades superiores.

<<Por hoje ficamos aqui.>>"

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 27 de Junho de 1885, pág. 01, col. 04

sábado, 28 de dezembro de 2019

Primitivos colonos de Novo Hamburgo - Parte 05


Observação: relação incompleta de colonos alemães estabelecidos antes de 1850 nas picadas Costa da Serra e Estância Velha (denominada genericamente em crônicas setecentistas de "Campo Ocidental"), na região de Lomba Grande (parte das terras da Feitoria Velha, chamada anteriormente Sendente).

Segue a lista com o nome do colono e família (quando houver) e o ano da chegada no Rio dos Sinos (São Leopoldo). 

201. Pedro Kaastrup, sem indicação precisa de ano.

202. Pedro Küchler, sem indicação precisa de ano.

203. Jacob Kronhard, sem indicação precisa de ano.

204. Bernardo Kochenburger, sem indicação precisa de ano.

205. Frederico Kellermann, sem indicação precisa de ano.

206. João Kelsch, sem indicação precisa de ano.

207. Pedro Lorenz, esposa e 2 filhos, chegou em 1825.

208. Felippe Lenz, esposa e 4 filhos, sem indicação precisa de ano.

209. Jacob Lampert, esposa e 7 filhos, sem indicação precisa de ano.

210. Pedro Lamb, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

211. Pedro Ludwig Junior, esposa e 4 filhos, chegou em 1828.

212. Pedro Ludwig Senior, esposa e 6 filhos, chegou em 1828.

213. João Lorscheiter, chegou em 1829.

214. Miguel Ledur, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

215. Jacob Linck, esposa e 5 filhos, sem indicação precisa de ano.

216. Ambrosio Lehn, sem indicação precisa de ano.

217. Leyser, chegou em 1845.

218. Lichtler, chegou após 1829.

219. Lindner, chegou após 1829.

220. Jorge Carlos Lohmann, chegou após 1829.

221. André Meyer, chegou em 1824.

222. Liborio Mentz, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

223. Nicolau Meyer, sem indicação precisa de ano.

224. Henrique Jacob Mentz e 6 filhos, sem indicação precisa de ano.

225. João Meyer, chegou em 1825.

226. Guilherme Maurer, sem indicação precisa de ano.

227. Guilherme Matte, sem indicação precisa de ano.

228. João Moog, sem indicação precisa de ano.

229. Michel, chegou após 1829.

230. Ludwig Mies, chegou após 1829.

231. João Momberger, chegou após 1829.

232. Gaspar Metzger, chegou após 1829.

233. Carlos Merkel, chegou após 1829.

234. Pedro Molter, chegou após 1829.

235. Francisco Jacob Nadler, esposa e 4 filhos, chegou em 1825.

236. João Ott, chegou em 1829.

237. João Frederico Otto, sem indicação precisa de ano.

238. Henrique Pehls, esposa e 4 filhos, chegou em 1824.

239. Jorge Petry, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

240. Luiz Petry, esposa e 3 filhos, chegou em 1826.

241. Carlos Pochetzky, chegou após 1826.

242. Henrique Pazssinger, chegou após 1826.

243. João Conrado Presser, chegou após 1826.

244. Pedro Prass, chegou após 1826.

245. Conrado Ritzel, esposa e 4 filhos, chegou em 1825.

246. Carlos Frederico Richter, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

247. Frederico Reichmann, sem indicação precisa de ano.

248. Nicolau Rech, chegou em 1829.

249. Matias Rambo, esposa e 3 filhos, sem indicação precisa de ano.

250. João Adão Reis, sem indicação precisa de ano.

Fonte adaptada: PETRY, Leopoldo. Nôvo Hamburgo: florescente município do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo: Editora Rotermund & Cia., 4a. edição, 1963, pág. 33-34.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Sobrenome Pinto


