Trecho extraído de: NEU, Márcia Fernandes Rosa. Os portos do sul do Brasil: da formação ao século XXI. São Paulo: Tese de Doutoramento do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Orientação: Prof. Dr. Armen Mamigonian), 2009, p. 74-75.
"No início do século XX, as autoridades governamentais sugeriram a organização e
contratação de uma empresa que reunisse capital estrangeiro e aporte técnico para a realização
das obras. Um acordo foi firmado com uma Cia. Francesa, e, em 1908, tiveram início as obras
de construção dos molhes do Rio Grande.
A proporção da obra foi comparada com a construção do canal do Panamá, tamanha a
organização de mão-de-obra e de infraestrutura que o empreendimento exigiu. Há, ainda, de se
considerarem os novos investimentos que foram realizados na cidade, por meio das
empreiteiras que se instalaram para a construção da obra.
Assim, o Porto Novo, construído no início do século XX, permitiu que embarcações
de maior calado pudessem atracar, e a microrregião do Rio Grande logo reagiu com o
crescimento econômico dos novos investimentos.
Em 1915, foi autorizada, pelo Governo Federal, a inauguração do primeiro trecho de
500 m de cais do Porto Novo, já com 3 armazéns para mercadorias, servidos por guindastes elétricos, 1 depósito para carvão, servido por transbordadores elétricos, linhas férreas, entre
outras infraestruturas essenciais para o funcionamento do Porto. A partir da inauguração, a Cia.
Francesa, autorizada a fazer tal investimento no Porto e explorar o resultado dele, começou a
arrecadar suas primeiras receitas.
No entanto, as taxas cobradas pela Cia. Francesa eram superiores às cobradas pelo
Porto de Montevidéu, o que atraía, cada vez mais, o comércio do Rio Grande do Sul. Quando
as obras da Barra e do Porto Novo estavam quase concluídas, o governo de Borges de
Medeiros percebeu as desvantagens da concessão à Cia. O Estado
firmou, então, com a empresa um convênio, prevendo a transferência de contratos com
alterações no contrato anterior. Em 1929, a Inspetoria Federal dos Portos afirmou que o
Governo do Estado assumiria a responsabilidade da conclusão das obras da Barra e sua
conservação, quando a União se comprometeu, também, em transferir ao Estado a arrecadação
da taxa de 2% em ouro sobre o valor da importação.
Nessas bases, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul assumiu a responsabilidade
pela Barra e Porto de Rio Grande, sendo autorizada, em 1918, a transferência dos contratos da
Cia. Francesa aos Governos do Estado, sob as seguintes imposições: 1) a União entregará ao
Governo do Estado as taxas cobradas, que serão exclusivamente, destinadas às despesas de
conservação das obras da Barra; 2) a União pagará a Cia. ao juro máximo de 6%, descontados
os pagamentos já realizados.
O Estado do Rio Grande do Sul indenizou a Cia. Francesa pela concessão do Porto do
Rio Grande, sem gerar nenhum tipo de protesto, dadas as vantagens que esta revogação gerou,
passando a exploração do Porto pelo Governo do Estado a ser feita a partir de 18 de outubro de
1919.
A partir de 1913, observou-se uma acentuada queda na movimentação do Porto do
Rio Grande, fato este que pode ser explicado pelas taxas elevadas, cobradas pela
Cia. Francesa, que impulsionou a utilização do Porto de Montevidéu. A queda na
movimentação certamente motivou ainda mais a Cia. a conceder a encampação ao Estado do
Rio Grande do Sul. Além disso, é importante lembrar que o mundo vivia um período de tensão
nas relações políticas e comerciais, período anterior à Primeira Guerra Mundial. Nota-se,
também, que as exportações triplicaram entre 1918 a 1919, possivelmente abastecendo de
produtos agrícolas (principalmente o trigo) e de produtos da pecuária (principalmente charque)
alguns países que estavam envolvidos no conflito mundial."
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