"Conhecido como o primeiro caudilho rio-grandense, Sepé Tiaraju nasceu e viveu, combateu e morreu no território dos Sete Povos das Missões, na época pré-açoriana. Foi inclusive batizado com o nome cristão de Joseph. Naquela região a sociedade guarani já era bastante organizada e, embora houvesse por parte dos jesuítas espanhóis controle geral sobre as missões, havia eleições para os cargos de corregedor (prefeito), alcaides (vereadores) e chefes de vigilância (delegados de polícia). Sepé Tiaraju era corregedor da Redução de São Miguel e liderou as milícias indígenas contra as tropas luso-brasileira e espanhola na chamada Guerra Guaranítica, de 1754.
O conflito ocorreu por conta do Tratado de Limites de 1750, pactuado em sigilo pelos reinos de Portugal e Espanha. Tal acordo cedia a Colônia do Sacramento, nas proximidades de Buenos Aires, à Espanha em troca dos Sete Povos das Missões, situado nas margens do Rio Uruguai. Para isso, os habitantes das Missões deveriam desocupar a região e emigrar para outra localidade de possessão espanhola apenas com bens móveis e semoventes, deixando o patrimônio que construíram em 130 anos à Coroa de Portugal, sem qualquer tipo de indenização.
A região era habitada por cerca de trinta mil índios guaranis doutrinados por jesuítas espanhóis havia 150 anos e distribuídos em aldeias planejadas e por um território abrangente, dotado de um largo rebanho de gado. Líder da resistência, Sepé Tiaraju foi morto em combate na Batalha de Caiboaté às margens da Sanga da Bica, na entrada da cidade de São Gabriel-RS, durante a invasão das forças inimigas às aldeias dos Sete Povos. Em seguida, 1.500 guaranis foram exterminados diante das armas luso-brasileiras e espanholas.
Perecia o caudilho Sepé, mas nascia a lenda, cuja história heróica foi contada e espalhada por todas as regiões. No lugar da sua sepultura, os sobreviventes da hecatombe de Caiboaté ergueram uma grande cruz de madeira, símbolo eterno de sacrifício, com a seguinte inscrição, em idioma guarani: 'Em nome de todos os Santos. No ano de Cristo Jesus de 1756. A 7 de fevereiro morreu o corregedor guarani Sepé Tiaraju, num combate que houve num sábado. A 10 de fevereiro, numa terça-feira, feriu-se em uma batalha em que pereceram, neste lugar, 1.500 soldados e seus oficiais, pertencentes aos Sete Povos do Uruguai. A 4 de março mandou D. Miguel Mayná fazer esta cruz pelos soldados'.
Por sua bravura, Sepé Tiaraju foi canonizado pelo povo gaúcho como São Sepé e tornou-se uma referência na luta pela preservação da nação."
Fonte: CÂMARA DOS DEPUTADOS. A construção da memória nacional: os heróis no Panteão da Pátria. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010, p. 78-79.
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