"Póde parecer que o apelido Pinto significasse origináriamente côr (de rosto, de cabelo, de olhos); cfr. galinha pinta (Entre-Douro e Minho), isto é, à letra: pintada; a um frango, quando nasce, chama-se também pinto, pelo mesmo motivo da côr. O étimo está no latim pictus, que recebeu um n analógico, e se tornou *pinctus (assim como havia tinctus de tingo, também, em vez de pictus, se criou *pinctus de pingo). Há assim vários apelidos (alcunhas) provenientes de côres, por exemplo: Branco, Côrado, Preto, Ruço, Ruivo, em hespanhol há Pintado, em italiano há Pitto. Na antiguiade até houve um povo (Caledonia) que, por se tatuar, recebeu o epíteto de Picti 'os Pintados'.

Mais o mais provável é que a alcunha que produziu o apelido português de Pinto se originasse metafóricamente no reino animal. Pois que no trato familiar apodamos de franganito e franganote ou frangalhote um rapazinho, e no Algarve se chama frangôlha (ou franganita) a uma rapariguinha dos seus doze ou treze anos, não admira que outrora se aplicasse pinto com significação análoga, e daí nascesse o vulgar apelido de que estou agora falando. Abundam apelidos tirados de nomes de aves, domésticas, ou não: Corvo, Falcão, Gaio, Gavião, Pardal, Pato, Perdigão, Pita, Pombo, Rôla, para só citar alguns. Todos êles foram de comêço alcunhas, como alcunhas são hoje Franganito, Pintassilgo, etc.; na mesma ordem de ideas se chama na língua quotidiana marreco a um corcunda ou corcovado, e pavão a um indivíduo vaidoso. Outros apelidos zoológicos nascidos de alcunhas e apodos, são: Carneiro, Coelho, Gato, Lampreia, Lebre, Lobo, Raposo, Sardinha.

O apelido de Pinto tem entre nós documentação já antiga: Pintus (fórma porém duvidosa), em 1087, nos Dipl. et Chartae, pág. 403; Stephanus Pinto, Dominicus Pinto, nas Inquisitiones (séc. XIII), pág. 637, 645, 458; João Garcia o Pinto nos Nobiliários (séc. XIII ou XIII-XIV). O mais curioso é que nesta última colecção aparece Estevão Anes Pantalhopardo (=Pintalho Pardo), ou só Estevão Anes Pintalho, ou Estevão Anes Pintalhaparda (Pintalha Parda), com a variante Pintalapedra (provávelmente por má leitura), pág. 174, 183, 296, 355, indivíduo que nas Inquisit. (séc. XIII) se chama alatinadamente Fernandus Stephanis Pintalio, pág. 322. Estes apelidos, se por causa do Pardo fazem pensar na côr, por causa do Pintalho, palavra onde entra o sufixo depreciativo -alho, que aparece em bodalho (A. Minho), frangalhote (já cit.) = frang-alh-ote, porcalho (Viterbo, Elucid., fazem pensar na metáfora, e confirmam por isso a minha segunda hipótese. Pintalho Pardo quer dizer 'pintainho de côr parda'; se deve preferir se o feminino Pintalha Parda, êste provirá de alcunha da mãe. Um filho do citado Estevão Anes Pintalapera ou Pintalhaparda chamava-se Fernão Esteves Pintalho, nos Nobiliários, pág. 183.

Falando de D. João Garcia, o Pinto (séc. XIII), diz a Sra. D. Carolina Michäelis que êle foi assim chamado por causa da sua jovialidade, e atribue à palavra Pinto o mesmo sentido de 'frango'. Na Nobiliarchia diz Vilasboas, pág. 316, falando dos Pintos; 'Procedem de D. João Garcia de Souza, neto do Conde D. Mendo que foi o primeiro que teve a alcunha de Pinto'. No séc. XVII-XVIII houve um poeta gracioso, Tomás Pinto Brandão, que, jogando do seu primeiro apelido, publicou um livro de versos com o título de Pinto renascido, empennado e desempennado (1732), o que mostra que já também êle estava convencido da metáfora onomástica.

Se na linguagem corrente acontece que uma palavra nobre decai na sua significação, e adquire sentido humilde, por exemplo escudeiro, acontece às avessas, que uma de estirpe modesta, recebe no processo do tempo significação elevada, como é o caso com Pinto."

Fonte: LEITE DE VASCONCELLOS, J. Opusculos, volume III. Coimbra/Portugal: Imprensa da Universidade, 1931, pág. 30-32.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Incidente com o cônsul norte-americano


"Na cidade do Rio Grande

CONFLICTOS E FERIMENTOS NO POLYTHEAMA - O JORNAL MARUI - PRISÃO DO CONSUL AMERICANO

Em a noite de 12 do corrente, na cidade do Rio Grande, antes de começar o espectaculo da companhia Furtado Coelho, que trabalha no Polytheama (representação do Mestre de forjas), o consul dos Estados Unidos ali residente, sr. Bekford Mackey, desfechou o revólver contra Tadio Amorim, proprietario do semanario caricato Marui.

O facto tem despertado vivo interesse entre a população rio-grandense, e admira-nos que o telegrapho não o tivesse communicado a esta capital.

✤✤✤✤✤✤✤✤

Os jornaes que temos á vista narram differentemente o occorrido, mas todos mostram-se sympathicos á causa do sr. Mackey, que é considerado e goza de todo o conceito entre a sociedade em que vive.

O Marui insultava constantemente áquelle representante de uma grande nação amiga, levando a injuria e a calumnia ao ponto de envolver até a familia, ausente, de quem vive em terra hospitaleira.

No dia da lamentavel occorrencia, o sr. Mackey vio-se tôrpemente atacado.

Á noite, foi ao Polytheama.

Estava sentado no salão quando entrou Thadio Amorim, que, segundo um collega do Rio Grande, dirigio provocações ao sr. Mackey.

Acto continuo, este aggredio-o, fazendo uso de uma fraca bengala.

Thadio repellio, tambem armado de bengala.

Então, o consul americano tirou do revólver e aturdidamente desfechou-o a queima-roupa sobre o homem que tanto o provocava.

Duas balas empregaram-se, e uma outra foi ferir em uma mão o sr. Porphyrio Alves da Silva.

Thadio tentou igualmente desfechar o seu revólver, mas foi contido por grande numero de pessoas.

Imagine-se quantas desgraças poderiam ter occorrido, na sala de um theatro litteralmente cheio.

Felizmente, além do desastre de que foi victima o cidadão Porphyrio, as muitas pessoas presentes não soffreram senão um grande susto.

✤✤✤✤✤✤✤✤

A policia que estava no Polytheama deu voz de prisão ao sr. Mackey, mas o sr. Luiz Fraeb, consul do imperio germanico, conduzio-o de braço.

Mackey compareceu immediatamente á presença da autoridade policial e entregou-se á prisão, sendo recolhido ao quartel do 17o. batalhão de infantaria.

Thadio, apezar de ferido, perseguio-o na rua, tentando assassinal-o.

Consta que o dr. juiz municipal do termo requereu a prisão d'esse individuo.

✤✤✤✤✤✤✤✤

O corpo consular, os representantes da imprensa, funccionarios publicos e grande numero de pessoas respeitaveis da localidade têm visitado o representante dos Estados-Unidos.

O dr. João de Miranda Sobrinho offereceu-lhe espontaneamente os seus serviços de advogado.

✤✤✤✤✤✤✤✤

Narramos os factos, rapidamente, conforme nol-os transmittem os dignos collegas da imprensa do Rio Grande.

Não os presenciámos, não conhecemos a folha de Thadio nem os seus habitos."

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 18 de Abril de 1885, pág. 01, col. 03

"RIO GRANDE

9 de Junho:

- Pelo tribunal do jury foi unanimente absolvido o cidadão Beckford Mackay, consul dos Estados-Unidos, ali residente, submettido a processo por haver tomado publicamente um desforço pessoal contra Thadio Amorim, pelas tôrpes aggressões que este lhe dirigio em um pasquim impresso.

Foi seu defensor o dr. Miranda Ribeiro.

Toda a imprensa dirige felicitações ao honrado funccionario estrangeiro - um moço de 23 annos - e toda a população exultou com o resultado do julgamento.

O cidadão Mackay recebeu as mais honrosas demonstrações de subito apreço e á noite foi alvo de uma enthusiastica manifestação.

Poucos dias demorou-se o sr. Mackay no Rio Grande depois do julgamento do jury, pois seguio para seu paiz natal no gozo de uma licença.

(...)"

Fonte: A FEDERAÇÃO (Porto Alegre/RS), 11 de Junho de 1885, pág. 01, col. 05


quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A fada de Natal de Strasburg


Um conto folclórico recolhido pelo escritor Frances Jenkins Olcott
Certa vez, há muito tempo, vivia perto da antiga cidade de Strasburg, no rio Reno, um conde jovem e bonito, cujo nome era Otto. Com o passar dos anos, ele permaneceu solteira, e nunca lançou um olhar para as donzelas justas do país; por esse motivo, as pessoas começaram a chamá-lo de "coração de pedra".
Por acaso, o conde Otto, em uma véspera de Natal, ordenou que uma grande caçada fosse realizada na floresta ao redor de seu castelo. Ele, seus convidados e seus muitos retentores seguiram em frente, e a perseguição se tornou cada vez mais emocionante. Ele atravessava matas e sobre trilhos sem trilhas da floresta, até que finalmente o conde Otto se viu separado de seus companheiros.
Ele seguiu sozinho até chegar a uma fonte de água límpida e borbulhante, conhecida pelas pessoas ao redor como o “Poço das Fadas”. Aqui o Conde Otto desmontou. Ele se inclinou sobre a primavera e começou a lavar as mãos na maré brilhante, mas, para sua surpresa, descobriu que, embora o tempo estivesse frio e gelado, a água estava quente e deliciosamente acariciada. Ele sentiu um brilho de alegria passar por suas veias e, ao aprofundar as mãos, imaginou que a mão direita era agarrada por outra, macia e pequena, que deslizava suavemente de seu dedo o anel de ouro que sempre usava. E eis! quando ele estendeu a mão, o anel de ouro se foi.
Cheio de admiração com este evento misterioso, o conde montou em seu cavalo e retornou ao seu castelo, resolvendo em sua mente que no dia seguinte ele teria o Poço de Fadas esvaziado por seus servos. Ele se retirou para seu quarto e como ele estava em seu sofá, tentou dormir; mas a estranheza da aventura o manteve inquieto e acordado.
De repente, ouviu o ruído rouco dos cães de guarda no pátio e depois o rangido da ponte levadiça, como se estivesse sendo abaixada. Então chegou ao ouvido o tamborilar de muitos pés pequenos na escada de pedra e, em seguida, ouviu indistintamente o som de passos leves na câmara ao lado do seu.
O conde Otto saltou de seu sofá e, ao fazê-lo, soou uma música deliciosa, e a porta de sua câmara foi aberta. Apressando-se para a sala ao lado, ele se viu no meio de inúmeros seres das Fadas, vestidos com roupas gays e brilhantes. Eles não lhe deram atenção, mas começaram a dançar, a rir e a cantar ao som de música misteriosa.
No centro do apartamento, havia uma esplêndida árvore de Natal, a primeira já vista naquele país. Em vez de brinquedos e velas, penduravam em seus galhos iluminados estrelas de diamante, colares de pérolas, pulseiras de ouro enfeitadas com jóias coloridas, pérolas de rubis e safiras, cintos de seda bordados com pérolas orientais e punhais montados em ouro e adornados com as jóias mais raras. A árvore inteira balançava, brilhava e brilhava no brilho de suas muitas luzes.
O conde Otto ficou sem fala, olhando para toda essa maravilha, quando de repente as fadas pararam de dançar e recuaram, para dar espaço a uma dama de beleza deslumbrante que veio devagar em sua direção.
Ela usava nas tranças negras um diadema de ouro cravejado de jóias. Seus cabelos caíam sobre uma túnica de cetim rosado e veludo cremoso. Ela estendeu duas mãos pequenas e brancas para o conde e se dirigiu a ele em tons doces e atraentes:

“Caro conde Otto”, disse ela, “eu volto para sua visita de Natal. Eu sou Ernestine, a Rainha das Fadas. Trago-lhe algo que você perdeu no Poço das Fadas.
E, enquanto falava, tirou do peito um caixão de ouro, cravejado de diamantes, e o colocou nas mãos dele. Ele abriu ansiosamente e encontrou dentro de seu anel de ouro perdido.
Levado pela maravilha de tudo, e vencido por um impulso irresistível, o conde pressionou a fada Ernestine em seu coração, enquanto ela, segurando-o pela mão, o atraía para os labirintos mágicos da dança. A música misteriosa flutuou pela sala, e o resto da companhia de fadas circulou e girou em torno da rainha das fadas e do conde Otto, e depois se dissolveu gradualmente em uma névoa de muitas cores, deixando o conde e sua bela convidada em paz.
Então, o jovem, esquecendo toda a frieza anterior em relação às donzelas do país, caiu de joelhos diante da fada e implorou que ela se tornasse sua noiva. Por fim, ela consentiu com a condição de que ele nunca pronunciasse a palavra "morte" em sua presença.
No dia seguinte, o casamento do conde Otto e Ernestine, rainha das fadas, foi celebrado com grande pompa e magnificência, e os dois continuaram a viver felizes por muitos anos.

Agora aconteceu uma vez, que o conde e sua esposa Fada caçariam na floresta ao redor do castelo. Os cavalos estavam selados e com freio, e de pé na porta, a companhia esperou, e o conde percorreu o salão com grande impaciência; mas ainda assim a fada Ernestine ficou muito tempo em seu quarto. Por fim, ela apareceu na porta do corredor, e o conde se dirigiu a ela com raiva.
"Você nos deixou esperando tanto tempo", ele exclamou, "que você seria um bom mensageiro para pedir a morte!"

Mal ele falou a palavra proibida e fatal, quando a Fada, proferindo um grito selvagem, desapareceu de sua vista. Em vão, o Conde Otto, tomado de tristeza e remorso, vasculhou o castelo e o Poço das Fadas, nenhum vestígio de sua bela esposa perdida, mas a marca de sua delicada mão colocada no arco de pedra acima do portão do castelo.
Os anos se passaram e a fada Ernestine não voltou. A contagem continuou a lamentar. Toda véspera de Natal, ele montava uma árvore iluminada na sala onde conhecera a Fada, esperando em vão que ela voltasse para ele. O tempo passou e a contagem morreu. O castelo caiu em ruínas. Mas até hoje pode ser visto acima do portão maciço, profundamente afundado no arco de pedra, a impressão de uma mão pequena e delicada.
E assim, dizem as boas pessoas de Strasburg, foi a origem da Árvore de Natal.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Christmas Cracker - uma tradição do Natal do Reino Unido


Christmas cracker é um elemento tradicional da ceia de Natal do Reino Unido e dos países de colonização inglesa - dentre eles, notadamente Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, mas também se encontra o costume na ilha vizinha da Irlanda, tanto no Ulster quanto no Eire - que consiste num tubo de papelão segmentado, embrulhado em um papel brilhante e decorado. No meio encontra-se um doce, mas também há os Christmas cracker que trazem brinquedos ou uma outra prenda qualquer. 

O "ritual" principal de abertura do Christmas cracker necessita duas pessoas, sendo que cada uma delas segura um dos lados e puxa com força. Ao abrir o Christmas cracker, uma delas será "premiada" e a outra ficará apenas com a parte vazia da embalagem. No movimento de abertura do Christmas cracker é emitido um estalo na fricção (graças à presença de fulminato de prata).

Uma pintura do artista norte-americano Norman Rockwell retratando a abertura do Christmas cracker, 1919.

A tradição do Christmas cracker tem uma origem precisa: sua invenção se deve ao padeiro e confeiteiro inglês Tom Smith (1823-1869). Para poder reverter a baixa na venda de doces e produtos de sua confeitaria, ele teve a ideia de inserir pequenas mensagens de amor nos invólucros de seus bombons, isso em 1847. Dois anos depois, ele substituiu os bombons por itens como brinquedos, bijuterias ou pequenos chapeuzinhos de papel. Por fim, em 1860, ele adicionou o estalido. Seus filhos deram continuidade à ideia do pai (constituíam uma família de confeiteiros industriais) e já na década de 1890 os Christmas Cracker estavam muito popularizados nas Ilhas Britânicas, bem como sendo exportados para os Estados Unidos, a Europa continental e o Japão.

Fontes da matéria:
http://projectbritain.com/holidays.html
https://www.historic-uk.com/
https://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page
https://www.whychristmas.com/


Feliz Natal 2019


Um Feliz Natal a todos os amigos, seguidores e visitantes do blog!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Sobrenome Osório


"A palavra Osório usa-se como apelido de família tanto em Portugal, como em Hespanha (aqui escrito por vezes Ossorio). Na província de Gerona há um lugar chamado San Pedro Osor.

Quanto a origem histórica, relativamente a Portugal, dizem os nossos Nobiliarios ou Livros de Linhagens, que ela está no vizinho reino, pois foi o Conde hespanhol Dom Osorio que 'veo a pobrar a Portugal'. Também Villasboas, na citada Nobiliarchia, pág. 309, afirma que os Osórios 'procedem do Conde Dom Osorio de Campos, no Reynado del Rey Dom Affonso VI de Leão'. Devemos porém dar pouca fé aos genealogistas, pois antes dêste Rei (1072-1109) há Osorius em documentos nossos, e não como apelido, mas como nome próprio, por exemplo: Osorius Lucidi, em 943, nos Dipl. et. Ch., pág. 30; Osoilo (simplesmente), em 1029, ib., pág. 163; Osorio Telliz, em 1043, ib., pág. 202. Do próprio tempo em que reinou D. Afonso VI, no séc. XI, temos Osoyro (1077), ib., pág. 332.

Quer do nome, quer do seu patronímico, há muitos exemplos em documentos, do séc. XI em diante: Osorit e Osoriz (1025), nos Dipl. et Ch., pág. 160; Osoriquiz (1077), ib., pág. 334; Osorizi (1081), ib., pág. 362; Monio (ou Monîo) Osóriz (1130), no Elucidario, s.v. 'censo'; Osorio Pelagii (1178), nos Docc. do Souto, pág. 4; Osoir'Eannes, trovador; D. João Usórez, 1308, a par de João Usoriz e D. João Osorio, na introdução de A. de Sá aos Estudos de Cartographia do V. de Santarem, vol. I, pág. LXXVI; Maria Osoyre ou Osórez, irmã de Sarrazinho Osórez, e D. Sancha Osorez, filha de D. Ozorio Anes: nos Nobiliarios, pág. 344 e 355, e 176.

Textos dos séculos XIII-XIV, do séc. XV, e do XVI mostram-nos já Osorio, ou suas variantes fonéticas, como apelido própriamente dito, e além disso precedido de de, o que testemunha origem geográfica, por exemplo: Orraca Nunes de Osoiro; Dona Maria d'Ozoiro; Jorge do Soyro, nome de um genro de Pero Vaz de Caminha; Rodrigo dOsoyro ou Rodrigo do Souro, nome de um neto; e bem assim Dioguo dOsouro, também escrito de Souro, do Souro, Diego Soyro, Diego de Ousoiro, Diogo do Sorio, o que tudo se refere a um mesmo indivíduo (almoxarife da Guarda). É muito conhecido o seiscentista D. Jerónimo Osorio, Bispo de Silves, e historiador; nas suas cartas, de que há um manuscrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, cód. do séc. XVI, no. 8920, fls. 56, lê-se porém: D. Jeronymo do Souro, com grafia igual a uma das que ficam mencionadas, e que interpreto por d'Osouro=d'Osorio.

Nos sécuos subseqüentes Osorio continua naturalmente a empregar-se como apelido, umas vezes com de, outras (em tempos mais modernos), sem essa preposição. O Invent. dos livros de matric. da Casa Real, vol. I, Lisboa 1911, correspondente aos anos de 1641 a 1681, menciona-se quinze vezes, aplicado a outras tantas pessoas. Nos Regist. paroc. da Sé de Tanger, Lisboa 1910, pág. 351, lê-se João Frz (=Fernandez) Dosoiro (=d'Osoiro), de 1642. Relativamente ao mesmo século XVII, e também aos XVIII e XIX, fala-nos o Diccionario Bibliogr. de Inocêncio & Aranha, t. XI, pág. 115, de onze autores portugueses (ou dez, se um é hespanhol, como parece) que usaram êste apelido. Com relação à actualidade, veja-se o Annuario Comercial, por exemplo, o de 1918, vol. I, pág. 652. Nem no Dicc. Bibl., nem aqui, aparece de. - Como notícia histórica, lembro que, tanto quanto me parece, Osorio tem sido sobretudo usado por pessoas de qualidade, pelo menos entre nós, e últimamente; o povo adopta-o pouco.

Do patrimònio Osorez, empregado do mesmo modo como apelido, conheço exemplos galegos dos sécs. XVIII e XIX (-XX): Gayoso Ariasa Ozores; D. Jaime Ozores de Prado: ambos os quais Ozores representa claramente Osorez.

Antes de passar à explicação etimológica, convem fazer algumas observações gráficas e fonéticas às fórmas mencionadas.

A diversidade de grafias de Souro, do Souro faz perguntar se Souro será de facto palavra independente, tanto mais que temos na toponímia moderna, Souro e Sourinho (diminutivo); mas a favor da interpretação de do Souro por d'Osouro está não só o escrever-se de várias maneiras, como vimos, ora do Souro, ou do Soyro, ora dOsouro, dOsoyro, etc., o nome de dois indivíduos (o almoxarife da Guarda, e o neto de Vaz de Caminha), senão também o terem sempre todos os nossos autores interpretado por Osorio o apelido do citado historiador e bispo, apesar de êle também aparecer escrito do Souro. A propósito dêste ùltimo acrescentarei, como confirmação, o possuir eu uma obra latina de D. Jerónimo Osório, De Gloria, impressa em Alcalá de Henares (Complutum) em 1568, portanto em sua vida (Osório faleceu em 1580, diz Barbosa Machado), na qual obra se lê Hieronymi Osorii Lusitani de Gloria; que Osorii não é tradução literal de d'Osouro ou d'Osoiro o mostra não só o privilégio de Felipe II, estampado no comêço, com Geronymo Osorio, mas um epigrama de Simão de Acuña ou da Cunha, também no comêço, ad clarissimum virum Hieronymum Osorium. Outro exemplo, posterior porém a 1568, no-lo dão as Constituições do bispado do Algarve, impressas em Évoraa em 1674: D. Hieronymo Osorio. As grafias Diego Soyro, Diogo de Souro, etc. são mera negligência de escribas: já nas Lições de Philologia, pág. 269, indique outros exemplos antigos. Às vezes nasceram de análogas negligências verdadeiros apelidos, como d'Ornelas, em vez de Dornelas; e Dantas em vez de d'Antas (desde o séc. XIII). A esta negligência ou plebeísmo gráfico corresponde no nosso caso algumas vezes grafia inversa, isto é, altamente literária: Hieronymo por Jerónimo. Em tôdas as coisas há modas, para não dizer também descuidos, e caprichos! - O topónimo Souro, de que falei anteriormente, nada tem, quanto a mim, com Osorio ou Osouro, que de mais a mais se pronuncia com s sonoro: seria origináriamente nome de homem, Saurus (cognome romano) ou Saurius (gentilício), de que Soure, ainda no séc. XIV (comêços) Souri representará o genetivo, isto é, Saurivel, Saurii (sc. villa). Sourinho tanto póde ser diminutivo de Souro, como estar por Soeirinho, conforme me lembrou o meu amigo Doutor Joaquim da Silveira, a quem me refiro em nota; cf. Souro-Pires (Soeiro-Pires) em Pinho Leal, Port. ant. e mod., IX, 436 e Souralvo e Souralva, explicáveis na mesma ordem de ideias.

Agora a fonética. Abstraindo dos genetivos, e do emprêgo de z por s, temos, evidentemente como fórma primitiva e normal, Osorio, desde o séc. XI, com veste latina Osorius, desde o séc. X; e depois Osoiro (variante Osoilo, num texto de 1029), com transposição das vogais terminais; Osouro, com -our-; Ousoiro, com ditongamento do O inicial. Todos estes fenòmenos são correntes em português: de -oiro, representação normal de -orio, nos dá outra amostra Vitóiro (em Braga há uma igreja de S. Vitoiro), de Victoriues; a par de -oiro, a língua vulgar diz -ouro, por exemplo, Douro e Doiro, de Dorius. Quanto ao ditongamento do O átono inicial (Ousoiro), êle, exceptuando certos falares populares, só aparece, que me lembre, em palavras de carácter literário, posto-que antigas: oucioso, oupiniam, etc.; essa fórma Ousoiro tenho-a por esporádica, ou meramente gráfica, própria do texto em que a vemos.

A explicação etimológica de Osorio foi já objecto de várias especulações.

Godoy Alcántara, Apellidos castell., Madrid 1871, pág. 176, relaciona Osorio, Osoyro com sutor, o que já foi combatido por Pidal, Cantar de mio Cid (Gramática), pág. 257, nota 1. Um amigo meu, também Hespanhol, diz-me em carta: 'Osorius puede lo mismo ser nombre personal latino o latinizado (cf. Sertorius, Honorius, etc., y en siglo X Odorius); su tema parece ser urs-', isto é, ursus; mas ursus, se deu oso em hespanhol, e osso em português antigo, não explica Osorio, nem fonética, nem morfológicamente (o -s- de Osorio, como já disse, é sonoro, ao passo que em osso temos um som surdo; e -orio não se junta a temas de origem zoológica). Em 1904, nas suas Romanische Namenstudien, I (Viena), pág. 16 e 82, relaciona Meyer-Lübke a palavra Osorius com o tema indo-germânico aus-, a que se juntaria a terminação de Honorius, criando-se assim um home híbrido: para se justificar, menciona aquele autor, de um lado Osoredus (=Oso-redus), Osgildus (=Os-gildus), do outro Odoriues (=Od-orius). Todos estes nomes aparecem em documentos medievais nossos. Von Grienberger, no exame que fez do trabalho de Meyer-Lübke no vol. XXXVII da Zs. f. deutsche Philologie, diz a pág. 541 que como base de Osorius podia ver-se o gótico -Us. Meyer-Lübke volta a ocupar-se de Osorius no fascículo 2o. (1917) da citada obra Romanische Namenstud., pág. 69-70, e cita a opinião de Schuchardt, que pergunta se em Osorius se conterá o nome biscainho oso, que significa 'inteiro', 'ileso', 'são'.

A etimologia não está pois ainda suficientemente esclarecida. As opiniões citadas permita-se-me juntar outra: não será Osorius metátese de Orosius, provocada pela terminação, mais corrente, -orius? Como é sabido, Osorius existiu na Península, no séc. V, como sobrenome de um historiador (Paulus Orosius); e já anteriormente a esta data houvera Orosius, vir Christianus, na Cilícia, e Orosius, prespiter Romanus."

Fonte: LEITE DE VASCONCELLOS, J. Opusculos, volume III. Coimbra/Portugal: Imprensa da Universidade, 1931, pág. 32-41.
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